O Google deu mais um passo na direção de integrar seus serviços nesta semana, com o lançamento do Gmail Field nos países de língua inglesa. Ainda em fase de testes, a ferramenta permite aos usuários exibir resultados de sua caixa de entrada do Gmail nas buscas do site. Como a gigante de internet utiliza as informações coletadas em seus diferentes produtos, no entanto, ainda é uma questão ignorada pelos usuários.
A avaliação é do economista norte-americano Scott Cleland, autor do livro Busque e Destrua: Por que você não pode confiar no Google Inc.. A obra, lançada em junho no Brasil, faz críticas às políticas de privacidade e às práticas de mercado do Google. Cleland afirma que a combinação dos dados obtidos em suas diferentes ferramentas permite à empresa saber “tudo sobre alguém”.
Leia a seguir trechos da entrevista de Cleland à Folha.
“Os usuários que escolham se querem ter privacidade ou não”
A integração dos serviços é, por si só, uma ameaça à privacidade dos usuários?
Scott Cleland– O grande problema não é a coleta de dados, mas o fato de que a empresa não informa o que está fazendo com eles. Quando você combina informações de dúzias e dúzias de serviços, você pode saber virtualmente tudo sobre alguém. O problema da nova política de privacidade do Google, anunciada em janeiro, por exemplo, é que eles não informavam se combinariam as informações coletadas dos usuários – e agora eles estão fazendo isso.
Houve algum avanço nessa questão, após o questionamento de governos, como a União Europeia?
S.C.– Acho que isso ainda vai levar um tempo para ocorrer. Mas acredito que podem haver melhorias. A principal seria permitir que os usuários escolham se querem ter privacidade ou não, se querem ser rastreados ou não. Veja o caso das pesquisas personalizadas. Hoje, não existe a opção de o usuário ter ou não um resultado customizado. Isso deveria ser aberto e transparente, se quisermos que a privacidade seja respeitada.
“União Europeia questionou a nova política do Google”
O avanço dos dispositivos móveis torna essa discussão mais urgente?
S.C.– A mobilidade traz enormes ameaças à privacidade. Com ferramentas de geolocalização, é possível saber onde você vai e quantas vezes vai ao longo do dia. O Google também quer colocar sistemas de reconhecimento facial em seu sistema operacional Android. O risco é que toda essa informação, bastante íntima, chegue às mãos erradas e coloque a segurança das pessoas em risco.
Você percebe tratamentos diferentes nos países na discussão sobre privacidade na internet?
S.C.– Vemos um posicionamento mais duro da União Europeia, que questionou a nova política de privacidade do Google em janeiro. Acredito que essa visão irá orientar outros países no debate.
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[Marianna Aragão, da Folha de S.Paulo]