Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Facebook sofre com falta de confiança

É verão no hemisfério Norte e as ações do Facebook estão tão paradas quanto o ar. Os investidores estão obcecados com tudo o que não está indo bem na rede social. Mark Zuckerberg não encontrou uma maneira de ganhar dinheiro com smartphones. De sua base total de quase 1 bilhão de contas ativas, vários milhões são duplicatas, segundo a empresa. Além disso, outros poucos milhões de contas podem, na verdade, representar empresas ou robôs de software automático – ou até animais de estimação. Os funcionários estarão em breve liberados para vender suas ações em massa. Os altos executivos estão saindo.

Não muito tempo atrás – três meses, na verdade – investidores viam oportunidades ilimitadas no Facebook e em suas irmãs de rede social Zynga e Groupon. Para o Facebook, especialmente, o proverbial copo não estava meio cheio, estava transbordando. A empresa, certamente, tinha problemas, mas os investidores estavam ansiosos por fazer a aposta de longo prazo de que Zuckerberg estava montando o “próximo Google”. Quando a ação alcançou a cotação de US$ 45, em seu primeiro dia de transações, em maio, a opinião dominante começou a mudar. Desde esse pico, o preço dos papéis despencou para aproximadamente US$ 20, e a Oferta Pública Inicial (IPO, pelas iniciais em inglês) se tornou um símbolo de excesso de confiança e de loucura.

Para o economista Robert Shiller, da Universidade de Yale e autor de Irrational Exuberance, a alucinação em massa ficou evidente quando um pintor que ele contratou para pintar sua sala de jantar comprou ações depois da IPO. “Essa decisão de comprar papéis do Facebook não foi uma decisão de investimento”, disse Shiller. “Foi a decisão de ser mais do que apenas um pintor. Agora ele se sente humilhado por ela.” Shiller acrescenta: “As pessoas não entendem que estão sendo colhidas por um clímax de atenção pública.”

A satisfação com a desgraça alheia

Esse é um fenômeno milenar: uma bolha incha até que a compreensão de algo evidente a estoura. Durante a era das pontocom, uma década atrás, o grande estouro ocorreu no segundo trimestre de 2000, após uma série de artigos céticos sobre avaliações de empresas de internet. Para o Facebook, o ponto de inflexão foi inusitadamente claro: durante a semana da oferta, ele elevou o número de ações e aumentou o preço inicial para US$ 38.

Essas medidas podem ter sido decisões racionais para maximizar o dinheiro captado na IPO. Mas, juntamente com os problemas técnicos que se seguiram na oferta na Nasdaq, as iniciativas plantaram sementes de ansiedade das quais brotou o pânico consumado. De repente, as bem-documentadas dificuldades do Facebook assumiram uma importância muito maior. Cada anúncio divulgado nos poucos meses que se seguiram, sobre a desaceleração do crescimento da publicidade ou o uso de aplicativos móveis, passou a ser visto através de uma lente muito mais pessimista. Agora, muitas pessoas parecem torcer animadamente pela aparição de novas estrelas da mídia social.

“As pessoas adoram assistir a quedas de gigantes”, disse George Loewenstein, professor de economia e psicologia da Universidade Carnegie Mellon que estudou o papel da satisfação com a desgraça alheia, situação conhecida em alemão como schadenfreude nos mercados financeiros.

O medo gera medo

Culturalmente, o Facebook é o assunto dominante das conversas no “círculo de comadres” que é o Vale do Silício. Embora seja pouco provável que a avaliação declinante afete o processo de implementação das empresas estreantes da região, já que os cofres das empresas de compras de participações estão plenamente abastecidos, o estado da Califórnia está se preparando para o impacto. O Departamento de Análise do Legislativo prevê que as centenas de milhões de dólares de impostos já previstos no orçamento anual poderão não se concretizar.

Há também extrema preocupação com uma série de períodos de expiração, a vencer em breve, dos contratos que vedam a venda de ações concedidas a beneficiários privilegiados. Após esse vencimento, os funcionários do Facebook estarão liberados para vender seus papéis, fator que poderá reduzir ainda mais a cotação das ações. No universo pós-IPO do Facebook, o medo gera medo.

O Cubo de Necker

Isso, sem subestimar completamente os efeitos do ceticismo. O Facebook e sua turma defrontam-se, verdadeiramente, com dificuldades significativas. Zuckerberg e sua equipe precisam criar produtos para aparelhos móveis e rechaçar da rede programas de spam automáticos. A Zynga, cujos jogos sociais gratuitos permitem sua melhor experiência nos PCs, está especialmente ameaçada pela mudança para smartphones e pela queda do interesse por passatempos permanentes, como o jogo “FarmVille”. O Groupon tem pela frente a perigosa possibilidade de que seus usuários e restaurantes se cansem do modelo diário de compra coletiva.

Também está claro que os círculos de opinião exacerbaram o ceticismo quanto às perspectivas dessas empresas. Os comentários desfavoráveis, que se propagam com velocidade crescente nos blogs e nas próprias redes sociais, amplificam a corrente descendente a ponto de mesmo notícias boas serem interpretadas negativamente. Quando o Facebook correspondeu às expectativas de Wall Street, no mês passado, e divulgou um crescimento de 32% da receita – resultados que teriam agradado os investidores da maioria das empresas de US$ 4 bilhões ao ano –, o preço de suas ações recuou mais 10%.

O Facebook e sua nova irmã com capital recém-aberto podem ser vistos como bem-sucedidos ou como preparados para combate e paralisados, e as perspectivas mudam num piscar de olhos. É como aquela clássica ilusão de ótica, o Cubo de Necker, um desenho de estrutura de arame percebido pelo olho humano como tridimensional. Se se examinar o cubo de certa maneira, sua face frontal estará na parte superior direita. Piscando-se o olho, a face frontal estará na parte inferior esquerda. Mas não é culpa do cubo. É apenas da sua maneira de ver.

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[Brad Stone, da Bloomberg Businessweek, de San Francisco]