Descobrir por que determinados vídeos publicados na internet alcançam um sucesso estrondoso num espaço tão curto de tempo pode parecer uma tarefa impossível de ser realizada. Mas é exatamente esse o objeto de estudo de uma das pesquisas brasileiras que começaram a ser financiadas pelo Google. A empresa norte-americana vai investir US$ 1 milhão – sem exigir direitos ou serviços em troca – neste e em mais outros quatro estudos de doutorado de pesquisadores brasileiros. É o primeiro aporte da companhia destinado ao financiamento de estudos no país.
A pesquisa sobre os vídeos populares é de autoria de Flavio Figueiredo, com a professora Jussara Almeida. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), eles querem ser capazes de prever quando um vídeo vai “bombar” na internet.
O trabalho de doutorado se baseia na monitoração do que ocorre ao redor dos vídeos: o caminho percorrido até chegar ali, a interferência de eventos externos (por exemplo, uma notícia) e a interação dos usuários com conteúdo. “Existem padrões de crescimento de popularidade, como o da explosão e o gradual. Nós estamos tentando aprender esses padrões”, diz Jussara.
Comportamento
Os questionamentos da pesquisadora caem bem num mundo que assiste a 4 bilhões de horas no YouTube por mês. Não à toa essa e outras ideias atraíram o Google. A empresa procurou financiar estudos que tentassem entender o modo como as pessoas se comportam na internet – um de seus grandes desafios atuais. O diretor de engenharia do Google para as Américas, Stuart Feldman, explica que os projetos têm em comum o caráter experimental. “Nosso objetivo maior é colaborar para o aumento da contribuição acadêmica em áreas que acreditamos representar o futuro.”
Todos os pesquisadores (dois grupos da UFMG, um da UFRJ e um da PUC-Rio) estão envolvidos nos temas dos estudos há no mínimo dois anos. O professor Edmundo Silva e o aluno Gaspare Bruno, da UFRJ, estudam as reações de alunos de cursos a distância. O objetivo é identificar quando o estudante está desatento diante das videoaulas. Três equipamentos ajudam na análise: webcam, que captura as expressões faciais, faixa na cabeça, para capta ondas cerebrais, e pulseira que mede a condutividade da pele. Os testes estão sendo feitos com alunos do Cederj, um consórcio de seis universidades públicas do Rio de Janeiro.
Já o trabalho de Pedro Henrique Guerra com o professor Wagner Meira Junior, da UFMG, é fazer uma espécie de “análise de sentimentos” nas redes sociais. Num cenário de eleições, por exemplo, os pesquisadores teriam condições de saber o posicionamento dos eleitores no Twitter. Neste projeto, revela-se qual seu candidato. Nos outros, a que você assiste, como assiste. Tudo pode ser calculado.
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Nayara Fraga, do Estado de S.Paulo