Houve duas grandes ilusões sobre a economia norte-americana na primeira década do século 21. Uma era a ideia de que o preço das casas não era mais ligado às tendências econômicas normais e continuaria a subir ilimitadamente. A segunda foi a ideia de que, na era da web 2.0, estávamos bem perto de descobrir como ganhar muito dinheiro com a internet.
A primeira ideia desabou com os preços das casas e com os mercados de ações, em 2007 e 2008. Mas a ilusão da web 2.0 sobreviveu por tempo suficiente para custar uma pequena fortuna a investidores crédulos, como resultado da desastrosa oferta pública inicial de ações do Facebook.
Confessarei certo prazer amargo diante do tropeço do Facebook, classificado pela Bloomberg Businessweek como “o maior fiasco da década” depois de apenas cinco dias em pregão. De todos os grandes polos de entusiasmo da era da internet, o site de Mark Zuckerberg sempre me pareceu um dos mais nocivos, dependente dos aspectos mais sombrios da vida online: o apego à autopromoção e à criação de fachadas e a busca de formas virais de “comunidade” e “amizade” que apresentam semelhança apenas passageira com os itens genuínos – para não mencionar a invasão de privacidade em busca de verbas publicitárias.
Limitações
Mas mesmo um leitor que ame o Facebook deveria entender seu fracasso no mercado de ações como sinal das limitações comerciais da web. O problema não é que o Facebook não ganhe dinheiro, mas sim que não ganhe tanto dinheiro assim, e não tenha um modo evidente de aumentar seu faturamento, porque (como muitas companhias online) ainda não descobriu como monetizar de maneira efetiva seus milhões e milhões de usuários.
O resultado é uma companhia de sucesso, mas cujos números impressionam bem menos do que sua onipresença na internet sugeriria. Esse problema do “alcance imenso, lucratividade limitada” é característico da economia digital como um todo. Como escreveu Tyler Cowen, professor de economia na Universidade George Mason, a internet é uma maravilha no que tange a gerar “diversão barata”.
Mas, como “tantos de seus produtos são gratuitos” e boa parte do trabalho é executado “de forma mais ou menos automática por software e servidores”, o mundo online é menos impressionante quando se trata de gerar empregos.
Bens não virtuais
É revelador, quanto a isso, que as empresas mais citadas como grandes sucessos da era digital, a Apple e a Amazon, adotem modelos de negócios que têm raízes firmes na produção e na distribuição de bens não virtuais. A competência central da Apple é criar aparelhos melhores e mais bonitos; a da Amazon, entregar todo tipo de produto, com mais rapidez e a preço mais baixo, diretamente ao consumidor.
Em contraste, quanto mais puramente digital for o produto de uma empresa, menos empregos ela tenderá a criar e menos dólares de faturamento por usuário ela propiciará – realidade contra a qual os investidores no Facebook colidiram. Do conteúdo mais simplório ao mais sofisticado, dos vídeos engraçadinhos à Wikipédia, volume imenso de conteúdo de internet é criado por pessoas que não têm expectativa de remuneração.
A “nova economia”, nesse sentido, nem sempre é uma economia comercial. Em lugar disso, como sugeriu Matthew Yglesias, da Slate, ela representa uma espécie de “paraíso do hobby”, subsidiado pelos excedentes da velha economia à qual deveria gradualmente substituir. A despeito de quase duas décadas de entusiasmo pelas companhias de internet, o setor continua relativamente pequeno diante de outros. No momento, tem o maior índice de desemprego do país.
Nada disso torna a web menos revolucionária. Mas a revolução que ela criou é mais cultural que econômica. O Twitter não é a Ford. O Google não é a General Electric. E, exceto quando vende nossas visitas a anunciantes por um precinho camarada, poucos de nós trabalharemos para Zuckerberg no futuro previsível.
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[Ross Douthat, do New York Times]