Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalismo de Twitter não é jornalismo

Investir pesadamente em novas tecnologias para maximizar o alcance do jornalismo e ampliar o nível de qualidade do mesmo requer muita reflexão sobre quais mídias devem ser utilizadas e quais são as melhores maneiras de usá-las. Nem todas as ferramentas são aplicáveis para todos os tipos de situações, ainda mais em um mundo inserido no contexto de uma sociedade hiper-conectada e com abundância de informações.

O aparente modismo das redes sociais tem feito com que muitos veículos de comunicação trabalhem de maneira simplória e até mesmo errônea com tais ferramentas. Os blogs, por exemplo, são estruturados dentro da própria página do jornal, sem qualquer diferenciação de uma seção comum da página. São, em sua maioria, formulados como meras colunas abordando determinados temas. Nem na aparência se assemelham aos blogs.

Outro exemplo é o uso massivo do Twitter para a cobertura ou criação de pautas. Qualquer veículo deve ter uma conta na rede social de microblogs para transmitir notícias de última hora ou realizar uma cobertura frenética e em tempo real, porém sem jamais se esquecer da publicação de uma reportagem mais completa posteriormente. Ao contrário do que pensa a ESPN com sua política de uso de redes sociais, o Twitter não roubaria tráfego do portal. Ele seria capaz de demonstrar uma instantaneidade na divulgação de certos eventos informando o mais rápido possível o público, pilares fundamentais do jornalismo e que não podem ser esquecidos no digital.

Com qualidade editorial

Entretanto, o Twitter tem sido fonte de pautas para o jornalismo. O chamado “segundismo” tem dado espaço para a rede social, onde comentários e opiniões de usuários estão sendo utilizados para complementar uma matéria. Isso é gravíssimo, já que a rede não dispõe de uma total confiabilidade quanto à identidade real de seus usuários. Usar tais comentários citando o endereço do perfil não substitui uma fonte “real”.

Há ainda uma seção do jornalismo digital que está sendo até mais precária quanto ao uso do Twitter. Alguns veículos estão usando celebridades e personagens de destaque cadastrados na rede como base de matérias rápidas. “Fulano disse em sua conta no Twitter que acordou com dores e talvez não jogue a próxima partida.” Pior do que citar publicações de usuários desconhecidos é tratar a rede como fonte fundamental. Isso se enquadra em um jornalismo simplório demais.

Com isso, um jornalismo que apenas está no mundo online não é um jornalismo digital, assim como um jornalismo que apenas utiliza as ferramentas das mídias sociais sem qualquer aplicação funcional ou planejamento não é um jornalismo pensado para os usuários. Não devemos confundir mecanismos com estratégia. Deturpar conceitos não refaz seu significado. O jornalismo digital deve usar o maior número possível de meios para chegar ao público, porém com qualidade editorial, e não apenas de forma quantitativa e exibicionista.

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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]