Dan Mitchell, colaborador da Fortune.com e da CNN, não acredita no potencial do Twitter como uma grande plataforma de notícias para a população. Ele publicou um instigante artigo (6/3) na CNN Money, no qual explica quais são os maiores obstáculos para o microblog tornar-se uma grande plataforma de noticiosa. O autor explica que, para aqueles que pensam o Twitter como “o futuro da notícia”, o tempo já passou: o microblog já é “o presente das notícias”. Organizações de notícias e jornalistas “usam o site para divulgar seus trabalhos e de seus colegas”, afirma Mitchell.
O verdadeiro entusiasta do Twitter, entretanto, tem outra coisa em mente quando pensa no Twitter e sua relação com a informação: ele acredita que “a própria plataforma está se transformando não apenas num veículo para partilhar links para novas histórias, mas também uma fonte primária de notícias – frequentemente reportadas por ‘jornalistas-cidadãos’, que geralmente são apenas testemunhas de eventos que compartilham informação (não verificada) em tempo real com frases espirituosas de 140 caracteres”.
O autor não acredita no potencial do microblog em transformar-se numa grande plataforma de notícias. Quem prega o futuro da notícia no Twitter e aqueles que acreditam no potencial do site vir a ser um dia uma grande plataforma noticiosa estão errados, segundo Mitchell: o universo do Twitter “é mínimo e não-representativo do público”. E a turma que está lá para partilhar notícias é menor ainda, revelou um estudo do Pew Research Center (4/3): “De acordo com o Pew, apenas 13% dos americanos adultos usam Twitter. E somente 3% dos adultos já tuitaram ou retuitaram. O Pew não disse a percentagem das pessoas que procuram o Twitter para encontrar novas histórias originais (como reportagens de campo em zonas de guerra ou desastres), possivelmente porque o número é tão pequeno que não pode ser medido”, anotou Mitchell. Os norte-americanos são os maiores usuários do Twitter no mundo. Por enquanto.
A pesquisa do Pew
Apesquisa do instituto revelou que muitas vezes as apreciações publicadas no Twitter estão em desacordo com a opinião pública em geral. Não coincidem com ela. O microblog pode apresentar um perfil mais liberal e progressista na superfície, mas esta visão não resiste a uma pesquisa mais profunda. Que revelou a tendência conservadora oculta em muitos dos pontos de vista dos usuários ativos. Nem sempre o Twitter é mais liberal que a opinião pública. O caso do segundo discurso de posse do presidente Obama foi usado como exemplo na pesquisa: 48% dos entrevistados da opinião pública viram o fato como positivo. Já no Twitter, só 13% dos que responderam a pesquisa acreditaram que a fala do presidente foi relevante. O microblog foi mais conservador que a opinião pública.
Em outros casos, o microblog é mais liberal que o público em geral. E em outros poucos, as posições coincidem. Mas a realidade mostra que opinião pública e Twitter muitas vezes estão em polos opostos. Não há correspondência entre os dois universos. E nem poderia haver. Eu concordo com o instituto Pew quando ele diz que a discrepância entre eles é devida ao escasso e específico público do Twitter. E a fatia deste que engaja-se em determinadas conversações ou assuntos. Seu universo é muito pequeno e nada representativo (em termos da população como um todo), e frequentemente contradiz a opinião pública.
O Twitter é uma comunidade virtual que tem características demográficas especificas e muito distintas do público como um todo. Por isso, as divergências nas abordagens de tuiteiros e a opinião pública: o microblog tem um público bem distinto da população geral. A última pesquisa demográfica feita pelo Instituto Pew nos Estados Unidos sobre o microblog, publicada no Ragam.com (7/6/2012) mostra uma ligeira maioria de mulheres (15% contra 14% de homens), e uma presença majoritária de jovens entre 18 e 29 anos (26%). Se somarmos os usuários mais jovens à faixa etária até 49 anos chegaremos aproximadamente à metade do total dos utentes. A população de mais de 50 anos está sub-representada no microblog, com apenas 11% do total.
Um mistério para as classes populares
Dan Mitchell, apesar de não reconhecer no Twitter capacidades para tornar-se um grande ambiente para notícias, também não deixou de reconhecer que este, mesmo com seus limites, é uma poderosa ferramenta de para jornalistas e leitores. E que ele entende a utilidade do Twitter para aqueles que decidem usá-lo para atualizar as notícias. Mas não deixou de lembrar que:
“Velocidade, concisão e imediaticidade são as únicas vantagens reais do Twitter. Quando estas são requeridas, são muito benéficas. De outra forma, elas são na realidade desvantagens. É simplesmente mais fácil, mais confortável e mais útil para a maior parte das pessoas obter suas notícias da TV, da Web, ou mesmo dos jornais.”
Sem negar a imensa importância do Twitter para todos que necessitam de uma corrente constante de informação em tempo real, o autor fez uma crítica consistente as possibilidades do microblog como plataforma de notícias. Ele representa um percentual ínfimo da população como um todo, e apresenta discrepâncias constantes com a opinião pública. E enquanto não refletir a opinião popular e dialogar com ela em grande quantidade e frequência (seja para criticar ou concordar), ele nunca poderá ser uma grande plataforma de notícias.
O Twitter precisa sair de seu casulo de uns poucos usuários participantes e caminhar com o público. Deixar de ser um mistério para as classes populares. Seu grande número de usuários ativos não se traduz em produtores de conteúdos e participantes constantes do dia a dia do microblog. Aumentar seu tamanho e caminhar ao lado da opinião pública é o primeiro passo para a construção de uma plataforma eficiente de notícias. A ilusão dos 200 milhões de usuários ativos não basta para transformar o microblog num amplo ambiente para elas.
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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor