Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luciana Coelho

‘A contrapartida americana à TV qatariana Al Jazira -que ganhou destaque na Guerra do Iraque ao oferecer ao mundo, em inglês, a cobertura sob a ótica árabe- demorou, mas veio com objetivo claro: dar voz -e poder- aos moderados da região.

‘É importante podermos ao menos competir no mercado ideológico’, diz o radialista americano Norman Pattiz, 61, que desenvolveu a Al Hurra (‘aquela que é livre’), a rede americana para o público árabe. ‘Mas só tentamos persuadir os persuasíveis.’

Na última segunda, a Al Hurra passou a transmitir 24 horas por dia -14 de noticiário- em 22 países. Com orçamento reduzido (US$ 62 milhões para 2004) e uma equipe de 75 jornalistas vindos da região-alvo, além de alguns americanos de ascendência árabe, a rede sediada em Springfield (Virgínia) quer alcançar o mesmo público da Al Jazira: 30 milhões.

Pattiz é veterano na área- fundou a Westwood One, maior produtora de conteúdo de rádio dos EUA, e dirige o comitê de Oriente Médio do Conselho Regulador da Radiodifusão, agência federal que supervisiona a radiodifusão internacional dos EUA. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de Los Angeles, onde vive.

Folha- Como se chegou à decisão de criar um canal de TV americano para o Oriente Médio?

Norman Pattiz – Qualquer um familiarizado com a mídia na região sabe que há um alto teor de discursos de ódio no rádio e na TV, de incitação à violência, de desinformação, de censura estatal e até de autocensura entre os jornalistas. Até a criação da rádio Sawa [2002], os EUA não tinham quase acesso à região. E a Sawa, uma estação claramente americana, começou a fazer sucesso.

Folha – Como foi vista a cobertura da Guerra do Iraque pela Sawa?

Pattiz -Eu diria que foi bem equilibrada. A missão do conselho é dar um exemplo de livre imprensa. Nossos espectadores não são burros, não estamos no negócio da propaganda ideológica nem no de operações psicológicas. Se tivermos um produto que os espectadores achem crível, eles continuarão nos ouvindo.

Folha – Mas o conselho é ligado ao governo. Não há pressões?

Pattiz – Um de nossos principais papéis é servir de filtro entre a independência dos jornalistas e as pressões que nos são impostas pelo governo ou pelo Congresso.

Folha – Como está a aceitação da Al Hurra pela população da região?

Pattiz -Não temos como saber ainda, pois estamos no ar há pouco tempo. A imprensa árabe foi extremamente dura, mas grande parte das críticas começou antes de irmos ao ar. Mas também recebemos milhares de e-mails positivos de gente que está nos assistindo. Como nosso público-alvo não é a mídia, neste momento nos interessa qualquer coisa que faça as pessoas saberem que estamos lá.

Folha – Como é a relação de vocês com a Al Jazira?

Pattiz – Eu os conheço bem. O xeque Hamad al Thani, diretor da Al Jazira, foi o primeiro a dar permissão para a Rádio Sawa ter uma freqüência FM, e o pessoal da Al Jazira rompeu alguns tabus muito importantes na região.

Folha – Sem a Al Jazira haveria maior dificuldade para a Al Hurra?

Pattiz – Com certeza a ascensão da TV por satélite na região, da qual a Al Jazira é o melhor exemplo, não só tornou possível como também necessária a criação da Al Hurra. Mas provavelmente deveríamos ter criado a Al Hurra há anos, quando esse tecnologia surgiu. Cerca de 60% das pessoas dessa região têm menos de 25 anos, uma bolha populacional enorme que não tem ainda um bom senso de história. Aí vem a TV por satélite, capaz de cobrir todos os países da região, apresentando informações de uma maneira até então inédita e que, na nossa opinião, pode radicalizar essa população que está crescendo e criar grandes problemas. É por isso que é tão importante podermos ao menos competir no mercado ideológico.

Folha – A cobertura do conflito israelo-palestino pelo canal é tida como enviesada por alguns críticos. Como o sr. a vê?

Pattiz – Não acho enviesada, acho precisa. A abordagem da crise israelo-palestina pela imprensa tem base no que ocorre hoje, com pouco contexto. Mas a crise não surgiu hoje, ela surgiu em 1948 [com a criação de Israel] e tomou maior proporção em 1967 [com a Guerra dos Seis Dias]. Antes de 1967 não eram os israelenses que estavam nessas áreas, mas os egípcios e os jordanianos, que poderiam ter criado um Estado palestino a qualquer hora, mas não o fizeram. Quando seis países invadiram Israel, em 1967, Israel teve de se mover para o que hoje são os territórios ocupados. Acho que esse tipo de informação deve ser acrescido ao debate. Sem contexto histórico só sobra paixão.

Folha – A Al Hurra vai dar exatamente esse contexto?

Pattiz – Sim. Queremos apresentar o quadro geral, para que as pessoas julguem com o máximo de informação possível. O que esperamos é ser um canal que dê voz aos moderados, que na região não têm muito espaço.

Folha – Isso é um meio de dar poder a eles.

Pattiz – Sim, com certeza.

Folha – É uma meta dos EUA?

Pattiz – É… Quer dizer, conseguir expor a visão dos moderados é nosso objetivo, mas pretendemos promover debates acirrados entre pessoas com pontos de vista mais radicais e mais moderados.

Folha – Haverá espaço para falar de religião?

Pattiz – Com certeza, noticiaremos eventos religiosos importantes, por serem notícia, mas não promoveremos nenhuma religião. Podemos ter mesas-redondas sobre aspectos religiosos envolvendo um determinado fato.

Folha – Os jornalistas vão aparecer no vídeo no estilo ocidental?

Pattiz -A maioria sim, mas há alguns que preferem roupas tradicionais islâmicas, inclusive a cabeça coberta. Temos sucursais na região, então haverá muita gente vestida conforme a tradição local. Já os apresentadores devem optar pelo estilo ocidental.

Folha – Vocês estão recebendo críticas por isso?

Pattiz -Recebemos alguns e-mails bem fortes, embora as mensagens negativas sejam uns 2% do total. Há quem ache que sejamos controlados pelos israelenses ou que façamos parte de uma operação da CIA.

Folha – Recentemente, uma reação negativa do público árabe tirou do ar a versão local do ‘Big Brother’. Como a Al Hurra vai lidar com uma platéia mais sensível em termos comportamentais?

Pattiz – Bom, já houve até fatwas [decretos religiosos] emitidos por líderes islâmicos proibindo os fiéis de ver a Al Hurra.

Folha – Onde?

Pattiz – Na Arábia Saudita e em mais uns dois lugares. Mas só tentamos persuadir os persuasíveis. Não é nosso trabalho promover a política americana, e sim descrevê-la precisamente, debatê-la, para que as pessoas entendam que, numa democracia, pode-se discordar do governo. Só que as políticas desse governo são extremamente impopulares, e nós seremos vistos, inicialmente, como uma organização de propaganda ideológica. O único jeito de contestar isso é mostrar imparcialidade. Sem credibilidade, estaremos fadados ao fracasso.’



BBC Brasil

‘TV árabe acusa EUA de matar jornalista no Iraque’, copyright BBC Brasil (www.bbc.com.br), 19/03/04

‘Emissora ganhou credibilidade entre árabes, mas desagradou coalizão

A emissora de televisão por satélite Al-Arabiya, sediada em Dubai, afirmou nesta sexta-feira que um jornalista e um cinegrafista árabes foram deliberadamente mortos por soldados americanos no Iraque.

A Al-Arabiya diz que o repórter e o cinegrafista que o acompanhava foram atingidos quando viajavam em um veículo que estava claramente com a identificação de que era propriedade de um órgão de imprensa.

De acordo com a emissora, os dois estavam viajando para investigar ataques de morteiros, após o anoitecer, na cidade de Bagdá. O jornalista Ali Al-Khatib teria morrido na manhã desta sexta-feira, em um hospital iraquiano.

Um dos correspondentes da Al-Arabiya disse que o cinegrafista Ali Abdelaziz morreu na quinta-feira, no local do incidente, em um posto de controle no centro de Bagdá.

‘Crime horrendo’

Um porta-voz americano confirmou apenas que soldados atiraram em um iraquiano que não parou em um posto de controle. A emissora disse que o incidente foi um ‘crime horrendo’ e exigiu uma investigação completa.

‘Com muita dor, recebemos a notícia da morte de nosso correspondente Ali Al-Khatib. Ele morreu em decorrência dos tiros na cabeça recebidos de forças americanas enquanto exercia suas funções’, diz o comunicado que foi ao ar na emissora.

Mohsin Abdel Hamid, membro do Conselho de Governo do Iraque, condenou as forças americanas e disse que o incidente foi uma ‘agressão clara’.

‘Isso foi uma agressão clara das forças de ocupação à imprensa. Já havíamos dito que eles não têm o direito de matar as pessoas aleatoriamente nas ruas.’

Na sexta-feira, um porta-voz da emissora disse à agência de notícas Reuters que os dois mortos ‘receberam os tiros por trás, quando estavam indo embora, e não se aproximando do posto de controle’.

A Al-Arabiya nasceu há um ano para competir com a rede Al-Jazeera. A emissora conquistou credibilidade entre os árabes por sua cobertura da guerra do Iraque, mas recebeu críticas da coalizão liderada pelos Estados Unidos.’



SOFTWARE LIVRE
Renato Cruz

‘Linux pode impedir crescimento, diz Microsoft’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/03/04

‘O principal argumento da Microsoft para convencer o governo brasileiro a mudar a iniciativa de abraçar o software livre – como o sistema operacional Linux – é econômico. Para o vice-presidente mundial de Vendas e Marketing da empresa, Kevin Johnson, a preferência ao software livre, que não exige pagamento de licenças, pode prejudicar a indústria local de programas para computadores e, dessa forma, impedir a inserção do Brasil no mercado global de tecnologia.

‘É quase impossível alcançar o crescimento econômico, uma das prioridades do governo brasileiro, com o Linux’, afirmou Johnson, na sede da Microsoft, perto da cidade de Seattle, no Estado de Washington. Ele argumentou que, para alcançar o crescimento econômico, são necessários bons sistemas de educação e de pesquisa, políticas e leis que incentivem os negócios e acesso ao capital.

Para a exportação de software, um dos setores eleitos pela política industrial anunciada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, seria preciso haver um bom ‘ecossistema tecnológico’ local, para servir de base às vendas ao exterior: ‘Um destaque é a Índia, que criou uma indústria de exportação.’ Na visão de Johnson, isto não seria possível com o software livre, que não remunera os programadores.

Do lado do governo brasileiro, ao lado do posicionamento mais ideológico, também existem argumentos econômicos importantes para a adoção do software livre. O primeiro, e mais óbvio, é o preço. Como não existe pagamento de licenças, o custo de aquisição é zero.

Para a Microsoft, o que deve ser levado em conta é o custo total da sistema, o que inclui a manutenção. Estatais do setor de tecnologia como o Serpro, do Ministério da Fazenda, e a Cobra, do Banco do Brasil, têm grandes projetos de software livre, o que poderia reduzir o custo de manutenção para o governo.

Outro argumento econômico do governo é a redução da independência de um fornecedor único. Nove em cada dez microcomputadores no mundo usam o Windows da Microsoft.

Liberdade – A empresa contrapõe, neste caso, o argumento de que deve haver livre concorrência. ‘Queremos liberdade de escolha e competição’, afirma Johnson. ‘Nossa maior preocupação são leis e políticas que dêem preferência a uma plataforma tecnológica.’

No começo do mês, durante o evento Telexpo, em São Paulo, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Pedro Jaime Ziller, disse que os recursos do Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações (Fust) não irão servir para pagar por software proprietário. Entre outros projetos, o Fust deve financiar a instalação de internet nas escolas públicas.

Johnson esteve em Brasília no mês de novembro, para conversar com representantes do governo. A preocupação da Microsoft vem mais da capacidade de o governo influenciar o restante do mercado que do peso real dos contratos com o poder público, que correspondem a cerca de 6% do faturamento da subsidiária brasileira da companhia.’



INTERNET & NAZISMO
O Globo

‘Sem fiscalização, nazismo ataca na internet’, copyright O Globo, 21/03/04

‘Crime inafiançável, com pena prevista de dois a cinco anos de reclusão, o nazismo está sendo difundido no Brasil através da internet, sem maiores punições. O advogado Waldemar Zveiter, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), apresentou uma representação ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, para pedir uma investigação sobre o site Ditadura Civil no Brasil. É apenas um dos muitos sites que fazem propaganda do nazismo e do racismo no país.

A página exibe um artigo, assinado por Mitra Leon, que atribui aos judeus a responsabilidade de uma série de mazelas enfrentadas pelo Brasil ao longo da História, como o tráfico negreiro, a dívida externa e a ditadura militar. Por fim, Leon apresenta aos neonazistas uma lista de judeus na qual figura toda a família Zveiter.

– A forma como ele se refere aos judeus, como uma praga, é inconcebível. Não posso aceitar que, no meu país, um cidadão que eu nem sei quem é me trate desta maneira. Isso é um crime – protesta Waldemar Zveiter.

‘É preciso denunciar isso’, diz advogado

Como não há fiscalização eficaz contra o crime na rede, neonazistas criam e acessam sites com a suástica difundida por Adolf Hitler. Um desses sites, o Libre Opinion, diz: ‘Não há provas que o Holocausto, tal como é apresentado pelo Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto e pela altamente politizada indústria de Hollywood, tenha ocorrido’. Diz ainda que as notícias de que os nazistas teriam utilizado câmaras de gás para matar judeus seriam fantasiosas.

O site N/S Welt, hospedado pelo Libre Opinion, sugere que seus visitantes inventem piadas para depreciar as minorias e mantém uma seção com quadrinhos também discriminatórios. Tudo sem punição.

Para Waldemar Zveiter, esta é uma forma de incentivar atitudes violentas, que crescem a cada dia nas cidades grandes.

– Os skinheads estão espancando homossexuais até a morte. É preciso denunciar isso – diz.’

***

‘Artifícios para escapar de punição’, copyright O Globo, 21/03/04

‘Atentos ao perigo de punição, os sites que fazem apologia ao nazismo fazem de tudo para driblar possíveis investigações. A página Sociedade Ariana, por exemplo, deixa em alemão a apologia ao ódio às minorias. Enquanto isso, em português, define-se como um reduto da discussão histórica e científica sobre o nazismo.

O site apresenta, ainda, links para outras páginas com conteúdo mais ofensivo a judeus, negros e homossexuais – inclusive para um texto que faz comparações anatômicas entre o mestiço brasileiro e o macaco. Além disso, mantém um grupo fechado de discussão sobre o tema. Para integrar o grupo, é preciso ser aprovado pelos dirigentes, que querem saber se o aspirante é mesmo neonazista ou apenas um curioso.

A maior parte desses sites está hospedada em provedores internacionais – uma forma de escapar da norma imposta pela maioria de provedores nacionais pela qual o site hospedado não pode apresentar conteúdo criminoso.

Até o Napster, popular página dedicada à música na internet, divulga canções de bandas neonazistas de todas as partes do mundo. A maioria das letras incita o ouvinte a cometer atos violentos contra minorias.

Os simpatizantes da filosofia nazista também chegam a fazer um comércio paralelo pela internet com a venda de coleções de moedas e cédulas alemãs da época do governo de Hitler, além de um arsenal com insígnias de uniformes de soldados da época, pôsteres de propaganda fascista, livros, selos com fotos do ditador e até um disco com marchas nazistas datado de 1970.’