O jornalismo praticado na internet está assumindo cada vez mais uma cara diferente da adotada pela maioria das versões online de jornais impressos. A principal evidência desta diferenciação é o uso crescente de animação e paginação dinâmica, baseada num software chamado flash.
A sensação de quem visita pela primeira vez uma página jornalística animada é a de que estamos assistindo um telejornal ou um programa de documentários estilo Globo Repórter ou 60 Minutes. Na realidade estamos entrando no terreno da multimídia, ou seja o uso simultâneo de áudio, vídeo, texto e interatividade.
Alguns já falam no ‘jornalismo flash’, cuja principal virtude é gerar um envolvimento e uma participação muito mais intensas dos usuários do que nas páginas web comuns. Além disso o programa é compatível com todos os sistemas operacionais existentes no mercado tornado-o uma espécie de plataforma de consenso.
Em compensação, a grande desvantagem é que o uso do flash exige computadores mais atualizados e pessoal especializado para produzi-lo. Também requer uma conexão mais rápida porque o programa é bem mais pesado do que os comumente usados em páginas de jornais online.
Trabalhos inovadores
O aumento do número de internautas e a necessidade de oferecer conteúdos cada vez mais diferenciados para poder atrair a crescente publicidade virtual está levando muitos sites jornalísticos a procurar os conteúdos dinâmicos como a próxima alternativa, depois que os blogs deixarem de ser uma novidade.
No Brasil, poucos sites jornalísticos adotaram a plataforma flash com a intensidade do jornal argentino Clarín, que já produziu alguns trabalhos inovadores como ‘Los piqueteros’, ganhador do prêmio concedido pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, criada pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez e que distribui 25 mil dólares – o maior prêmio da América Latina – na categoria jornalismo na Web.
O Globo MediaCenter é uma experiência bem-sucedida no uso de imagens dinâmicas na internet mas não é um site jornalístico, já que seu conteúdo é formado basicamente por programas da TV Globo. Nem Folha de S.Paulo e nem o Estado de S.Paulo arriscam na produção de jornalismo multimídia em ambiente flash.
Informações dinâmicas
A melhor referência brasileira no setor está em Pernanbuco, onde o Jornal do Commercio tem feito vários especiais que usam o flash em alguns segmentos.
Os trabalhos do Jornal do Commercio mostram que o problema não é o custo, mas uma decisão editorial. Na Argentina, um jornal do interior, o La Voz, de Córdoba, passou a usar também o jornalismo multimídia, produzindo reportagens em flash como ‘El horror está enterrado en San Vicente’, uma investigação sobre desaparecidos políticos.
Segundo a professora norte-americana Mindy McAdams, autora do livro Flash Journalism, o jornalismo multimídia é ‘a forma mais envolvente que existe de transmitir notícias e informações’. O também norte-americano Naka Nathaniel, do The New York Times, considerado o maior guru do jornalismo multimídia, prevê: ‘O futuro do jornalismo está na imersão do usuário na notícia e isto só será possível através de da multimídia com imagens e estruturas de informação dinâmicas’. [Postado em 5/10/2005, às 17h07]
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Editor do blog Código Aberto