O presidente israelense, Shimon Peres, inaugurou, na quinta-feira (13/3), a feira do livro de Paris criticando a decisão de países islâmicos de boicotar o evento – que este ano homenageia escritores israelenses. ‘Aqueles que querem queimar livros, boicotar a cultura, impedir as opiniões e bloquear a liberdade condenam-se à cegueira’, afirmou Peres em hebraico no discurso de abertura do maior evento literário da França. Ele ressaltou ainda que o boicote ‘é a coisa mais estúpida’ que já ouviu na vida.
Trinta e nove escritores israelenses foram convidados para a feira, que este ano marca o 60º aniversário da criação do estado judeu. Em protesto, diversos países de maioria muçulmana e grupos de escritores decidiram boicotar o evento, que dura quatro dias. A Organização Educacional, Científica e Cultural Islâmica pediu que seus 50 estados membros ficassem de fora da feira, alegando que os ‘crimes contra a humanidade’ cometidos por Israel nos territórios palestinos o tornavam ‘desmerecedor’ de tal homenagem.
Desde o início de fevereiro, ataques israelenses em Gaza, controlada pelo Hamas, deixaram mais de 130 palestinos mortos. Israel afirma que a ofensiva é uma resposta aos ataques com foguetes quase diários sofridos em seu território. No início de março, oito adolescentes foram mortos por um atirador palestino em uma escola judaica, em um ataque atribuído ao Hamas.
Campanha pela paz
Irã, Líbano e Arábia Saudita apoiaram o boicote, assim como editores da Argélia, Líbano, Marrocos e Tunísia, que haviam reservado quatro estandes na feira. Organizadores do evento declararam que são os escritores israelenses os homenageados, e não o estado de Israel, e ressaltaram que muitos destes autores vêm, ao longo dos anos, fazendo campanha pela paz no Oriente Médio.
No jornal francês Le Monde, o acadêmico muçulmano Tariq Ramadan escreveu que a escolha de Israel como convidado de honra ‘em um momento em que palestinos estão morrendo em Gaza é indelicada e errada’. Ele afirmou, entretanto, que apóia os escritores palestinos que decidiram participar do evento e fazer seu papel de ‘críticos’.
O escritor israelense Amos Oz disse que as pessoas que defendem o boicote não são contrárias às políticas de Israel, mas sim a sua existência. ‘Eles dizem que Israel não deveria ser representado na feira do livro de Paris simplesmente porque eles pensam que Israel não deveria existir’, afirmou.
No ano passado, a feira homenageou escritores indianos; em 2009, será a vez dos mexicanos. Informações da AFP [13/3/08].