Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um dilema para o futuro do Twitter

O Twitter tem um problema de credibilidade? Para muita gente, o tweet falso enviado pelo perfil da agência de notícias Associated Press (AP) reafirmou claramente o temível poder – e praticamente instantâneo – das mensagens de 140 caracteres.

Entretanto, a falha da segurança também reacendeu dúvidas quanto ao papel do Twitter no panorama da mídia em um momento em que sua posição como uma das redes essenciais de informação parecia perfeitamente consagrada.

Na terça-feira (22/4), uma semana depois de as redes sociais serem criticadas por divulgar notícias falsas sobre os supostos autores do atentado da Maratona de Boston, as falhas da segurança do Twitter foram totalmente expostas depois que um grupo de hackers sequestrou a conta da AP e noticiou falsamente que explosões na Casa Branca tinham ferido o presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

O tweet da AP assustou investidores e fez desaparecer em minutos US$ 136,5 bilhões do índice S&P 500 (que reúne as ações das 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA).

Embora mais tarde a AP tenha revelado que um dos seus funcionários podia ter divulgado inadvertidamente senhas da companhia por causa de um ataque de phishing (normalmente enviado em e-mails falsos), especialistas em segurança imediatamente culparam o Twitter por ainda não ter implementado uma autenticação de duas etapas – o que, segundo a empresa, deve ser adotado em breve.

“Este tipo de caso está acontecendo com excessiva frequência. As organizações de mídia precisam pressionar o Twitter para que adote um site mais seguro”, disse Robert Quigley, professor de jornalismo especializado em mídia social da Universidade do Texas.

Mark Risher, fundador de uma empresa de consultoria sobre segurança, disse que autenticação em duas etapas tornaria o Twitter mais pesado e reduziria o crescimento do número dos seus usuários – preocupação fundamental para uma companhia que depende da receita de publicidade.

Confiança

A invasão levantou dúvidas sobre a credibilidade do Twitter num momento em que a rede começa a assumir um papel fundamental num panorama de grande mudança da mídia.

No início deste mês, a Comissão de Valores Mobiliários norte-americana (SEC) determinou que as companhias do país podem divulgar comunicados oficiais, como os seus resultados trimestrais, no Twitter, desde que os investidores sejam alertados com antecedência.

Ao mesmo tempo, as principais empresas de notícias e o Twitter, que tem 200 milhões de usuários em todo o mundo, tornaram-se cada vez mais interconectadas.

Dan Gillmor, professor de jornalismo da Universidade do Estado de Arizona, disse que os ataques afetaram particularmente empresas de mídia porque suas contas no Twitter são com frequência o canal fundamental pelo qual suas notícias chegam a consumidores.

Na semana retrasada, depois das explosões em Boston, pessoas que anteriormente consideravam o Twitter uma fonte de notícias indispensável começaram a se voltar contra o serviço ao descobrir que a “sabedoria popular” é, na realidade, uma ideia que nem sempre se aplica à internet. “Cada vez que alguém diz: ‘Você não pode imaginar o que a gente lê no Twitter!’, a rede perde um ponto”, disse Steve Brunetto, executivo da Edgeware, uma empresa de segurança de rede.

O diretor do Twitter Dick Costolo disse no fim do ano passado, em reunião da Online News Association, que a responsabilidade fundamental da empresa é criar uma plataforma, e não desempenhar uma função editorial. “Uma empresa de mídia cuida do conteúdo, e não é este o tipo de companhia que estamos criando”, disse Costolo. 

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Gerry Shih, da Reuters