A internet trouxe muitas coisas boas e o “stalking” não é uma delas. A prática de dedicar atenção obsessiva a uma pessoa, podendo resvalar em outros tipos de perseguição e conflitos, ganhou novos contornos com a tecnologia digital.
O primeiro passo para discutir a questão é lembrar que flertar é humano. Onde houver uma mídia, haverá o despertar de paixões reais ou platônicas, especialmente no contexto das mídias sociais.
No entanto, o stalking cruza a barreira do aceitável na medida em que trata a vítima como “informação”. É como se o outro existisse descolado da realidade e da dimensão social. É comum que o stalker se relacione com a vítima dentro de um universo próprio, que ignora regras de convívio e aspectos morais. A vítima é tratada como “objeto”, disponível para consumo pelo stalker. Muitos conflitos acontecem justamente no choque entre essa relação simplista e as implicações sociais necessárias para uma relação pessoal efetiva.
O stalking é uma forma cruel de desconsiderar a individualidade do outro.
O stalker muitas vezes repete as tentativas de contato com a vítima “ad nauseam”, na esperança de que em algum momento sua estratégia dê certo. É como em um videogame: se o jogador falha, basta reiniciar a partida e tentar de novo.
O problema é agravado por características cada vez mais comuns, especialmente entre a geração Y, que nasceu com a internet. Por exemplo, a dificuldade de lidar com frustrações.
Acostumado a conseguir o que quer com um punhado de cliques, o stalker pergunta-se por que não consegue a atenção da vítima com a mesma lógica. Acha que o mundo (ou a internet) existe para atender seus desejos.
Em uma das “marchas das vadias”, manifestação pelos direitos da mulher, uma garota segurava uma placa que dizia: “Acredite, minha saia curta não tem nada a ver com você”. É uma boa lição para stalkers em geral.
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[Ronaldo Lemos é colunista da Folha de S.Paulo]