Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governos temem programa de mapeamento

Quando o Google lançou o Google Earth, programa gratuito que combina imagens aéreas de satélite com capacidade de mapeamento, a empresa enfatizou seu uso como uma ferramenta de ensino e navegação, além de fazer propaganda do prazer de se entreter com imagens aéreas de alta resolução de pontos turísticos como a Torre Eiffel, o Big Ben e as pirâmides do Egito. Mas, desde então, o Google Earth vem recebendo críticas de autoridades governamentais que têm se mostrado preocupadas com o detalhamento de prédios governamentais, instalações militares e outros pontos importantes dentro das fronteiras de seus países.

A Índia, cujas leis restringem fotografias aéreas e de satélite, explicitou suas preocupações. ‘O programa pode comprometer seriamente a segurança de um país’, afirmou V.S. Ramamurthy, secretário do Departamento federal de Ciência e Tecnologia da Índia. O major-general M. Gopal Rao considerou errado o Google não ter pedido permissão ao governo para tirarem as fotos. Autoridades da Coréia do Sul declararam temer que o Google Earth ofereça detalhes de instalações militares. Membros do governo da Tailândia afirmaram que pretendem pedir ao Google para bloquear as imagens ‘vulneráveis’ dos prédios governamentais. ‘Terroristas não precisam mais reconhecer seus alvos. Agora uma empresa americana está trabalhando para eles’, disse o tenente-general Leonid Sazhin, analista do Serviço de Segurança Federal russo, agência que substituiu a KGB.

O Google começou a tratar do assunto com estes países, mas o Google Earth é apenas o exemplo recente mais notório do aumento da transparência em um mundo digitalizado, no qual a informação, que antes era guardada cuidadosamente, está amplamente disponível em computadores pessoais. Muitos especialistas em segurança concordam que tanta transparência – e o desconforto produzido por ela – é um inevitável produto do poder e do alcance da internet.

O mundo no computador

Especialistas americanos do governo e fora dele geralmente não concordam com a alegação de que o Google Earth é uma ameaça à segurança, pois as mesmas imagens que o Google adquire de uma variedade de fontes estão disponíveis diretamente das companhias que fazem estas imagens. A maior parte das imagens de satélite do Google Earth, por exemplo, é feita pela Digital Globe, empresa com sede no Colorado.

O Google Earth foi desenvolvido por uma pequena empresa chamada Keyhole, comprada pelo Google no ano passado, e relançado em junho como um programa que pode ser baixado gratuitamente. Trata-se de um software que pode ser usado para ver imagens aéreas de pontos turísticos, prédios, montanhas, florestas, ruas, dentre outros, através do nome do lugar ou de sua longitude e latitude.

O governo federal americano começou a permitir que empresas de satélite comerciais fizessem e vendessem imagens de alta resolução nos anos 90, mas elas devem seguir diversas restrições de segurança. Por exemplo, as leis americanas requerem que as imagens captadas de Israel por empresas dos EUA sejam disponibilizadas apenas em baixa resolução; além disso, qualquer área que envolva a segurança nacional americana deve ter um atraso de 24 horas para imagens em alta resolução. ‘Você pode ter imagens para determinar onde há uma base militar, mas é muito difícil determinar onde estão as tropas em um momento específico. Não é vídeo’, explicou Vipin Gupta, analista de segurança do Laboratório Nacional Sandia, no Novo México.

Videogames

Uma grande discussão sobre segurança não estava nos pensamentos de John Hanke quando fundou, há cinco anos, a Keyhole. O objetivo era usar fotografias aéreas e de satélite para criar um mapa tridimensional do mundo. Como fundador de duas empresas de videogames, a idéia, segundo Hanke, era tornar os jogos mais interessantes. Hoje gerente-geral do Google responsável pelo Google Earth, Hanke está envolvido freqüentemente em discussões sobre transparência.

O Google Earth espera atualizar as imagens, com diferentes resoluções, a cada 18 meses. Chuck Herring, porta-voz da DigitalGlobe, informou que o governo federal nunca pediu a sua empresa para desfocar nenhuma imagem. Hanke também informou que nenhuma imagem com baixa resolução do Google Earth foi feita devido a restrições federais. Por um breve período, fotos da Casa Branca e prédios adjacentes que o United States Geological Survey, do Departamento de Interior dos EUA, forneceu ao Google Earth tinham alguns detalhes desfocados, porque o governo havia decidido que mostrar detalhes como área de pouso para helicópteros era um risco de segurança. Desde então, o Google decidiu substituir estas imagens com fotos não alteradas da área tiradas por Sanborn, uma companhia de imagens e mapeamento.

Muitos países, como Nigéria, China e Brasil, lançaram recentemente satélites, tornando ainda mais difícil para qualquer governo impor restrições. ‘Quando você tem múltiplos olhos no céu, o que você está fazendo é criar um globo transparente onde qualquer um pode ter as informações básicas sobre qualquer um. O governo indiano deveria aceitar a nova realidade. Os tempos são outros, e o melhor a fazer é se adaptar aos avanços da tecnologia’, opinou Gupta, analista da Sandia. Informações de Katie Hafner e Saritha Raí [The New York Times, 20/12/05].