Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Beraba

‘A FOLHA tem, desde o domingo passado, um novo visual. É a quinta grande reforma que faz desde o final da década de 1980.

Na luta por um lugar ao sol num mercado cada vez mais competitivo, as empresas jornalísticas adotaram as reformas gráficas como um elemento de renovação e de marketing. Os adjetivos pinçados para os lançamentos são cada vez mais publicitários. Mas, como todos os grandes jornais brasileiros se reformaram nos últimos anos, o impacto das mudanças é cada vez menor.

O projeto da Folha parte de aspectos da vida moderna que desafiam os diários: a falta de tempo do público, a internet e a rapidez na difusão das notícias. Ela acredita que está editada agora de uma forma que pode ser lida em ‘duas velocidades’: 5 minutos (pelo ‘leitor que folheia’) ou 50 minutos (pelo ‘leitor profundo’).

A minha primeira impressão foi de excessos -de cores, de recursos gráficos, de informações pingadas-, como registrei na Crítica Interna de segunda-feira. Recebi, até sexta, 115 mensagens sobre a reforma. Como sempre, menos elogios, embora desta vez o número de mensagens de apoio, 21, tenha sido o maior que já recebi sobre alguma iniciativa do jornal -lembro que raramente os leitores satisfeitos procuram o ombudsman. Vamos às críticas.

Menos texto

Demétrio Magnoli, o titular da coluna vertical das quintas-feiras da página A2, calcula que perdeu 20% do espaço que tinha e reclamou, no pé do artigo do dia 25 (‘O indizível’): ‘Esta coluna perdeu quase um quinto do seu espaço. De que serve opinião sem fato ou contexto histórico?’

Magnoli não foi o primeiro a reclamar. No domingo mesmo da implantação do novo projeto, Janio de Freitas chamou a atenção, na nota ‘Explicar é preciso’, para o engessamento que a reforma impôs à sua coluna. ‘É uma tendência atual em grande parte da imprensa: a prioridade ao grafismo publicitário. Bom tema para debate, sobre suas origens e conseqüências, se há tanto tempo o jornalismo, em geral, não estivesse desinteressado de se discutir’.

O espaço para os leitores encolheu. O ‘Painel do Leitor’ publicou, de domingo a sexta desta semana, 56 cartas (muitos elogios à reforma) e uma nota de Redação; na semana anterior, no mesmo período, foram publicadas 63 cartas, com três respostas da Redação -uma perda de 11%.

Vamos ver como será daqui para a frente. O jornal tenta compensar com a edição de cartas na internet (www.folha.com.br/paineldoleitor), mas é claro que não tem o mesmo efeito. O leitor José Valter Martins de Almeida escreveu que imaginava que o ‘PL’ seria ampliado e se decepcionou. Eu também. Esta coluna do ombudsman perdeu pelo menos 4% de texto.

Letras menores

Muitos leitores reclamaram que o tamanho das letras teria sido diminuído em algumas seções, sobretudo na Ilustrada. Ulysses Gavaldão foi direto no que lhe interessa: ‘Estou reclamando das palavras cruzadas, que eu tenho o hábito de fazer todos os dias e, infelizmente, ficou impossível com a diminuição das letras’. Ele brinca com os que fizeram a reforma: ‘Está faltando um pouco de visão para este pessoal’. As queixas se estenderam à programação de filmes e TV e à ‘Astrologia’.

Ilustrações

O novo figurino da Folha acabou com as ilustrações em cerca de 20 colunas fixas. Os artigos ganharam mais destaque editados no alto das páginas, mas perderam espaço e as ilustrações, portas de atração para os textos e de reflexão. Recebi 20 queixas, principalmente de ilustradores. A maior parte das cartas lembrava que a Folha havia valorizado a ilustração ao longo das últimas duas décadas e que não entendia a razão da mudança empobrecedora.

A colunista Barbara Gancia acusou a perda na sexta-feira: ‘O jornal como um todo está mais formoso e ganhou em agilidade com a reforma. Mas, na minha modestíssima opinião, este canto específico da página dois do caderno de Cotidiano saiu perdendo. Ficou com cara de bula de remédio’.

Ainda é cedo para uma avaliação mais profunda das mudanças no conteúdo do jornal. Na minha opinião, o aspecto mais importante é que a reforma gráfica e a campanha publicitária que gerou indicam que a empresa está, enfim, terminando a travessia do deserto que debilitou a Redação nos últimos três anos e reiniciou os investimentos no jornal. Já era tempo.’

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‘Cortes foram de até 20%’, copyright Folha de S. Paulo, 28/5/06.

‘Encaminhei alguns dos problemas apontados pelos leitores à Redação e recebi as seguintes explicações:

Corte de textos – ‘Não houve corte linear. Algumas colunas não perderam nada. Outras, as mais extensas, tiveram corte entre 10% e 20%. Mas ganharam visibilidade, corpo maior de texto, assinatura maior, criação de um olho e uma fonte nova. No texto noticioso, a fonte Chronicle, bem mais robusta e legível do que a anterior (Minion), implica corte de menos de 1% de massa de texto noticioso em uma coluna cheia.’

Tamanho das letras -’Quase todas as letras do jornal foram aumentadas. Nenhuma foi diminuída. Nos textos menores foi adotada uma nova fonte, a Retina, criada especialmente para conferir mais legibilidade a tabelas e roteiros. Em certos casos houve problemas técnicos. Alguns, como nas Cruzadas e nas sinopses de TV, já foram corrigidos.’

Ilustrações – ‘Para melhorar o desenho da página, foram abolidas as ilustrações das colunas da página 2 de Cotidiano. Mas elas continuam na contracapa da Ilustrada. Com a reforma, a Folha pretende investir em grandes ilustrações e inseri-las com mais freqüência nas páginas noticiosas.’’