Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

LinkedIn aponta nova bolha

A abertura de capital do LinkedIn na Bolsa é mais um sinal de uma nova bolha da internet, dizem especialistas. A empresa começa a ter hoje seus papéis negociados na Bolsa de Valores de Nova York, com valor de mercado de US$ 4,25 bilhões – ela elevou nesta semana em cerca de 30% o preço das suas ações na oferta inicial. Isso por uma companhia que lucrou US$ 15 milhões no ano passado. Ou seja, o seu valor de mercado pode ser mais de 280 vezes superior ao ganho obtido em 2010.

Mas não é só a rede social que preocupa. A compra do Skype pela Microsoft por US$ 8,5 bilhões seria mais um indício: a empresa de telefonia via internet ainda não se mostrou altamente lucrativa, apesar da fama, e perdeu US$ 7 milhões em 2010. São casos que relembram a bolha anterior, que estourou em 2000. A alta foi tanta que o índice Bolsa Nasdaq (de companhias de alta tecnologia) está hoje mais de 40% abaixo do valor atingido em seu auge.

Outra fonte de preocupação é o mercado secundário, em que são negociados os papéis de empresa que ainda não são vendidos em Bolsa. Para analistas, há muito dinheiro nesse mercado, jogando os preços das empresas para as alturas, e não há fiscalização apropriada.

Aportes milionários

O Facebook, por exemplo, está avaliado hoje em quase US$ 80 bilhões. “Imagine se algo acontece e cai para US$ 20 bilhões, o que ainda é bastante. Será um banho de sangue”, diz Vivek Wadhwa, professor da Universidade Duke e fundador de duas empresas de tecnologia. Para ele, o excesso de dinheiro está corrompendo o Vale do Silício, região da Califórnia que abriga várias companhias de tecnologia. “As pessoas estão ganhando dinheiro antes mesmo de a empresa abrir capital, temos secretárias com US$ 1 milhão. Se você tem US$ 30 milhões na sua conta, vai se preocupar em trabalhar oito horas por dia ou em comprar uma Ferrari e um iate?”

Steve Blank, investidor que ganhou muito dinheiro nos anos 1990 com investimento em empresas iniciantes e hoje dá aulas na Universidade Stanford, critica a falta de fiscalização nos mercados secundários. Para ele, o problemas não está nas empresas já conhecidas, como Facebook, Twitter e Zynga. As redes sociais, diz, são o equivalente atual às companhias petrolíferas do século 20: vão ter lucros e receitas “insanos”. “O problema é que não há mil empresas dessas. As primeiras 20 que entrarem na Bolsa se darão espetacularmente bem. As próximas cem vão se dar bem. A bolha chega ao fim quando a sua avó diz que comprou ações de uma empresa que você nunca ouviu falar.”

De acordo com Blank, o processo da bolha está apenas no começo, quando há muita gente ganhando dinheiro, mas é impossível prever quando ela vai estourar. Outro foco de problema, diz o investidor, está nas empresas iniciantes desconhecidas, que recebem aportes milionários antes mesmo de produzir algum resultado financeiro. Um exemplo claro, afirma, é a Color, de aplicativos para smartphones, que recebeu um aporte de US$ 41 milhões há dois meses. “Pessoas sensatas estão preocupadas”, diz Wadhwa.

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Da Folha, em Nova York