Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fotógrafo acusado de ligações com insurgência

O Pentágono justificou, na semana passada, a detenção do fotógrafo da agência de notícias Associated Press Bilal Hussein, no Iraque, alegando que tem autoridade para prendê-lo por tempo indeterminado sem acusações criminais, por acreditar que ele tenha ligações impróprias com insurgentes. Segundo o Exército, Hussein foi preso com dois insurgentes em abril deste ano. Ele trabalhava como fotógrafo em Fallujah e Ramadi, dois centros de insurgência iraquiana.

Executivos da AP fizeram um pedido público para que o Exército americano o transfira para o sistema de justiça criminal no Iraque ou que o liberte. Mas Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono, afirmou que o Exército não tem planos de mudar de posição. “Tudo o que sei é que a detenção de Hussein indica que ele tem fortes ligações com insurgentes conhecidos e que ele estava envolvido em atividades que estavam fora do escopo jornalístico”, informou.

Para o conselheiro-geral da AP, Dave Tomlin, Whitman não se pronunciou sobre o fato de Hussein ter acesso às garantias jurídicas. “Whitman afirmou que cabe à corte criminal central do Iraque acusar Hussein. Mas a corte iraquiana não pode fazer isto até que o Exército militar o entregue e exponha qualquer evidência que tem contra ele às autoridades iraquianas”, disse. “Se as evidências não forem fortes o bastante, Hussein deveria ser solto”.

Uma das fotos de Hussein venceu o prêmio Pulitzer no ano passado – e mostrava quatro insurgentes em Fallujah durante uma ofensiva conduzida pelos EUA na cidade, em novembro de 2004. O fotógrafo é um dos 14 mil presos mantidos pelo Exército dos EUA em todo o mundo – 13 mil apenas no Iraque – , por supostamente representarem uma ameaça à segurança. Poucos são acusados por um crime específico ou têm a chance de se defender no tribunal. De acordo com Whitman, o caso de Hussein foi revisto três vezes por autoridades americanas e iraquianas. Mas a AP foi informada apenas de uma audiência, que aconteceu sem nenhum representante do fotógrafo.

Para avaliar se Hussein havia se aproximado demais da insurgência, a AP pediu a editores de fotografia que examinassem todas as 420 imagens tiradas por ele nos arquivos da agência. Destas, segundo os executivos da AP, apenas 37 fotos mostravam insurgentes ou pessoas que poderiam ser insurgentes, e apenas quatro mostravam destroços de veículos militares americanos ainda em chamas. O Exército dos EUA geralmente prende jornalistas que chegam muito rápido nas cenas de violência, acusando-os de chegar rápido por serem informados antecipadamente por insurgentes.

Em defesa da mídia

Organizações jornalísticas afirmam que, a fim de cobrir todos os lados na guerra do Iraque, muitas vezes é necessário ter contato com insurgentes. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas expressou preocupações com a longa detenção de Hussein, porque autoridades americanas prometeram que as detenções de jornalistas seriam revistas. Para o diretor-executivo do CPJ, Joel Simon, fotografar insurgentes não deveria ser causa de prisão. “Não há uma maneira de cobrir uma insurgência sem ter contato com insurgentes”, disse.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras também se mostrou preocupada com o caso e pediu a libertação imediata de Hussein ou então que o Exército dos EUA levante acusações formais contra ele. “Se eles pensam que este jornalista não se comportou como um jornalista, mas como um insurgente, então eles têm de provar isto”, disse Lucie Morillon, representante do grupo em Washington. “Não queremos, como conseqüência, que jornalistas se preocupem com a cobertura de insurgentes porque eles vão ser presos por forças americanas. Temos que apurar todos os lado da história”.

Notícias não divulgadas

Michelle Malkin, em artigo no sítio WorldNetDaily [20/9/06], alega que a AP não divulgou ao público todas as informações referentes ao caso. Segundo ela, fontes militares lhe informaram que o fotógrafo havia sido preso em um apartamento em Ramadi com insurgentes e armas. Michelle pediu confirmações sobre tal acusação com o porta-voz da agência, Jack Strokes, que lhe disse que funcionários da AP estariam avaliando relatos de que Hussein teria sido detido por militares americanos no Iraque, mas não tinha maiores detalhes na época. Michelle afirma que, depois de divulgar a versão de suas fontes em seu blog, procurou a AP por diversas vezes nos últimos cinco meses para atualizar o caso, mas não obteve respostas.

No dia 17/9, a AP finalmente reconheceu – “em uma tentativa de gerar solidariedade a favor de Hussein”, acusa Michelle – que ele havia sido detido. O fotógrafo teria feito declarações públicas contra as tropas americanas em Fallujah e contra os interrogatórios feitos pela administração Bush envolvendo pessoas detidas por militares.

O artigo da AP não apenas confirmou a detenção de Hussein, como também revelou que a agência sabia da captura do fotógrafo desde o dia 7/5, quando recebeu um e-mail do major-general do Exército dos EUA Jack Gardner. Na mensagem, Gardner informava que “Hussein havia sido capturado com dois insurgentes, incluindo Hamid Hamad Motib, suposto líder da al-Qaeda no Iraque. Ele tem relações fortes com pessoas conhecidas por serem responsáveis por seqüestros, roubos, ataques com explosivos e outros ataques às forças da coalizão”. Com informações da Associated Press [18/9/06].