Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Computador quântico chega ao mercado

Nossa era digital tem tudo a ver com bits, aqueles “1”s e “0”s precisos que são o estofo dos códigos da computação moderna.

Mas um computador prestes a ser utilizado comercialmente por uma grande fornecedora militar americana está levando a computação ao estranho reino subatômico da mecânica quântica. Nesse espaço infinitesimal, a lógica do senso comum não parece mais aplicável. Um “1” pode ser um “1” ou pode ser um “1” e um “0” e tudo o que há entre eles -e tudo ao mesmo tempo.

Parece absurdo. Mas pesquisadores acadêmicos e cientistas estão trabalhando para desenvolver computadores quânticos.

Hoje a Lockheed Martin -que comprou, há dois anos, uma versão anterior desse computador da empresa canadense D-Wave Systems- está bastante confiante nessa tecnologia para utilizá-la em escala comercial, tornando-se a primeira empresa a usar a computação quântica como parte de seus negócios.

Se essa tecnologia funcionar como a Lockheed e a D-Wave esperam, o projeto poderá ser usado para potencializar até os mais poderosos sistemas, solucionando alguns problemas da ciência e das empresas milhões de vezes mais depressa do que hoje é possível.

Ray Johnson, diretor técnico da Lockheed, disse que usará um computador quântico para criar e testar sistemas complexos de radares, espaçonaves e aviões.

Poderia ser possível, por exemplo, dizer imediatamente como as milhões de linhas de software que operam uma rede de satélites reagiriam a uma explosão solar ou ao tremor de uma explosão nuclear -algo que hoje pode demorar semanas para ser determinado.

Próximos avanços

Pesquisadores de câncer veem potencial na utilização rápida de vastas quantidades de dados genéticos. O Google trabalhou com computadores quânticos da D-Wave para o reconhecimento de carros e de marcos terrestres, um passo crítico na condução de veículos autoguiados.

A computação quântica é mais rápida do que a tradicional por causa das propriedades incomuns das partículas no nível mais ínfimo. Em vez da precisão de “1”s e “0”s, que foram usados para representar dados desde os primeiros dias dos computadores, a computação quântica conta com o fato de que as partículas subatômicas habitam uma série de estados. Esses estados podem ser reduzidos para determinar um resultado ótimo entre uma quase infinidade de possibilidades, o que permite que certos tipos de problemas sejam resolvidos rapidamente.

“O que estamos fazendo é um desenvolvimento paralelo em relação ao tipo de computação que tivemos nos últimos 70 anos”, disse Vern Brownell, executivo-chefe da D-Wave, uma empresa de 12 anos sediada em Vancouver.

A D-Wave e a visão geral da supercomputação quântica têm seus críticos. A maior parte das críticas vem das próprias alegações feitas pela D-Wave em 2007, mais tarde retiradas, de que a empresa produziria um computador quântico comercial dentro de um ano.

A D-Wave “disse coisas simplesmente ridículas, coisas que lhe dão pouca credibilidade”, disse Scott Aaronson, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Mas outros dizem que as pessoas que trabalham em computação quântica estão geralmente otimistas quanto aos próximos avanços. “Os pesquisadores quânticos estão dando um passo para fora da teoria e entrando na prática”, disse Peter Lee, diretor da filial de pesquisa da Microsoft. [Colaborou John Markoff, de San Francisco (EUA)]

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Quentin Hardy, doNew York Times