O fracasso das ações do Facebook após a estreia na bolsa trouxe temores de que podemos estar diante de uma nova bolha, como a ocorrida no início dos anos 2000, quando os investidores exageraram nas estimativas de resultados das companhias de internet e, como consequência, no preço justo. Mas por que é tão complicado avaliar empresas de internet?
Com a queda aproximada de 29% dos papéis do Facebook desde a abertura de capital, em maio, renasceram dúvidas sobre como avaliar o modelo de negócio de companhias cujas atividades são baseadas na internet. Analistas indicam o excesso de ações ofertadas e o preço elevado como as causas para o insucesso da abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) do Facebook. Essas são as razões fáticas, mas o grande motivo, no meu entender, é a ausência de uma métrica confiável para avaliar tais empresas. Vejamos:
1) Análise gráfica – a ausência de um histórico de cotações das companhias novatas torna a metodologia sem utilidade.
2) Múltiplos – como os resultados operacionais atuais são ainda modestos comparados aos valores de mercado (total de ações multiplicado pela cotação), os múltiplos são muito elevados. De acordo com estimativas de consenso dos analistas captadas pelo sistema de análise fundamentalista S&P Capital IQ, o múltiplo P/L (preço por lucro) do Facebook com base no resultado de 2012 é de 50,2 vezes. O indicador só ficaria palatável em 2017, quando alcançaria 11,7 vezes. As ações do LinkedIn apresentam múltiplos ainda mais caros, P/L 2012 de 133,3 vezes e de 72,8 vezes em 2013. Esses valores não fazem sentido para a avaliação.
3) Fluxo de caixa descontado – Neste método, o preço justo baseia-se em trazer a valor presente, mediante uma taxa de desconto, a geração de caixa da companhia para os próximos anos. Contudo, o fluxo de recebimentos das empresas ainda é pequeno ou negativo. Logo, boa parte do valor justo se encontra no longo prazo. Quanto mais distante do presente, mais incertas são as estimativas sobre o negócio.
A difícil batalha do Facebook
Outra fragilidade do modelo de negócios é a concentração da receita oriunda de publicidade e propaganda. Como esses gastos são cíclicos, obedecendo ao ritmo da atividade econômica, essa característica traz sazonalidade aos resultados das companhias de web, o que também aumenta o risco do negócio.
Além disso, ainda há dúvidas de como atrair o anunciante para a internet. Situação inusitada aconteceu no lançamento do modelo Focus, da Ford, nos Estados Unidos. Vale a pena ler a reportagem “Empresas não curtem gastar na internet”, do Wall Street Journal, publicada no Valor em 08/11/11. A campanha do novo modelo foi ancorada em um boneco laranja chamado Doug. A montadora criou um perfil para o personagem no Facebook e adicionou vídeos engraçados. A ideia teve excelente aceitação, inspirando 43 mil usuários a clicar no “curtir”. Embora a Ford tenha destinado US$ 95 milhões para promover o novo carro, o Facebook – o verdadeiro responsável pelo sucesso do personagem – amealhou apenas pequena fração dos gastos totais com propaganda. Comenta-se que apenas 2%.
Segundo a consultoria comScore Inc, a maioria dos anúncios do Facebook é de grupos menores, como companhias regionais ou websites de pequeno porte. A meta da empresa é abocanhar o tipo de anunciante que promove campanhas na TV, rádio e mídia impressa. Mas conclui a reportagem: “A campanha com o boneco Doug revela como é difícil a batalha do Facebook.”
Investimento de risco é o termo apropriado
Outro risco para o segmento é que, embora a internet tenha democratizado o conteúdo, os principais players do setor são oligopolistas. A ascensão de um representa a derrocada do competidor. Veja o Google, que desbancou o Netscape como navegador e o Yahoo como site de busca. Ou o próprio Facebook, que destronou o Orkut como principal site de relacionamento. A inovação tecnológica acelerada torna o modelo de negócio mais volátil e incerto. Se já é difícil estimar o faturamento de uma companhia da economia real cinco anos à frente, imagine projetar o de uma companhia de internet.
O termo investimento de risco é mais do que apropriado para as empresas da web.
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[André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa]