Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

De rede em rede, ficamos antissociais

Sou a favor das inovações tecnológicas, das extensões proporcionadas pelas redes telemáticas e principalmente da democracia existente nas redes sociais. Há algumas décadas, as formas de comunicação a distância, além da baixa qualidade, custavam caro, muito caro. Quem não se lembra do preço cobrado por uma linha telefônica? Nesse tempo, as fichas e os orelhões faziam muito sucesso. Por outro lado, quando alguém necessitava do correio, deveria enviar sua correspondência com, pelo menos, um mês de antecedência se quisesse parabenizar ou convidar alguém para algum evento, caso contrário corria o risco de a mensagem não chegar a tempo.

A evolução da internet, juntamente com a dos internautas, trouxe uma infinidade de possibilidades. É possível manter contato com pessoas de qualquer parte do planeta com um custo muito mais baixo. Além do compartilhamento de sons, vídeos e imagens, as ideias se propagam muito mais rapidamente, despertando o senso crítico da população. Hoje, também já é possível pagar contas, fazer encomendas, marcar consultas, manter um relacionamento, agendar entrevistas de emprego e até cursar uma faculdade sem precisar manter contato físico com outros e/ou sem sair de casa. Tudo, apenas utilizando os mecanismos proporcionados pelos veículos da comunicação que, além de populares, se tornaram indispensáveis às sociedades. De fato, com tantas inovações os impactos nos bolsos diminuíram bastante, porém a sociedade vem pagando e poderá pagar um preço bem mais caro por toda essa nova dinâmica.

Observe que a cada dia estamos sendo obrigados a nos adaptar às novas formas de emissão e recepção de mensagens. Os nossos olhos, mãos e mentes estão sendo submetidos, a cada instante, a novas formas de percepção, inaugurando, assim, novos costumes e vícios. O e-mail rapidamente transformou-se em MSN, permitindo umcontato imediato entre emissor e receptor; logo em seguida, explodia no mundo o número de redes sociais.

“Compartilhar” em vez de abraçar

No Brasil, o Orkutteve um reinado até longo, se tratando de conteúdo do ciberespaço;depois chegou a vez do Twitter, aproximando os ídolos de seus fãs e vice-versa; e agora vivenciamos a saga do Facebook,que compartilha tudo de todos a todo instante. É como uma grande aldeia indígena, todos estão irmanados, porém de modo isolado. E é justamente para esse isolamento que chamo a atenção.

É claro que o mundo tende a evoluir e sabemos que a informática e os seus atributos já estão enraizados em nossas sociedades através de seus milhares de tentáculos ópticos. Entretanto, as práticas sociais têm se alterado rapidamente, deixando-nos reféns de tantas referências. Os trabalhos de faculdade estão se tornando inexpressivos, seja pela facilidade de acesso às bibliografias universais, seja pela fatídica realidade do Ctrl + C, Ctrl + V, crianças brincando nas ruas só são vistas nos bairros periféricos, e isso quando os pais não pagam uma “horinha” nas lan houses da esquina, rodasde amigos com o tradicional violão foram substituídas pelos irritantes MPs (3, 4, 5 e 10…), o namoro foi dividido entre o mundo real e o status presente na rede virtual e até a seleção de empregos por algumas empresas tem sido feita por sistemas computadorizados. Onde está o olho no olho? Como aferir a proatividade de uma pessoa através de uma tela? É possível manter um real contato com outro apenas por meio de uma rede social?

Essas perguntas têm várias saídas. Podem alegar as facilidades, os benefícios e as muitas vantagens da web, mas todos devem concordar que o distanciamento físico entre as pessoas tem aumentado absurdamente e, junto a este, a noção de sociedade humana tem migrado para a noção de sociedade digital. Não sei afirmar se tudo isso será ruim, mas tenho certeza de que, em se tratando de seres humanos, não iremos querer passar os próximos anos de nossas vidas apenas “curtindo”, sentados em cadeiras na frente de um computador, “comentando” com as mãos aquilo que podemos fazer muito bem com a boca e “compartilhando” dados eletrônicos, em vez de abraços, afetos e amassos.

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[Jeremias Barreto, assessor de imprensa, Itabuna, BA]