Quando o Tumblr, a plataforma de microblogs, foi vendido ao Yahoo por US$ 1,1 bilhão na semana passada, tinha 178 funcionários.
O honorável Boston Globe, o principal jornal de Boston, emprega, só na área editorial, cerca de 470 pessoas. O New York Times não vê a hora de se livrar do Boston Globe, que comprou, em 1991, pelo mesmo preço pago pelo Tumblr, US$ 1,1 bilhão. As propostas estão sendo examinadas e o Times estaria aceitando, segundo jornalistas da área econômica, até ofertas de $ 80 milhões.
Quando a Kodak reinava na indústria da fotografia tinha mais de 140 mil funcionários e valia US$ 28 bilhões. Quando o Instagram foi vendido por US$ 1 bilhão para o Facebook, em 2012, empregava 13 pessoas. Estes últimos números abrem o novo livro de Jaron Lanier, um dos primeiros personagens apelidados de “visionário da era digital”, um cientista de computador e otimista confesso.
“Grande máquina”
Em Who Owns the Future?, o autor de Gadget, Você Não É Um Aplicativo, lançado no Brasil em 2010, considera o poder da internet de destruir a classe média e o emprego estável, numa economia que concentra poder de maneira sem precedente.
“O clamor pela atenção online só gera dinheiro para uma minoria, entre as pessoas comuns”, escreve Lanier. O autor lembra que uma minúscula minoria sempre se beneficia. São os grandes sistemas que transformam cada ação ou escolha que você faz nas grandes fortunas da história. Lanier diz que escreveu Who Owns the Future? para propor uma alternativa em que a nossa participação na rede digital seja uma avenida de mão dupla.
Ele argumenta que os 13 empregados do Instagram não eram gênios ou super-homens. O valor pago pelo Facebook para adquirir o Instagram reflete as escolhas de milhões de usuários. Todas estas companhias start ups precisam da nossa adesão em massa para ser avaliadas na casa dos 10 dígitos. E, quando isto acontece, só um punhado de pessoas é remunerado.
Lanier ressalta que, quando fala de “rede digital”, não se refere apenas à web e à internet mas também a instituições financeiras e agências de inteligência. Os que controlam os sistemas mais centrais impõem a profunda desigualdade econômica desta era da informação.
“Eu adoro a tecnologia e adoro mais ainda as pessoas”, diz Lanier. É a conexão entre os dois que está fora de compasso. Ele teme que possamos entrar num período de hiper desemprego, em que grande parte da produtividade será mediada por softwares, como impressoras 3D e caminhões ou automóveis dirigidos por programas. E sugere que devemos parar agora, para considerar este cenário em que a economia da informação dispensa empregos.
“As pessoas são tratadas como pequenos elementos de uma grande máquina de informação”, escreve Lanier, “quando, de fato, as pessoas são as únicas fontes e destino da informação, ou de qualquer significado.”
Escolha autodestrutiva
Na semana passada, estava pesquisando uma pauta e tive que voltar a fazer uma assinatura de uma veneranda revista americana que não é parte habitual da minha dieta de leitura. Os $ 30 foram digeridos como um custo de produção da reportagem. Pois não passou um dia e comecei a ser bombardeada com e-mails de dita revista da “velha mídia” com todo tipo de pedido para participar de pesquisas e escrever sobre minhas expectativas. Em suma, queriam que trabalhasse para o departamento de marketing. Respondi que tinha cometido o crime de pagar por uma assinatura por necessidade de trabalho, o que, num passado recente, isso bastava. Agora, esperam me engajar como se fosse membro de uma brigada cívica subnutrida da Coreia do Norte. Além de pagar para acessar um conteúdo, sou transformada em mão de obra grátis para um dos grandes conglomerados de mídia do país.
Lanier espera que a evolução da tecnologia resulte numa economia menos abstrata do que a nossa, que favorece tão poucos. Informação não é sinônimo de realidade. Ele acredita que há mais de uma maneira de construir a economia da informação e, no momento, estamos escolhendo a opção autodestrutiva.
Lanier lamenta a diminuição das nossas expectativas. “Tenho saudades do futuro”, diz ele.
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Lúcia Guimarães é colunista do Estado de S.Paulo, em Nova York