Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Estados Unidos desenvolvem arsenal de luta pela internet

Milhões de iranianos que vivem sob forte vigilância na internet há anos logo poderão se beneficiar de novas tecnologias para driblar os censores. O jornal The New York Times informou na semana passada que o governo de Barack Obama lidera “um esforço mundial para desenvolver sistemas `sombra´ da internet e telefones celulares que dissidentes poderiam usar para evitar governos repressivos que tentam silenciá-los censurando ou fechando as redes de comunicação”.

Um desses projetos é a “internet-pasta”, financiada com US$ 2 milhões do Departamento de Estado. Essa pasta pode entrar por contrabando em um desses países e rapidamente instalar uma comunicação sem fio sobre uma ampla área, conectando-a à internet. “Há muitos grupos de pesquisadores trabalhando na criação de ferramentas e redes digitais alternativas para evitar a censura em todo o mundo”, disse à IPS Medhi Yahyanejad, cofundador da Balatarin.com, popular site iraniano que teve um papel fundamental nas mobilizações populares após as polêmicas eleições de 2009 nesse país. “A esperança é que pelo menos a notícia desses esforços freie a decisão de Teerã de criar uma Rede Nacional de Internet, que isolaria o Irã do resto do mundo”, afirmou.

Nos últimos anos, Teerã expandiu agressivamente seu controle sobre a internet. Em 2010, as autoridades anunciaram a criação de uma Polícia da Internet, encarregada de supervisionar todo o conteúdo produzido no país. O Irã também tenta criar, há tempos, uma Rede Nacional de Internet para isolar o país do restante do mundo, projeto este que custaria cerca de US$ 1,5 bilhão. Desde as eleições de 2009, a oposição iraniana e os dissidentes utilizaram a internet como força mobilizadora para levar o povo às ruas, denunciando as autoridades e questionando o discurso dominante na imprensa oficial.

Outra guerra ideológica

No começo de março, o Ministério das Comunicações e Tecnologia informou que a Rede Nacional de Internet estaria operacional em 18 meses, ou no final de 2012. No dia 4 de março, o Ministério explicou que essa rede não substituirá a conexão com o resto do mundo. Entretanto, muitos acreditam que o ambicioso plano do Irã para isolar o país é ilusório e caro. “O Irã, ao contrário de outros países com acesso restrito à internet, como Coreia do Norte, Cuba e Birmânia, tem uma economia funcionando e conectada internacionalmente”, disse à IPS Cyrus Farivar, autor do livro The Internet of Elsewhere (A Internet de Outro Lugar). “É difícil simplesmente se desconectar”, acrescentou. “Recordemos que o acesso à internet no Irã é de aproximadamente 35%, isto é, um em cada três iranianos. É muito”, ressaltou.

Segundo o autor, o plano do Irã para construir essa rede nacional é difícil, mas não impossível. “Devemos ter em mente que todos os ISP (provedores de serviços da internet) no país estão atualmente controlados pelo governo.” E acrescentou: “Podem não apenas filtrar, censurar e vigiar a internet, como também deixá-la lenta (como fizeram em junho de 2009) e cortá-la completamente, se desejarem. A razão pela qual digo que seria difícil não é por questões técnicas, mas socioeconômicas.”

Outros veem que o Irã se aproxima de políticas restritivas como as da China, embora com diferenças significativas. “A China é muito mais aberta do que o Irã para se conectar ao mundo e tem muito mais empresários na internet”, disse à IPS o diretor da Social Brain Foundation, Isaac Mao, radicado em Hong Kong. “É pouco provável que a China se separe do resto do mundo ou que sustente seu sistema de censura por muitos anos mais. Na prática, o Irã é mais como a Coreia do Norte”, afirmou.

Ehsan Norouzi, jornalista e ativista da internet iraniana, disse à IPS que Teerã trava na rede mundial de computadores outra guerra ideológica. “O governo iraniano nada tem a oferecer, apenas um discurso”, afirmou. Atualmente, quase todos os sites e blogs que criticam o governo, as redes sociais como Facebook e Twitter, além do YouTube, estão censurados no Irã.

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[Omid Memarinaé da InterPress Service (IPS)]