Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Entre a proposta de romper barreiras e a falta da ousadia

Quando se fala em uma nova era, necessariamente se aponta um marco histórico que determine a mudança estrutural de um sistema. Partindo desse princípio, a ‘nova era da comunicação’ implica atribuir à internet a importância de um divisor de águas – assertiva diante da qual se impõe a reflexão: quais são os novos moldes que o Jornalismo desenvolveu para adaptar-se a essa nova plataforma midiática?

Alex Primo, autor do livro Interação Mediada por Computador: comunicação, cubercultura, cognição, destaca a falha de um senso comum a esse respeito. Segundo ele, é falsa a máxima de que ‘o diferencial da cibercultura é a interatividade’, uma vez que não existem, na web, mecanismos que garantam ao internauta uma participação livre e democrática no processo comunicacional, havendo tão-somente recursos característicos do que seriam interações mútuas e reativas, termos propostos pelo próprio Primo.

Segundo o autor, é exemplo de uma interação mútua o MSN ou qualquer outra ferramenta de chat online porque possibilita, a partir de um canal de mão dupla, trocas comunicacionais constantes – a pergunta de um interagente é o que provoca a resposta do(s) outro(s) interagente(s). Já as interações reativas, consideradas mais fracas por Primo, são sistemas fechados, em que as ações do internauta são condicionadas por objetivos específicos, em uma dinâmica de reações previsíveis a estímulos dados, como é o caso das páginas da web, em que o estímulo (clique) gera o acesso a uma outra página (resposta).

O dever da apuração

Há um sentido, no entanto, em que a interatividade pode ser considerada uma característica da internet: a possibilidade de ordenar o consumo dessas informações. A partir dos cliques, o usuário determina a ordem dos sites ou notícias que pretende acessar – recurso que, ainda que democratize minimamente o acesso às informações, não representa, qualitativamente, a importância [ainda equívoca] que se atribui à interatividade nessa nova era.

Uma das mudanças que a revolução digital realmente causou é a intensificação da instantaneidade da notícia. Essa tendência de estreitar a distância temporal que existe entre o acontecimento e o discurso sobre ele, que é buscada tão veementemente pelo Jornalismo, tornou-se ainda mais evidente na web.

A possibilidade de contar com a participação do internauta, que por tantas vezes é ignorada, pode comprometer a credibilidade da notícia, se a preocupação com o imediatismo atropelar o dever da apuração, como já ocorreu com portais de notícias brasileiros na cobertura de eventos de repercussão, como o acidente da TAM ocorrido em Congonhas, em julho de 2007, quando a redação de UOL publicou uma foto enviada por um internauta, em que aparecia uma pessoa prestes a cometer suicídio ao pular do hangar em chamas.

Imediatismo, e não qualidade

Segundo nota publicada pelo site, a foto foi enviada às 11h05 e publicada já às 11h19, tornando-se destaque na home do UOL às 12h20. Só às 12h49, quando surgiu o primeiro comentário de um internauta sobre a possibilidade de que seria uma fotomontagem, a redação preocupou-se em averiguar a veracidade do material. A foto foi removida da página só às 13h45, quando a equipe encontrou uma foto idêntica à enviada, exceto pelo corpo caindo.

A internet, portanto, ainda que seja, sim, capaz de romper barreiras – suprimindo distâncias físicas entre interagentes do mundo todo –, ousa muito pouco na estrutura, abdicando de efetivar a interatividade, e desonra princípios jornalísticos quando, resolvendo ousar, o faz pelo imediatismo, não pela qualidade.

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Estudante de Jornalismo, PUC-Campinas