Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grandes negócios para pequena mídia

Em 25 de janeiro deste ano, o diretor de tecnologia (CTO) do Facebook, Bret Taylor, declarou à revista de mídia tecnológica TechCrunch(AOL) que o foco da empresa em 2011 estaria na telefonia móvel e nas plataformas múltiplas baseadas no uso do código HTML5. As plataformas múltiplas, ou multi-plataformas, não dependem especificamente de nenhum sistema operacional: funcionam em todos eles. O HTML5 é a última versão do código HTML originalmente criado por Tim Berners-Lee para o desenho das páginas da web.

Taylor comentou ainda o sucesso do Google e da Apple no uso da última versão do código, apesar da versão anterior ainda ser amplamente dominante no mercado. Ainda há muito a fazer, em HTML5, mas o diretor aposta na adoção da linguagem, dizendo que, “apesar de sua `peculiaridade´, mais e mais o hiato entre as versões tende a diminuir”. O sucesso dos navegadores do Google (Chrome) e da Apple (Safari) dão lastro suficiente à declaração de Taylor: a nova versão da linguagem pode ser “esquisita”, segundo Taylor, mas é rápida e eficiente.

No dia 16 de junho, a revista Wiredanunciou que o Facebook está à beira de lançar a plataforma “Spartan”, para iPhones e iPads. A revista noticiou o projeto “secreto”, citando a fonte original: a reportagem de MG Sieglerpara a TechCrunchdo dia anterior. A plataforma virá toda em HTML5, e estará embutida no Safari móvel, o navegador portátil da Apple. A meta, segundo a mesma revista, é “usar os próprios recursos da Apple contra ela mesma, e `afrouxar´ o garrote que ela tem sobre aplicativos para telefonia móvel”, anotou a revista da AOL.

Pretensões hegemônicas

A estratégia de Zuckerberg visa a recuperar as perdas com plataformas em telefonia digital. O Twitter saiu na frente, quando a Apple lançou o iOS5 com o microblog integrado. O Facebook era originalmente o preferido, mas, por uma razão ainda não muito clara, o Twitter foi escolhido e agora vai ser o parceiro preferencial da Apple em sistemas operacionais para telefonia móvel. Tendo perdido a chance na parceria, a guerra foi transferida para o navegador da Apple: a intenção é derrubar a exclusividade das APP Stores (centros de venda de sotware da Apple) da empresa de Steve Jobs na distribuição de aplicativos e games.

São quase 80 parceiros no projeto, incluindo a Zynga (que deverá desenvolver seus games em HTML5, em vez de Flash), o Huffington Post e o Android. A plataforma também incluirá um sistema de créditos para pagamentos, coisa que a Apple já fez com eficiência. Agora o Facebook está a criar seu próprio sistema, para facilitar desenvolvedores que queiram ampliar, demonstrar e vender seus “apps” através da plataforma Spartan. A Wired resumiu bem o que quer o Facebook: “alavancar a massiva popularidade do iPhone e do iPad, mas em seus próprios termos, com uma plataforma própria e com bastante poder de controle”. A meta da mega rede social é se colocar como a “distribuidora modelo para games e aplicativos, e não a loja da Apple ou outro centro de distribuição”.

Fica claro, agora, porque Eric Schmidt, o ex-CEO do Google, falando à Conferência D9, colocou o Facebook entre as quatro companhias que estão dominando o consumidor de tecnologia, explorando estratégias de plataformas online (além da firma de Zuckerberg, ele citou o Google, a Apple e a Amazon). Há muito que o Facebook já não é apenas uma mega rede social. Seus interesses vão se diversificando na proporção em que amplia e melhora sua infra-estrutura tecnológica. E isso se parece muito com a postura de uma firma que tem pretensões hegemônicas dentro da indústria de mídia digital.

***

[Sergio da Motta e Albuquerqueé mestre em planejamento urbano e regional, consultor e tradutor]