Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasileiros fazem fortuna com novas ideias na internet

Os brasileiros que fizeram mais sucesso no exterior, entre os nascidos nos anos 70, talvez tenham sido os atletas Ronaldo Nazário, o Fenômeno, e Gustavo Kuerten. Eles ainda são de uma época em que para ser jovem, famoso e rico era preciso ser ídolo em algum esporte, integrar uma banda de rock ou atuar em novelas. Tudo mudou com a nova geração, nascida no final dos anos 80 e começo dos 90, que praticamente se alfabetizou depois de a internet ter se popularizado. Entre esses jovens, dois brasileiros fizeram uma fortuna que estaria nos sonhos até mesmo de craques do Barcelona.

Eduardo Saverin foi o primeiro deles, ao transformar-se em cofundador do Facebook. Segundo a revista Forbes, ele integra a lista dos bilionários mundiais. Outro novo milionário do mundo digital é o brasileiro Mark Krieger, que estampou as capas do New York Times e do Wall Street Journal na semana passada, depois de vender o Instagram, um aplicativo de compartilhamento de fotos no celular, justamente para a gigante rede social. Por ter 10% da empresa, Krieger, criado num condomínio de Alphaville, ou brasileiro by birth, como ele se descreve no Twitter, tem agora cerca de US$ 100 milhões entre dinheiro e ações do Facebook, a nova proprietária do Instagram.

Em comum, os dois estudaram em algumas das universidades mais renomadas do mundo. Saverin se graduou em Harvard, onde fundou o Facebook com Mark Zuckerberg. Krieger é de Stanford, na Califórnia. Ele ainda vive no Vale do Silício, onde o cofundador do Facebook também já viveu. Muitos brasileiros dessa nova geração têm se mudado para os Estados Unidos em busca do sonho de conseguir o mesmo sucesso de Saverin e de Krieger. Como os dois, também ingressam em universidades de renome e acabam indo para a Califórnia não para surfar ou ser artista de cinema, como os jovens do passado, mas para tentar ser o próximo prodígio do mercado tecnológico, criando um produto que encante o mundo.

Uma carteira inteligente

No topo dessa lista está a brasileira Bel Pesce, que nasceu em uma família de classe média de São Paulo e estudou no colégio Etapa. Foi aceita no MIT e, de cara, precisou lidar com o seu primeiro problema: pagar a anuidade de cerca de US$ 40 mil. Como seus pais não podiam ajudá-la, ela trabalhou em empresas como Google, Microsoft e Deutsch Bank, além dos departamentos de Matemática e Economia do MIT e no prestigioso Media Lab.

Seus esforços renderam cinco diplomas daquela que talvez seja a mais renomada universidade na área tecnológica do mundo. Em quatro anos, Bel se graduou em Engenharia Elétrica, Ciências da Computação, Administração, Matemática e Economia, além de fazer vários cursos de Liderança e Inovação e participar de várias competições de Plano de Negócios. Mesmo antes de se formar, aos 19 anos, já havia criado o MeshPhone, um telefone celular para áreas rurais da África, e participou do desenvolvimento do Touchless, da Microsoft.

Hoje, Bel vive no Vale do Silício e comanda o Lemon, um aplicativo para celulares que serve para organizar os gastos. “Observamos que os smartphones mudaram o comportamento das pessoas de muitas maneiras”, disse Bel. Ela exemplifica: “Não há mais necessidade de carregarmos uma câmera, mas, por outro lado, ainda carregamos carteiras cheias de recibos, cartões e muito mais, por isso acreditamos que o celular poderá se transformar em uma carteira inteligente, com muito mais recursos.”

“É muito bom ver o Brasil fazendo bonito”

Segundo ela, isso não acontecerá da noite para o dia, por isso resolveu focar os esforços em um componente da carteira: os recibos. A ideia é facilitar a vida dos consumidores colocando todos esses comprovantes de pagamento em apenas um lugar. Lançado em outubro, o Lemon já possui cerca de 1 milhão de usuários e continua crescendo. Além disso, Bel está terminando um livro sobre empreendedorismo. “A versão digital do livro será distribuída gratuitamente”, disse. “Acredito piamente que empreendedorismo pode mudar vidas e também pode mudar o Brasil, então amaria se mais e mais pessoas entendessem que empreender é uma opção de carreira”, afirma.

Na sua avaliação, o MIT a ajudou, mas nem todos os jovens com sonhos nessa sua área precisam traçar o mesmo percurso. Segundo ela, muita gente tem um currículo bom no papel, mas não mostra emoção e disposição quando procura novas oportunidades. Por outro lado, há pessoas que tiveram menos oportunidades em educação, mas que demonstram criatividade e determinação para inovar e criam oportunidades inacreditáveis. “Qualquer um pode ter as mesmas chances que eu tive.”

Bel considerou acertada sua decisão de deixar empregos estáveis no Google e na Microsoft. “Cada pessoa tem as próprias prioridades, as suas tolerâncias ao risco, as suas metas de curto e longo prazos, e a resposta depende muito disso”, comenta. “No meu caso, valeu muito a pena, pois adoro motivar equipes, criar produtos, validar o mercado e começar projetos do zero. Mas é legal lembrar que você também pode trazer o espírito empreendedor dentro de grandes empresas. O que vale é ter iniciativa, criar ideias, fazer as coisas acontecerem”, diz.

“É muito bom ver o Brasil fazendo bonito por aqui, no Vale do Silício. Somos um grupo bem unido, nos encontramos. O pessoal realmente se ajuda muito aqui. Alguns dos meus maiores mentores são brasileiros que encontrei aqui no Vale e eles mudaram minha vida para sempre, com os seus conselhos.”

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[Gustavo Chacra, correspondente em Nova York do Estado de S.Paulo]