Inovações revolucionárias como o rádio, o avião, a televisão, o computador, o celular ou a internet levam, quando são anunciadas, cientistas e visionários a fazer previsões utópicas sobre seu impacto. Roquette-Pinto, um dos pioneiros do rádio no Brasil, ao prever a influência da nova tecnologia sobre a vida humana, anteviu um novo mundo de progresso e cultura. Em seu discurso na inauguração da primeira emissora do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923, ele disse:
“A paz será realidade entre as nações. Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente o conforto moral da ciência e da arte. Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas que transportarão, no espaço, silenciosamente, as harmonias. Que incrível meio será o rádio para transformar um homem em poucos minutos, se o empregarem com alma e coração.”
Hoje, algumas previsões utópicas se repetem sobre o futuro da quarta geração do celular (4G). Não há dúvida de que seu impacto poderá superar tudo que conhecemos até aqui em matéria de mobilidade e velocidade de transmissão de dados. Mas é bom conhecer também os limites e os pré-requisitos para que seus resultados sejam, realmente, os melhores. Façamos antes um retrospecto das três primeiras gerações do celular.
O nascimento da 1G
A rigor, a telefonia móvel celular nasce no Japão em 1979. Dois anos depois, em junho de 1981, a Suécia inaugura seu primeiro sistema celular, nas maiores cidades do país. O telefone celular de então, totalmente analógico, tem o tamanho de uma maleta de viagem, pesa mais de 10 quilos e sua bateria só permite 30 minutos de conversação.
Com outros jornalistas, faço, então, minha primeira ligação de um telefone celular.
Em 13 de outubro de 1983, assisto a outro evento histórico: o lançamento do primeiro serviço de telefonia celular das Américas, pela antiga AT&T, em Chicago. E no final de 1990, Brasil inaugura sua primeira rede de telefonia celular, no Rio de Janeiro, para apenas 667 assinantes da Telerj, operadora estatal do Sistema Telebrás.
Celular de US$ 22 mil
No início de 1991, como a demanda é muito superior à oferta, a Telerj passa a exigir dos interessados no serviço um depósito-caução equivalente a US$ 22 mil, que só é devolvido aos assinantes ao final de dois anos, sem juros. Mesmo assim, acreditem, a velha Telerj consegue vender dois mil celulares.
Brasília torna-se em 1991 a segunda grande cidade brasileira a ter telefonia celular. No dia 6 de agosto de 1993, chega a vez da cidade de São Paulo, sexta capital a contar com a telefonia móvel, da Telesp Celular. A competição começa em 1998, com as operadoras privadas da Banda B.
As gerações 2G e 3G. Com tecnologia 100% digital, padrão TDMA (sigla em inglês de Acesso Múltiplo por Divisão de Tempo), a BCP inicia operação na Grande São Paulo em 1998. É o primeiro serviço de segunda geração (2G).
O crescimento da oferta de celulares se torna explosivo com a privatização do Sistema Telebrás, ocorrida em 29 de julho de 1998, e o aumento da competição. Nesse período, o número de celulares em serviço no País salta de 5,2 milhões para os atuais 255 milhões. E essa rede ainda cresce a 20% ao ano.
A terceira geração (3G), implantada em 2008, mesmo com a oferta de novos recursos digitais e da banda larga, não tem agradado à maioria dos usuários: 63% deles consideram esses serviços “ruins ou péssimos”, segundo pesquisa da consultoria Teleco.
Essa percepção tão negativa do serviço decorre, acima de tudo, da frustração de suas expectativas, em especial com as baixas velocidades ofertadas, que mal chegam a 10% do que é contratado. A qualidade medíocre é agravada, também, pelo congestionamento das redes – insuficientes para atender ao número crescente de assinantes.
O sonho da 4G
Para os especialistas, a promessa da 4G é incrivelmente positiva, já que ela nos dará acesso à internet a velocidades 50 vezes maiores do que a média oferecida pela 3G, ou seja, entre 50 e 100 megabits por segundo (Mbps).
Embora pareça sonho, o potencial da 4G supera tudo que já vimos em matéria de comunicações em banda larga. Tive a oportunidade de assistir a demonstrações experimentais e de laboratório que comprovam o potencial da 4G.
Mas, para que tudo isso venha a acontecer da melhor maneira no mundo real, será necessário muito investimento na nova infraestrutura e na atualização tecnológica das redes. E, vale lembrar, os melhores resultados só virão a longo prazo. Até agora, menos de 3% dos telefones do mundo são 4G.
O primeiro desafio até à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016 é saltar dos 3,6 ou 7,2 megabits por segundo (Mbps) teóricos e nunca alcançados de hoje para velocidades efetivas de 5, 10 ou 14 Mbps. De qualquer forma, A maturação da 4G só ocorrerá por volta de 2020. Até lá, o Brasil viverá a primeira etapa do processo, a chamada LTE (sigla em inglês de Evolução de Longo Prazo). A verdadeira 4G só será alcançada no patamar de 50 a 100 Mbps.
O que esperamos agora é que, com a 4G, tudo seja diferente e que o Brasil possa usufruir todos os benefícios da nova tecnologia. Para isso, é essencial que as operadoras invistam o máximo possível, dimensionem corretamente a infraestrutura e nos assegurem a melhor qualidade de serviço.
***
[Ethevaldo Siqueira é colunista do Estado de S.Paulo]