Você compraria um laptop que vem com apenas um grande programa – um navegador da web – e não permite que você instale softwares amplamente utilizados, como o Microsoft Office, o iTunes da Apple, o Adobe Reader ou qualquer outro programa de instalação local? Você está pronto para um laptop que não tem quase nenhum espaço de armazenamento para seus arquivos pessoais, suas fotos e vídeos, e foi concebido com base na ideia de que você vai guardar todas essas coisas pessoais, tão preciosas, em servidores remotos? Que tal um laptop que não faz quase nada se não estiver conectado à internet – por exemplo, não permite que você leia ou escreva e-mails, ou consulte sua agenda se estiver offline? Você compraria esse produto?
O Google espera que sim. Este mês a empresa lançou uma linha dessas máquinas radicais, em parceria com dois fabricantes de laptops, Samsung e Acer. Chamam-se Chromebook, referência ao Chrome, o navegador do Google, que é a porta de entrada para tudo que esse laptop faz. E seu objetivo é desafiar as duas plataformas dominantes, o Windows da Microsoft e o Mac OS X da Apple.
Esses novos portáteis são computadores de “nuvem” – basicamente, navegadores de tela cheia, projetados para fazer tudo através da internet. Em vez de usar programas tradicionais, você vai depender dos aplicativos de web acessados através do navegador – quer sejam programas de e-mail, processadores de texto ou editores de fotos, por exemplo.
Há inúmeros laptops que custam a mesma coisa ou menos
Venho testando um Chromebook, o Samsung Series 5, uma máquina bonita, relativamente leve, com tela de 12 polegadas. Nos Estados Unidos, custa US$ 430 pela versão Wi-Fi e US$ 500 por um modelo que inclui também um modem integrado para conexão de celular e exige uma tarifa mensal caso você exceda a modesta quantidade de dados gratuitos que o Google lhe dá.
Meu veredito é que o Chromebook é uma ideia ousada que pode ser um prenúncio do futuro da computação, mas hoje ainda é muito limitado e cheio de bugs para ser o computador principal do usuário normal. Não posso recomendá-lo em lugar de um laptop comum, exceto talvez como máquina secundária para os nerds da computação ou os que gostam de ser os primeiros a adotar as novidades.
É verdade que o Chromebook tem algumas vantagens sobre os laptops que rodam com Windows ou Mac. Mas o Google reconhece que esses laptops tradicionais podem executar os mesmos aplicativos que um Chromebook, além de rodar programas locais, armazenar todos os arquivos do usuário e também operar desconectados. Mesmo tablets como o iPad da Apple e concorrentes com base no sistema operacional Android, do Google, são capazes de rodar centenas de milhares de aplicativos instalados localmente ou baixados da web. Além disso, podem funcionar sem estarem conectados à internet e armazenar arquivos localmente. Em contraste, o Chromebook oferece hoje apenas cerca de 5.000 aplicativos de web. Além disso, os tablets pesam menos da metade do Samsung Series 5, que têm 1,5 quilo e são muito mais finos, embora com uma tela menor e sem o teclado físico do Chromebook. Quanto aos preços, há inúmeros laptops Windows que custam a mesma coisa ou menos.
Vantagens atraentes
Mas o Google é uma empresa inteligente, focada no futuro, e há uma lógica no Chromebook, que a empresa considera como o primeiro laptop projetado para a era da internet. E ele tem algumas vantagens atraentes sobre os PCs e Macs:
** A computação em nuvem chegou para ficar e muita gente já usa diariamente softwares com base na internet, como programas de e-mail ou serviços de vídeo em streaming. Assim, um computador centrado na nuvem não é uma ideia maluca. Para ajudar a encontrar aplicativos úteis baseados na web, o Chromebook tem uma loja de aplicativos, semelhante às lojas para tablets e smartphones. (A mesma loja já vem integrada ao navegador Chrome em PCs e Macs.)
** O Chromebook inicializa quase instantaneamente – em 10 a 15 segundos nos meus testes. Um dos motivos é que essa máquina é, na verdade, apenas um grande navegador.
** O Chromebook afirma ter uma longa duração de bateria – nada menos de 8,5 horas no modelo que testei. Não fiz um teste formal de bateria, mas usei a máquina por vários dias, de modo intermitente, sem precisar carregá-la.
** Como todos os aplicativos, configurações e arquivos são armazenados na nuvem, se você perder seu Chromebook, ou quiser usar o Chromebook de outra pessoa, basta entrar na sua conta no Google e tudo que você guardou vai aparecer na nova máquina.
** O Google atualiza automaticamente o sistema operacional, de modo que você não precisa fazer atualizações manuais.
Duas funções robustas, online e offline
O Google afirma que, como cada aplicativo é executado em uma aba no navegador, e essas abas são isoladas do resto do sistema, o Chromebook é muito mais seguro que outros computadores e não exige software de segurança. O sistema até verifica se foi adulterado a cada vez que inicializa.
Quanto ao problema do trabalho offline, o Google fornece uma pequena quantidade de memória para você salvar alguns arquivos. Também se pode inserir um cartão de memória ou pen drive com entrada USB contendo arquivos. Alguns destes, como imagens e PDFs, podem ser vistos offline no navegador, mas não editados. A máquina também inclui tocadores simples para música e vídeo, e uma função simples para tomar notas, que funcionam offline. Segundo o Google, alguns aplicativos da web também funcionam desconectados.
Mas há problemas. Por exemplo, assisti a um jogo de beisebol ao vivo e vi que o programa dá solavancos e paradas. O Google põe a culpa no processador fraco que está usando. Outro problema: embora o teclado seja bom, achei o touchpad da Samsung impreciso e desajeitado para se usar. O Chromebook também saiu do ar quatro vezes, sobretudo devido a um problema de “vazamento de memória” que o Google promete consertar. Quanto a imprimir, o que só se pode fazer com o serviço “impressão na nuvem” do Google, e não via cabo, funcionou apenas por algum tempo. E arquivos comuns não abrem automaticamente em aplicativos de web, embora o Google afirme que também está trabalhando nisso.
É importante notar que quando você usa um Chromebook, está confiando ao Google a privacidade e a segurança dos seus dados – e a empresa já teve problemas ocasionais nas duas áreas.
Conclusão: os programas melhores e mais numerosos ainda são projetados para Windows e Mac e ainda vivemos em um mundo sem uma conectividade sem fio onipresente, rápida, ilimitada e de baixo custo. Assim, os usuários típicos de laptop ficarão mais satisfeitos com computadores projetados para o nosso atual mundo híbrido, onde é necessário ter duas funções robustas, tanto online como offline.
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[Walter S. Mossberg é repórter do Wall Street Journal]