O Brasil pode tornar-se um dos mercados mais importantes para os serviços de música por assinatura, na avaliação de Axel Dauchez, executivo-chefe da francesa Deezer, que iniciou uma operação no país em janeiro. “Muito mais que um grande mercado, o Brasil tem uma ligação muito forte com a música”, disse o executivo, durante sua primeira visita ao país. A expectativa, afirmou Dauchez, é que o número de assinantes dos serviços de música chegue a 20 milhões em alguns anos, embora seja difícil, por enquanto, determinar com certeza em que prazo isso vai ocorrer.
A Deezer não revela o número de assinantes por país. No mundo, são 26 milhões, sendo três milhões pagantes. Segundo Dauchez, a taxa de conversão – pessoas que testam o serviço de forma gratuita e depois passam a pagar – no Brasil é muito parecida com a de países mais desenvolvidos. “O que precisamos trabalhar é a oferta de mais opções de pagamento para atrair mais pessoas”, disse.
Para utilizar serviços como o Deezer, os usuários pagam uma assinatura mensal e têm direito a ouvir todas as músicas disponíveis no catálogo. O acesso é prioritariamente via streaming – ou seja, o usuário ouve as músicas quando está conectado, mas não as transfere para seus dispositivos. É possível fazer o download das faixas, com a transferência dos arquivos, mas sob esse modelo as faixas não podem ser retransmitidas para outros aparelhos, e são apagadas se a assinatura é cancelada.
Sem risco de perder os arquivos
O modelo é interessante para as gravadoras porque ajuda a combater a pirataria, disse o executivo. Além da Deezer, esse tipo de serviço é oferecido por empresas como Rdio, Spotify e até Microsoft, com o Xbox Music. Nas últimas semanas, têm surgido informações de que o a Google e a Apple entrarão na disputa. “Queremos que eles venham. Será importante para educar o mercado”, afirmou Dauchez.
De acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), o número de pessoas que paga por serviços de assinatura nos diversos sites subiu 44% em 2012, para 20 milhões em todo o mundo. As assinaturas representaram mais de 10% da receita com a venda de música digital – que somou US$ 5,6 bilhões, 9% acima do valor apurado em 2011. Isso equivale a um terço do mercado global de música.
A avaliação de Dauchez é que os serviços de assinatura impulsionarão o mercado de música nos próximos anos pelas facilidades que oferecem aos usuários, que podem ouvir faixas a qualquer hora sem correr o risco de perder seus arquivos caso aconteça uma pane no PC.
Software para dispositivos móveis
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), os serviços responderam por 25% do mercado de música digital no país em 2012, com receita de R$ 28,2 milhões, uma queda de 18,6% na comparação com 2011. O recuo foi causado pelo avanço nas compras de músicas e vídeos avulsos, principalmente na iTunes, a loja virtual da Apple. A expectativa é que haja uma retomada nas assinaturas por conta dos investimentos das empresas que oferecem esses serviços, como Deezer, Spotify e Xbox Music, no Brasil.
Do escritório em São Paulo, com 15 pessoas, a Deezer comanda as operações da América Latina. O número pode dobrar em 18 meses, disse Mathieu Le Roux, que comanda a região. Entre as estratégias para crescer, a empresa investe em conteúdo local e na parceria com operadoras e fabricantes para incluir seu aplicativo em TVs e celulares.
Hoje, a Deezer lança uma função do seu software para dispositivos móveis que reduz o consumo de dados em até 70% no streaming. De acordo com Dauchez, isso será um diferencial nas conversas com as operadoras e para convencer os usuários a usar o serviço, principalmente em países como o Brasil, onde a internet móvel apresenta muita oscilação de sinal.
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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico