O juiz britânico Lorde Hutton estaria chocado com a reação negativa a seu relatório sobre o caso que envolve a BBC e o cientista David Kelly, segundo apuração do Guardian [4/3/04]. No documento, o jurista criticou a postura da emissora pública e do Ministério da Defesa, dando o benefício da dúvida ao premiê Tony Blair, que poderia até cair se houvesse a conclusão de que ele tinha culpa numa falsificação de dados de inteligência para justificar a invasão anglo-americana do Iraque.
As críticas de Hutton à BBC estremeceram a companhia. O presidente Gavyn Davies e o diretor-geral Greg Dyke renunciaram a seus cargos, os dois mais altos da organização. O jornalista Andrew Gilligan, que deu origem ao problema ao inferir que o governo teria mentido, também se demitiu. O juiz, de acordo com fontes do governo e do parlamento, acredita que seu relatório foi mal interpretado pela mídia e está chocado com as demissões, que considera atitudes exageradas. Ele achava que suas conclusões seriam esclarecedoras e que colocariam um fim na polêmica, e não que seriam consideradas um artifício para livrar a cara de Blair. Parlamentares de um comitê de administração pública da Câmara dos Comuns planejam questionar Hutton sobre essa reação ao relatório.
Enquanto isso, começaram as especulações sobre quem será o novo presidente da BBC. O atual presidente da Sony e ex-presidente da CBS, Howard Stringer, era um nome bem cotado, pois chegou a fazer entrevista para a posição, há três anos, quando Davies entrou. Mas ele já negou que poderia assumir o comando da emissora pública, alegando ter um contrato de três anos que pretende cumprir. As inscrições para os candidatos à função já foram fechadas e o processo de seleção será supervisionado por uma comissão parlamentar. Há rumores de que Anthony Smith, um dos fundadores do Channel 4, teria se inscrito. Outros presidenciáveis seriam Patricia Hodgson, ex-presidente da Independent Television Commission, e Richard Lambert, ex-editor do Financial Times que coordenou o processo de avaliação do canal BBC News 24 pelo governo.
Além de Stringer, outros executivos de mídia importantes já disseram que não têm interesse na presidência da BBC. O cargo confere muito prestígio a quem o ocupa, mas tem um salário baixo em comparação ao setor privado: cerca de US$ 165 mil anuais, com uma semana de quatro dias de trabalho.