Nos anos 70, a denúncia do escândalo Watergate pelos jornalistas do Washington Post Bob Woodward e Carl Bernstein incentivou uma geração de estudantes a escolher a profissão de jornalista. Na semana passada, uma nova geração de alunos viu Woodward ser duramente criticado por ter demorado a testemunhar no caso do vazamento da identidade de uma agente da CIA e por ter sido muito íntimo com suas fontes – uma acusação também dirigida à ex-repórter do New York Times Judith Miller.
Alguns fatos recentes podem, à primeira vista, ser desestimulantes para estudantes de jornalismo nos EUA: jornais como o Times e o USA Today e o canal de TV CBS News envolvidos nos mais variados escândalos, pesquisas que indicam que a credibilidade do público na mídia está cada vez mais baixa e demissões em grande parte dos veículos.
‘Quando me formar, em maio, há grandes chances da indústria da mídia estar em total recessão’, diz Jared Novack, editor do jornal universitário Daily Orange, da Universidade de Syracuse. Tom Warhover, professor de jornalismo da Universidade do Missouri, afirma que a atual situação econômica da indústria de mídia preocupa estudantes sobre o futuro da profissão escolhida. ‘Os escândalos dão aos estudantes motivos para que eles pensem: ‘Haverá um jornal que se manterá pelos próximos dez anos?’, que está muito relacionado à dúvida ‘Meu Deus, eu tenho um futuro?’’, completa.
Senso de responsabilidade
Mesmo assim, a maior parte dos estudantes e professores de jornalismo afirma que o interesse em seguir a carreira jornalística se mantém alto e que os problemas enfrentados recentemente pela imprensa, ao contrário do que se possa pensar, podem até contribuir para torná-lo mais forte. ‘O que está acontecendo com a mídia não tem diminuído o entusiasmo dos estudantes. As inscrições para o curso de jornalismo continuam em alta e a necessidade de um bom jornalismo nunca esteve tão grande, na medida em que o mundo fica mais complicado’, afirma Tom Kunkel, diretor da faculdade de jornalismo da Universidade de Maryland.
Brian Charlton, aluno da Universidade de Michigan e editor do jornal universitário State News, acha que os escândalos ajudam os estudantes a aprender sobre o que eles vão ter de enfrentar nas redações e como o governo e empresas usam a mídia para divulgar notícias de seu interesse. ‘Depende de nós – as pessoas que escolheram seguir a carreira jornalística – sermos mais responsáveis e éticos para reconquistarmos a confiança do público’, afirma Michelle Simakis, editora do jornal The Post, da Universidade de Ohio. Informações de Peter Johnson [USA Today, 20/11/05].