O tema da conduta nas redes sociais está longe de ter um fim (se é que vai ter, um dia). Antes da popularização da internet, a TV já foi palco de polêmicas e rejeições envolvendo políticos, artistas etc. Podemos relembrar, por exemplo, as vaias em Chico Buarque nos Festivais de Música Popular Brasileira (TV Record, anos 1960), ou quando o então presidente da República, Fernando Collor (início anos 1990), proferiu na TV que “tinha aquilo roxo” numa alusão a uma suposta coragem de enfrentar os dissabores políticos, os inúmeros bate-bocas protagonizados pelo ex-apresentador de TV, ex- deputado federal Clodovil Hernandez (in memorian) etc. Portanto, polêmica e mídia sempre caminharam juntas.
Entretanto, com a convergência das mídias as polêmicas repercutem na TV e em seguida na internet ou vice-versa e com a febre das redes sociais, notícias importantes ou não, fofocas e dramas são compartilhados atingindo milhões de internautas em poucas horas. Daí, surgem os memes (exemplos também não faltam: Luiza no Canadá; Para a nossa alegria; Que deselegante! etc.) disseminados indiscriminadamente na rede. É importante destacar que algumas atitudes midiatizadas são propositais, como no caso de Rafinha Bastos, que sempre buscou polemizar, fazer barulho, atrair mídias. Porém, o que parece é que o humorista tem exagerado a dose e esquece o risco da auto-exposição exagerada e que existe uma enorme diferença em fazer uma piada de gosto duvidoso em seu círculo de amigos mais próximos e em fazê-la num veículo como a TV. Incluindo-se aí a extensão do conteúdo para a internet. Ou seja, o que num primeiro momento parecia apenas uma piada de mau-gosto, amplia-se de forma desmedida, adquirindo novas facetas, tornando-se objeto de julgamento popular não só a piada, mas o seu autor também.
A rede é espaço livre
Em outros casos, no que se refere ao Twitter e Facebook, parece que algumas pessoas perdem a noção de tempo, espaço e bom-senso e ao fazer uso dessas ferramentas às vezes erram no tom de uma crítica, não levando em consideração a proporção que a mesma tem nas redes sociais e que não teria no mundo presencial. Um exemplo: em 2010, a cantora Gal Costa reclamou no Twitter que o técnico de ar-condicionado tinha cancelado a visita à sua residência. Até aí tudo bem. Mas Gal completou sua queixa dizendo que baiano era tudo preguiçoso. Não deu outra. O perfil da cantora foi alvo de críticas de todos os tipos – umas até relembravam que a mesma, por ser baiana, não deveria falar assim do seu povo. Resultado: a cantora, não suportando as críticas, cancelou sua conta no Twitter.
Outras pessoas usam as redes sociais para resolver briguinhas, falar mal dos outros etc. Quem não se lembra quando a paulista e estudante de direito, Mayara Petruso, disse no Twitter que os nordestinos mereciam ser afogados? O contexto desse absurdo é o da eleição em que Dilma se elegeu presidente, fato atribuído pela estudante aos nordestinos. Em outras situações, Facebook e Twitter servem como divã em que as pessoas expõem suas características mais íntimas, seus preconceitos e, dessa forma, se colocam à mercê da opinião e julgamento alheios de pessoas que na verdade nem são tão íntimas assim, quando muito são apenas contatos.
As redes sociais, quando bem utilizadas, são ótimas ferramentas de interação, aproximação (diferentemente do que se acreditava antes, que a interação virtual afastava as pessoas), de mobilização social (usadas para campanhas etc.). Vale ressaltar, no entanto, que frases infelizes e disputas de ego acontecem em todas as formas de interação, virtual ou presencial. Não podemos atribuir às redes sociais esses equívocos. Em minha opinião, só é preciso um pouco de prudência no uso para não correr o risco de ser mal interpretado ou preconceituoso, já que as mensagens compartilhadas podem tomar rumos e contornos imprevisíveis. Porém, se você não se importa de correr estes riscos, adiante. A rede ainda é um espaço livre.
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[José Glaydson Pereira de Souza é estudante de pós-graduação em Comunicação, Campina Grande, PB]