Se um habitante de 1973 entrasse numa máquina do tempo e viesse dar uma voltinha em 2013, encontraria um mundo relativamente parecido com o que conhecia. Não temos os carros voadores dos Jetsons, não colonizamos a Lua, não nos teletransportamos, não temos robôs fazendo o serviço de casa. O que este ser do passado mais estranharia nas ruas, com certeza, seriam as pessoas falando sozinhas de mão na orelha – isso para não falar na ausência de cabines telefônicas e de orelhões, e na onipresença de lojas de operadoras de celulares. Mais tarde, quando tivesse tempo de saber como os telefones móveis estão difundidos, e como transformaram o planeta, custaria a crer que mudança tão radical tivesse ocorrido em apenas 40 anos. Na verdade, mesmo para quem se lembra de como era o mundo há quatro décadas – e eu me lembro – essa evolução é inacreditável.
Em 3 de abril de 1973, Martin Cooper, da Motorola, fez a primeira ligação de celular da História. Ele chamou a imprensa, atravessou a Sexta Avenida, em Nova York, e ligou para Joel Engel, do Bell Labs, que estava trabalhando num conceito parecido.
– Joel, aqui é Marty. Estou te ligando de um telefone celular, um celular portátil, de verdade.
Ao contrário de Cooper, Engel apostava as fichas num modelo de celular para carros. Cooper, porém, que havia criado uns aparelhinhos de comunicação para a polícia de Chicago, intuía que o telefone móvel ideal tinha que acompanhar o usuário, aonde quer que ele fosse. Sua inspiração era o comunicador usado pelo Capitão Kirk, de “Star Trek”. Aquele primeiro aparelho, no entanto, estava bem longe do pequeno objeto dourado do capitão: era um tijolão de mais de um quilo, que passou a ser conhecido como the brick , o tijolo (embora se chamasse DynaTAC). Sua bateria durava vinte minutos, e levava dez horas para recarregar.
Na ativa
Foram precisos mais dez anos para que o DynaTAC se transformasse numa proposta viável comercialmente. Ele chegou ao mercado com uma vida de bateria um pouco ampliada (30 minutos de conversa) e preço de US$ 4 mil. Os custos de operação eram igualmente salgados, o que fazia dele um objeto de elite. Um outro modelo, com mais autonomia, vinha com uma bateria parecida com as de filmadoras profissionais, que se carregava a tiracolo. Era perfeitamente ridículo.
O resto é história. E que História! Nunca houve uma tecnologia que fosse aceita tão vasta e rapidamente; nunca houve, tampouco, uma tecnologia que mudasse de tal maneira a forma como interagimos uns com os outros. Um único aparelho, o Nokia 1100, vendeu 250 milhões de unidades (e é, até hoje, o recordista mundial); já existem seis bilhões de celulares. Em pouco tempo, teremos mais telefones do que pessoas sobre a face da terra.
Não há ramo da atividade humana que não tenha sido afetado pelos celulares. O impacto da telecomunicação universal é maior do que jamais teríamos imaginado: em países do terceiro mundo que nunca chegaram a ter linhas fixas, o PIB cresceu quando os celulares alcançaram a população.
Até a forma como contamos histórias mudou diante da nova realidade: acabaram os enredos em que a distância mantinha as pessoas desinformadas sobre os destinos umas das outras, e em que as notícias chegavam por cartas e telegramas.
Ninguém pode prever o que vai acontecer nos próximos 40 anos. Fala-se em mais video, em maior rapidez de conexão com a internet, em comunicação entre celulares e eletrodomésticos e máquinas de venda. A verdade, porém, é que tudo isso é detalhe diante da grande revolução que já aconteceu.
Ah, sim: Martin Cooper está vivo e bem. Aos 84 anos, continua dando expediente no Vale do Silício. Ele é casado com Arlene Harris, uma das inventoras do sistema pré-pago e primeira mulher a integrar o Wireless Hall of Fame. Que dupla!
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Cora Rónai é colunista do Globo