O Hackasaurus é um projeto muito interessante da Fundação Mozilla, uma organização sem fins lucrativos que há anos se dedica a promover o uso criativo da web favorecendo a cultura participativa dos internautas. Criado pelo engenheiro da computação Atul Varma com design de Jess Klein, o Hackasaurus funciona basicamente a partir de um bookmarklet chamado X-Ray Goggles. Esse pequeno programa em Java Script, que pode ser facilmente instalado no navegador, foi criado para simplificar a exibição da estrutura de uma página da web e estimular os internautas a fazer verdadeiros remixes com os conteúdos. Essa mistura criativa é realizada a partir da manipulação de blocos de textos e de imagens, tal como em uma prancheta digital de diagramação.
Com o Hackasaurus, é possível, por exemplo, inserir uma foto do Fidel Castro ou do Hugo Chávez na página principal da CNN, redigir um título inadmissível, tal como: “Revolucionário lidera juventude americana rumo à nova utopia global” – e lincar as matérias para o Granma (órgão oficial cubano), salvando a página remixada nos servidores do Mozilla.
Divertido e fácil de usar, esse exercício é muito mais interessante do que uma mera traquinagem hacker. Para Jorge Nathan Matias, pesquisador assistente do Media Lab Center for Civic Media do MIT, quando aplicado na educação, o programa é uma excelente ferramenta para combinar a aprendizagem sobre os componentes editoriais de um veículo de comunicação com os saberes do “como fazer” um jornal.
A interpretação das mensagens
Em outras palavras, o Hackasaurus permite um exercício livre de composição gráfica e editorial de um portal de notícias, de modo a conduzir o jovem leitor a uma perspectiva mais consciente sobre os processos de produção de sentido em um veículo de comunicação.
Ao tornar mais fácil para os estudantes o ato de brincar e mexer com os blocos que compõem uma página web, explica o site oficial, o programa contribui para que os jovens deixem de ser meros consumidores digitais e se tornem produtores ativos, capazes de atuar na internet e fazer das informações uma matéria-prima para que possam reexaminar, moldar e remixar de acordo com suas próprias referências cotidianas. Nas palavras do pesquisador do MIT, ao abrir a “caixa preta” da webpage de modo extremamente simples, o programa usa a sedutora cultura da mixagem para introduzir os usuários nas tecnologias subjacentes à web.
Por tudo isso, o Hackasaurus parece particularmente interessante para pesquisadores e profissionais das áreas da educomunicação, media literacy e demais linhas da Comunicação e Educação interessadas em estimular as habilidades dos jovens estudantes na interpretação das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação.
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[André Azevedo da Fonseca é professor e coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba]