Ao escrever sobre a Gen Z, no mês passado, fui questionada sobre a razão desse nome. Geração Z, de zapear, pregaram alguns. Geração Z porque Z vem depois de Y, disseram outros. Cem anos atrás, as gerações eram descritas apenas por nomes, não por letras. Como está narrado no livro Paris É Uma Festa, de Ernest Hemingway (1899-1961), o termo Geração Perdida foi tomado por Gertrude Stein (1874-1946) de um mecânico que ralhava com um funcionário e usado em seguida para caracterizar seu círculo de amigos mais novos, em particular escritores e artistas que viviam na Europa depois de servir na Primeira Guerra.
Era o caso de Hemingway, que achou no final que ‘todas as gerações eram perdidas, por alguma razão’. Depois da Geração Perdida, vimos surgir o termo Greatest Generation, cunhado pelo jornalista Tom Brokaw para se referir às pessoas que nasceram sob as privações da Grande Depressão e contribuíram materialmente ou lutando na Segunda Guerra. Virou livro. E depois veio a Geração Silenciosa, jovem demais para ter lutado na Segunda Guerra, mas que também viveu seu impacto profundamente. Acho que minha mãe é dessa geração. Com o fim da Segunda Guerra veio a Geração Baby Boom, assim batizada devido ao crescimento das taxas de natalidade. E depois dos boomers veio a Geração X.
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O termo Geração X foi cunhado pelo fotógrafo Robert Capa no começo dos anos 50 e depois serviu como título de um ensaio fotográfico seu com jovens. Disseram que se referia aos jovens ainda sem identidade, talvez sem futuro, ou com um futuro incerto, por isso o X. Geração X também se tornou o nome de um livro de sociologia, de Jane Deverson e Charles Hamblett, publicado em 1965. Falava dos jovens que dormiam juntos antes de casar, que não aprenderam muito bem quem era Deus e/ou que não obedeciam mais a seus pais.
Consta que um exemplar do livro foi parar na casa da mãe do músico inglês Billy Idol, que batizou sua banda punk de Geração X, de 1976 a 1981. Digamos que a Geração X nasceu entre 1950 e 1970 e viveu o surgimento do computador pessoal, da TV a cabo, do videogame e da web.
Depois da X, claro, tinha de vir a Geração Y, nascida a partir de 1980 (os anos são sempre definidos arbitrariamente). Muito mais familiarizadas com a comunicação, as mídias e as tecnologias digitais, as crianças da Gen Y ensinaram seus pais a usar os controles remotos enormes ou a gravar filmes da TV. A Gen Y adotou e-mail, mensagem de texto via celular e MSN como formas de comunicação, enquanto lia O Senhor dos Anéis, crescia com Harry Potter ou via a trilogia de Star Wars em tela gigante. Música digital, iPod e download grátis se tornaram triviais. Acho que é bem a geração do meu filho, de 20 anos.
Depois do Z, o que vem?
Mas o tempo não para, assim como a fabricação de rótulos, e chegou a Gen Z, dos chamados nativos digitais. Esses não só demonstram uma incrível facilidade de lidar com qualquer tipo de equipamento novo como gostam de consumir ‘tudo ao mesmo tempo agora’. Usam instintivamente todos os recursos das redes sociais, como Facebook ou Twitter e, se tiverem dinheiro, serão viciados também em smartphones (como o iPhone) e tablets (como o iPad). Dizem que a Gen Z é mais consumista que a Gen Y, além de ser mais conectada. Parece o caso da minha filha de 12 anos, que adora passar a tarde no shopping do bairro com as amigas e os amigos. Sua turma fala no Skype e troca SMS ao fazer a lição de casa com a TV ligada.
É claro que classificar as pessoas em gerações sempre causa controvérsias. Até porque a data de nascimento de alguém não precisa corresponder à mentalidade, aos valores, ao comportamento, à maneira de ser ou mesmo à aparência.
Tenho idade para ser da Geração X, mas meu marido insiste que sou da Geração Z. Acho que ele tem ciúme da minha família Apple (Macbook, iPad e iPhone), que carrego para cima e para baixo, inclusive nas férias. Mas há um problema maior. Depois do Z, o que vem?
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Jornalista e diretora de conteúdo do UOL