‘O americano Tom Hanks aparece no alto de qualquer lista dos astros mais poderosos de Hollywood. O motivo é simples: das quinze últimas produções que estrelou, treze faturaram mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias. Em filmes como Forrest Gump e O Resgate do Soldado Ryan, Hanks construiu sua fama com tipos que são a personificação do bom-mocismo. Essa imagem se confunde com a do Hanks real. Aos 47 anos, ele é visto como um marido e pai de família exemplar – o ator tem dois filhos de um primeiro casamento e outros dois com sua atual mulher, a atriz Rita Wilson. Nos últimos anos, no entanto, uma mudança de foco vem ocorrendo em sua carreira. Em Estrada para Perdição (2002), ele pela primeira vez interpretou um criminoso. Volta a encarnar um bandido no filme Matadores de Velhinha, com estréia no Brasil prevista para junho. Por ocasião do lançamento do novo trabalho nos Estados Unidos, Hanks – alguns quilos acima do peso – concedeu a seguinte entrevista a VEJA.
Veja – O senhor é considerado um dos atores mais poderosos do cinema americano. O que é ter poder em Hollywood?
Hanks – O maior poder em Hollywood é a possibilidade de dizer não. Poucos atores e diretores têm a prerrogativa de decidir se querem fazer um filme ou mesmo um comercial. Essa prerrogativa é o sinal mais evidente do poder de um ator, diretor ou roteirista. Mas, para ser franco, sei que meu nome tem um peso e procuro me valer disso para ir um pouco além: se já prestei tantos serviços, quero ter em contrapartida a possibilidade de realizar projetos que não seriam financiados se não fosse por meu poder de fogo. é o caso da série Band of Brothers, que produzi para a HBO. Ninguém em sã consciência na indústria do entretenimento investiria num programa com dez episódios de uma hora que compõem uma saga, pois se trata de um formato que, aos olhos das companhias, é totalmente anticomercial. De fato, sem a presença de meu nome e do de Steven Spielberg nos créditos, isso provavelmente seria inviável. O projeto só saiu do papel porque eu me vali de todo o poder de pressão de meu nome para convencer a HBO de que o investimento compensaria.
Veja – O senhor já declarou que ser um astro de Hollywood é uma profissão como qualquer outra. O que há de trivial em ser um superastro?
Hanks – Dizer que não existe glamour em minha profissão seria um absurdo. Mas, quando você está enfrentando uma maratona de filmagens, com doze horas de batente por dia, nossa profissão pode se tornar tão extenuante quanto ser médico ou professor. Você precisa se concentrar no trabalho e às vezes tem de passar longos períodos longe da família ou sem lhe dar a devida atenção – o fato que mais me incomoda. E, se tirarmos a parte dos autógrafos, do assédio, da fama, há um sentido em que todas as profissões se equivalem, quando você se dedica a elas: saber que seu trabalho foi bem feito traz sempre gratificação.
Veja – Muitas celebridades reclamam do excesso de assédio e da falta de privacidade. Como o senhor convive com a fama?
Hanks – Quando você se torna uma pessoa conhecida, tem de fazer uma opção: ou vira um recluso que tenta manter sua vida longe das manchetes a todo custo, ou relaxa e não abdica da vida social, mesmo sabendo que terá de dar autógrafos de vez em quando e lidar com o fato de que muitas pessoas que você jamais viu na vida lhe dirigirão a palavra como se fossem seus íntimos. Embora às vezes eu tenha o desejo de me fechar, enquadro-me muito mais no segundo tipo. Como tenho a meu favor o fato de ter a estampa de um sujeito comum, vou ao cinema, ao supermercado e aos parques normalmente. Recentemente, passei quatro dias em Berlim e visitei vários pontos turísticos sem ser percebido. Até as pessoas se darem conta de que era eu, já tinha dado no pé.
Veja – Certa vez, o senhor declarou ser um ator egoísta. De que forma isso se manifesta?
Hanks – Quando assisto a uma atuação elogiada de algum colega, confesso que muitas vezes fico incomodado e até com inveja. Não posso negar que tenho essas fraquezas, sou uma pessoa de carne e osso. Nessas horas, falo para mim mesmo: esse ator fez um grande trabalho, mas tenho certeza de que posso superá-lo em meu próximo filme. é uma reação espontânea, que remonta a meus tempos de estudante. Quando via algum colega se destacar numa atividade, eu fazia de tudo para me tornar melhor do que ele naquilo.
Veja – O senhor sente inveja quando vê outro ator fazendo um papel que julga interessante ou assiste a um filme que o senhor gostaria de ter feito?
Hanks – Não tenha dúvida de que isso acontece. E hoje estou numa posição muito confortável para fazer valer meus caprichos. Posso dizer que não me sujeito a fazer nenhum papel que seja menos do que fascinante. Essa posição me possibilita exercitar o egoísmo como nunca. Em Matadores de Velhinha, por exemplo, meu personagem fala pelos cotovelos e faz muitos trejeitos. é uma interpretação que me divertiu muito. No entanto, se eu fosse um ator menos conhecido, não poderia me dar ao luxo de atuar de maneira tão verborrágica como essa num filme que vai para o grande circuito. Provavelmente, se fosse outro ator, cortariam muitas cenas, dizendo que aquela falação toda chatearia o público. E os coadjuvantes, por sua vez, poderiam se rebelar, dizendo que só eu queria aparecer no filme.
