Foi publicado em fevereiro o Relatório de Tecnologia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) intitulado “Technology and Child Development: Evidence from the One Laptop per Child Program 2012”. O documento traz algumas evidências sobre os efeitos de ordem prática, de leitura e cognitivos dos programas One Laptop per Child (OLPC) ou Um Computador por Aluno (UCA) implementado em alguns países. O Programa está em 36 países, com distribuição não homogênea, sendo mais de 2 milhões de laptops distribuídos, com custos que variam $200 a $555.
Destaque para o Peru, que apresenta um estudo realizado em 319 escolas, que foram dividas em dois grupos, sendo o primeiro (grupo de tratamento) com 209 escolas que receberam o UCA e o segundo (grupo de controle) com 210 escolas onde os computadores não foram implementados. O relatório informa que houve aumento no número de acesso à internet tanto na escola quanto em casa por meio dos laptops. Contudo, o experimento não percebeu melhoras significativas na aprendizagem das disciplinas, principalmente matemática, na linguagem escrita e oral. Também não foram percebidas influências do programa no relacionamento com a leitura em nenhum dos dois grupos. Sendo que no grupo de tratamento, os laptops continham 200 livros para download. Como saldo positivo o estudo mostrou melhoras quanto ao traquejo na utilização com a tecnologia no grupo de tratamento (escola com UCA implementado).
Exemplo da Argentina
Este resultado, que também foi noticiado por João Mattar, não me surpreende tanto. Venho pesquisando sobre a relação do sujeito com o computador e a internet, procurando observar evidências de melhoras cognitivas e sociais, e estou a cada resultado mais convencida que a mediação é relevante. A mediação humana é ainda muito importante na relação com as tecnologias, principalmente quando se tem objetivos educacionais e de inclusão social embutidos na proposta. A disponibilização de computadores e internet sem alinhamento objetivo e concreto com a formação dos professores, monitores, tutores e ao currículo ou proposta pedagógica não podem fazer mágica.
Contudo, penso que os dados do IDB com respeito ao Peru representam um resultado extremamente relevante e que deve ser observado como parcial ou primário dentro de uma perspectiva de longo prazo. O programa foi analisado após 15 meses de sua implementação no Peru. Também deve ser comparado com outras experiências de implementação do UCA em outros países, a exemplo do Conectar Igualdad da Argentina, que tem apresentado resultados positivos.
Documento citados:
– IDB ; – Conectar Igualdad ; – João Matar; – Abordagem cognitiva da inclusão digital.
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[Barbara Coelho Neves é professora de pós-graduação, Salvador, BA]