A entrada do indiano Sundar Pichai no palco do centro de convenções Moscone, em San Francisco, foi triunfal. Sob aplausos e gritos, o segundo executivo mais importante do Google atrás apenas do cofundador e presidente Larry Page começou a falar sobre as novidades da companhia a uma plateia de quase 3 mil desenvolvedores de software, jornalistas e “googlers”, como são apelidados os funcionários da companhia.
Desde cedo, esse público enfrentou longas filas para acompanhar a conferência anual do Google. A abertura, que durou duas horas, mostrou coisas que já eram esperadas, como a nova versão do sistema operacional Android, até iniciativas completamente novas. É o caso do Jump, um sistema composto de equipamento e software feitos para popularizar a produção de conteúdo de realidade virtual, e uma versão do Android específica para os fabricantes de dispositivos que se conectam entre si, a chamada internet das coisas.
A extensa apresentação foi uma mostra de como, em sete anos, o Android passou de uma aposta com pouca credibilidade para um produto bemsucedido, com mais de um bilhão de usuários no mundo. Demonstrou também a complexidade dos negócios do Google, que envolvem desde carros sem motorista até balões para conexão de internet e óculos inteligentes, entre outras iniciativas.
O desafio, para o Google, será sustentar a vantagem tecnológica conquistada até agora em tantos campos diferentes. “Eles têm uma base grande, mas precisam ainda ganhar os usuários, trazêlos para os serviços e tornálos lucrativos de verdade”, disse Carolina Milanesi, diretora de pesquisa da Kantar Worldpanel, empresa de pesquisa de mercado, nos Estados Unidos.
A forma como o Google coleta e usa dados dos internautas para a venda de publicidade tem sido fonte constante de críticas à companhia, que mostrou na conferência funcionalidades que permitem controlar melhor a privacidade em dispositivos Android.
No ano passado, o Google anunciou novas versões do sistema para áreas específicas como carros, relógios e TVs. Ontem [quinta, 28/5], Pichar fez uma atualização sobe o que aconteceu em 12 meses. Segundo ele, sete relógios inteligentes estão no mercado. Nos carros, acordos com 35 montadoras foram fechados, entre elas GM e Volkswagen, que prometem lançar os primeiros veículos em 2016. O novo integrante da família, a versão do Android para a internet das coisas, terá suas primeiras partes lançadas até o fim do ano em caráter de teste. “Começamos pequeno nos telefones e hoje estamos em 400 fabricantes e 500 operadoras com quatro mil dispositivos. O mesmo processo vai acontecer com as outras áreas”, disse o executivo.
O Android não gera nenhuma receita direta para o Google. O sistema é oferecido de forma gratuita para qualquer desenvolvedor que queria usálo em seus produtos. O retorno à companhia é o fato de que mais pessoas podem se conectar à internet e, assim, ficar expostas aos anúncios online. No ano passado, a receita com publicidade do Google foi de US$ 59,06 bilhões, o equivalente a 89,5% da receita total. A companhia também ganha dinheiro com a venda de aplicativos em sua loja virtual, a Playstore. No ano passado, foram US$ 10 bilhões em todo o mundo. Desse total, US$ 7 bilhões foram pagos aos desenvolvedores e o restante ficou com o Google. A Playstore conta hoje com 1,4 milhão de aplicativos.
Ampliar o leque de uso do Android é importante para o Google à medida que um novo campo de batalha se desenha com a conexão de novos tipos de dispositivos à internet. E por se tratar de um segmento totalmente novo, várias empresas querem garantir seu espaço nele desde já. A Samsung maior vendedora de telefones Android no mundo anunciou no começo do ano que seus sistema operacional próprio, o Tizen, será a base para sua estratégia de internet das coisas. Outra coreana, a LG, também optou por um produto feito em casa, o webOS (comprado da HP em 2013). Correm por fora a americana Cyanogen e a chinesa Xiaomi, que desenvolvem suas próprias versões do Android. Isso sem falar no Windows, da Microsoft.
O Moscone está acostumado a ser palco de grandes eventos de tecnologia. No mês passado abrigou uma conferência da Microsoft e na semana que vem vai receber a Apple. No evento do Google, o robô verde que é mascote do Android pode ser visto em todos os lados. Os participantes tem demonstrado interesse.
Nas áreas reservadas para a apresentação das novidades, os desenvolvedores se espremem em busca de mais informações. A expectativa, agora, é ver que tipo de uso farão das tecnologias que estão sendo lançadas. Para o Google, assim como para seus concorrentes, é fundamental manter próximo esse público. “Nos vemos no ano que vem”, encerrou Pichar.
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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico; o repórter viajou a convite do Google