Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Facebook tem medo da internet

Não admira que Mark Zuckerberg tenha se comportado de modo tão defensivo na semana passada. Enquanto pagava US$ 1 bilhão para eliminar a ameaça que o Instagram representava para o Facebook, antigos gigantes da web passavam por momentos de humilhação. O Yahoo!, que revelou mais um plano de reorganização, e a AOL, que vendeu 800 patentes à Microsoft por US$ 1,1 bilhão, estão sob ataque dos fundos de hedge. As duas companhias têm valor de mercado equivalente a apenas uma fração do que atingiram durante a bolha de internet dos anos 1990.

O Vale do Silício foi sempre competitivo, mas as barreiras para o ingresso no boom das redes sociais, em seu estágio atual, são tão baixas, e o capital, tão abundante, que o processo de destruição criativa agora ocorre em ritmo acelerado. Se o Facebook, a caminho de lançar sua oferta pública inicial de ações, pagou US$ 1 bilhão para neutralizar o Instagram, qual será o valor do Pinterest, do Path e de outros serviços que ainda estão por ser inventados?

Porque o Instagram tem receita zero, é impossível determinar em que medida Zuckerberg exagerou na oferta por um único aplicativo, que tem roubado usuários ao Facebook. Sabemos o que ele teme – repetir o destino de muitas empresas de internet voltadas ao consumidor (entre as quais redes sociais como a Bebo, adquirida pela AOL em 2008 por US$ 850 milhões e vendida no ano passado por US$ 10 milhões). Elas podem ganhar milhões de usuários e conquistar imensos valores de mercado repentinamente – e implodir de maneira igualmente súbita.

O mais notável sobre a transação entre o Facebook e o Instagram é que a mudança de rumo tenha acontecido tão rápido. Em geral, uma empresa precisa estar operando como companhia de capital aberto há ao menos um ou dois anos e sofrer pressão de investidores para que comece a pensar defensivamente a adquirir concorrentes nascentes.

Um ambiente de hipercompetição

Depois, tem de decidir se vai integrar a nova aquisição às suas demais operações, o que acarreta o risco de arruinar a nova propriedade, ou se vai mantê-la separada. O Instagram caminhava para ser o maior serviço online de fotografia, o que ameaçava o domínio do Facebook sobre a veiculação de fotos, mas Zuckerberg não poderá simplesmente absorver a companhia.

“Trata-se de um marco importante para o Facebook porque pela primeira vez adquirimos um produto e empresa com tantos usuários. Não é algo que planejemos repetir muitas vezes”, prometeu. Mas o que acontecerá quando uma nova companhia iniciante começar a atrair a atenção dos usuários do Facebook? Já existem alguns exemplos, como o Path, rede social móvel para o iPhone e o Android; e o Pinterest, um site de fotos cujo foco é a moda.

Qualquer empresa de tecnologia que planeje permanecer no mercado precisa da capacidade de se defender via aquisições. Mas o fato de que o Facebook tenha feito isso antes de amadurecer revela algo de preocupante quanto à internet. A combinação de barreiras baixas à entrada, distribuição digital, companhias de capital para empreendimentos ávidas por investir, engenheiros de software ambiciosos e a oportunidade de ganhar bilhões geraram um ambiente de hipercompetição.

Ameaças ao domínio

Mas nenhuma companhia está segura. Warren Buffett é famoso por sua aversão a investir em tecnologia, porque esse tipo de investimento é imprevisível. Os serviços ao consumidor na internet contam com as muralhas mais fáceis de derrubar. A proteção do Facebook é o efeito de rede propiciado por seus milhões e milhões de usuários, mas a ascensão do Instagram e a derrocada do MySpace e de outros serviços demonstram o quanto isso é frágil.

Zuckerberg tem evitado, até o momento, as armadilhas ao conduzir a ascensão de sua empresa com inteligência, recuando de seus erros com rapidez suficiente para não alienar os usuários. Mas o crescimento do Facebook se desacelerou nos EUA e parece claro que ele começou a se preocupar com as ameaças ao domínio de sua empresa.

O Instagram era uma, mas há outras. A internet tem o desagradável hábito de consumir suas empresas maduras – o Yahoo!, fundado em 1994, demorou 18 anos para chegar à sua situação atual. O Facebook terá sorte se durar tanto tempo.

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[John Gapper é editor-associado e colunista do Financial Times, jornal em que este artigo foi publicado originalmente]