Tuesday, 05 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Busca em mutação

Quando a FTC (Comissão Federal de Comércio dos EUA) decidiu, neste mês, que encerraria sua investigação antitruste sobre o Google sem apresentar acusações contra a companhia, um fator importante para a decisão, ainda que pouco mencionado, foi a revolução móvel.

O Google apresentou repetidamente o argumento -acatado pela comissão- de que a velocidade da mudança no setor de tecnologia tornava impossível para as autoridades regulatórias impor restrições sem que isso prejudicasse futuras inovações.

Quando a comissão iniciou sua investigação, 19 meses atrás, por exemplo, o iPhone não contava com o sistema Siri de buscas acionadas por voz. A Apple não tinha um serviço próprio de mapas, e os apps do Yelp para aparelhos móveis não veiculavam publicidade. Quando o inquérito foi concluído, tudo isso tinha mudado.

No entanto, o Google continua mais dominante nos celulares do que nos computadores. A companhia controla 96% do mercado mundial de buscas com aparelhos móveis, de acordo com a Stat-Counter, uma empresa que afere o tráfego de internet.

Nos Estados Unidos, o Google fica com 57% da receita da publicidade móvel, ante 9% para o Facebook, seu concorrente mais próximo, de acordo com a eMarketer.

Novos hábitos

Mas os analistas dizem que, à medida que as pessoas alteram seus hábitos de busca com aparelhos móveis -deixando o Google de lado e recorrendo diretamente a apps como o Yelp-, esse domínio pode desaparecer, ou pode surgir um concorrente que derrube o Google de seu posto dominante.

“É importante reconhecer que muitos dos apps para aparelhos móveis são na verdade serviços verticais de buscas”, diz Rebecca Lieb, analista de mídia digital do Altimeter Group.

Nos celulares e nos tablets, muita gente deixa de lado o Google e recorre a aplicativos como o Flixter, para horários de cinema, ou o Kayak, para reserva de passagens aéreas.

A Apple também está disputando o mercado de buscas com o iPhone e o Siri, que tem capacidade para responder a perguntas sobre o clima ou procurar restaurantes.

Um dos principais alvos da investigação da FTC foi a prática do Google de extrair dados da web e exibi-los em resultados de busca, para que as pessoas não precisem clicar em um resultado para obter o dado desejado.

Se você fizer uma busca pelo aniversário de Barack Obama ou sobre o clima em sua área, o Google mostrará essas informações acima dos links para outros sites.

Isso é importante nos aparelhos móveis, nos quais as pessoas não têm espaço ou paciência para clicar em diversos links, diz Amit Singhal, vice-presidente sênior de buscas do Google.

Os aplicativos móveis, ele diz, requerem que as pessoas se esforcem mais, recorrendo a um para encontrar restaurantes e a outro para passagens aéreas.

“Usuários acabam agindo como miniferramentas de busca, o que não é a melhor solução”, diz Singhal. “Você deveria fazer a pergunta no seu telefone ou aparelho e receber a resposta, e é para isso que estamos trabalhando.”

Inovar é preciso

O Google recentemente criou novas ferramentas para prover respostas aos usuários com mais rapidez.

Em aparelhos com Android, o Google Now mostra automaticamente informações sobre clima, voos ou restaurantes, sem necessidade de fazer uma busca, e o app Field Trip mostra informações sobre locais próximos.

Os mais recentes apps de busca do Google para aparelhos com Android ou da Apple permitem fazer buscas por voz e oferecem respostas faladas. Outras empresas também tentam fornecer informações mais facilmente em dispositivos móveis.

Por exemplo, é mais fácil e rápido reservar uma mesa em um restaurante com o app Open Table do que buscar o restaurante no Google com o navegador do celular e depois fazer a reserva. E pedir ao Siri da Apple que faça a reserva em seu nome é ainda mais rápido. “Com a velocidade de avanço das buscas móveis, é preciso inovar mais os concorrentes”, diz Singhal. “É a única maneira de vencer.”

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[Claire Cain Miller, do New York Times]