Veja – Tempos atrás, o senhor declarou que não merecia ganhar 20 milhões de dólares por um filme. Por que ganhar tanto o constrange?
Hanks – Valorizo meu trabalho, mas sempre achei um despropósito que se pague tanto pela grife de um ator conhecido. Os policiais e os professores do ensino básico mereciam muito mais esse dinheiro. Pode parecer hipocrisia, mas já tive muita dor de consciência com isso. Não há o que fazer: as coisas funcionam assim nesse mercado e eu tenho buscado formas de diminuir minha sensação de culpa. Procuro fazer cada vez menos aquele tipo de filme cuja razão de ser é puramente comercial, que um ator conhecido se obriga a fazer para atender à demanda de Hollywood – e que são justamente as produções que nos pagam esses salários astronômicos. Só me sinto em paz comigo mesmo quando tenho certeza de que ganhei meu salário por um filme de que posso me orgulhar. Hoje, posso dar-me ao luxo de atuar em produções nas quais o salário não é nem de longe tão grande, mas que me causam mais prazer.
Veja – O senhor se consagrou em papéis de homens comuns submetidos a situações extremas. Por que sempre preferiu esses personagens aos heróis típicos de Hollywood?
Hanks – Porque os mocinhos de Hollywood me chateiam. Eles são enfadonhos, caricaturais demais. Eu não consigo me identificar com os tipos durões que consagraram Charles Bronson, por exemplo. E convenhamos que nunca tive um tipo físico que me permitisse encarnar o Super-Homem. Não vejo a mínima graça na figura do tira implacável que faz um salto espetacular de um avião, escapa de um tiroteio ileso e tem sempre uma loira escultural ao lado. Desde muito jovem, sempre procurei encontrar no cinema personagens que fossem como eu, em vez de heróis aos quais nunca poderia me igualar. Gosto da sensação de que poderia viver as situações mostradas nos filmes, e acredito que as pessoas em geral também são arrebatadas por personagens que se pareçam com elas.
Veja – O Tom Hanks da vida real é o mesmo bom moço dos filmes?
Hanks – Um bom moço de cinema pode ser um bom moço em tempo integral, porque um filme tem apenas duas horas de duração. Na vida real, é diferente. Todo ser humano tem suas fraquezas e passa por momentos em que quer que tudo vá para o inferno. A vida às vezes nos traz dissabores. Eu tenho meus maus momentos, e neles não lembro em nada os personagens de meus filmes, infelizmente. Ou felizmente, talvez. Se fossem gente de verdade, muitos personagens que interpretei dificilmente sobreviveriam – ainda mais em Hollywood.
Veja – O senhor interpretou o primeiro vilão de sua carreira há dois anos, em Estrada para Perdição. Em Matadores de Velhinha, vive o segundo personagem desse tipo. Por que resolveu experimentar personagens mais sombrios?
Hanks – Tem algo a ver com amadurecimento. Há coisas capazes de nos seduzir muito aos 26 anos, mas com as quais você já não está nem aí aos 47. Você não tem mais aquela necessidade de afirmação juvenil que o leva a dar extrema importância a filmes em que irá interpretar um galã e contracenar com uma linda atriz. Isso passa a ser bobagem diante de um mundo de coisas bem mais interessantes a ser exploradas. Não me interessa mais interpretar personagens unidimensionais, classificáveis simplesmente como bons ou maus. A natureza humana tem muitas nuances.
Veja – O que o senhor levou em conta ao aceitar esses papéis de criminosos?
Hanks – Personagens assim só me convencem se eu puder entender as razões que os levaram a enveredar pelo crime. Gosto de vilões cuja psicologia seja verossímil e que sejam antes de tudo humanos. Enfim, que haja uma razão compreensível para agirem daquele modo. Só aceitei esses papéis porque eles preenchiam tal requisito. Me cansa aquele tipo de situação dos filmes de James Bond, por exemplo, em que ele é sempre o sujeito do bem e luta contra agentes do mal, que querem conquistar o mundo e dizem coisas do tipo ‘você nunca sairá daqui vivo’. Realmente não tenho o mínimo interesse em interpretar um personagem que diga coisas tão ridículas. Lembro-me de que ouvi, em pelo menos três filmes, o vilão dizer para o mocinho, em tom ameaçador: ‘Estou ficando cansado desse jogo’. Nunca me sujeitei a papéis constrangedores assim.
Veja – O senhor já cometeu algum delito?
Hanks – Uma única vez, ao que me lembre. Para fazer bonito para meus colegas, tentei roubar barras de chocolate num supermercado. O furto acabou sendo um vexame: fui pego em flagrante e passei pela maior humilhação da minha infância. Fiquei tão traumatizado que nunca mais fiz nada parecido.
Veja – O seu personagem em Matadores de Velhinha foi vivido originalmente por Alec Guinness, nos anos 50. Qual o desafio de recriar uma interpretação que já ganhou a aura de clássica?
Hanks – Você pode não acreditar, mas nunca assisti ao filme original – e nem pretendo, para não embarcar na neurose da comparação. Só aceitei fazer o filme porque se tratava de um trabalho dos irmãos Coen. Ou seja, havia aí uma garantia de originalidade. Se fosse para fazer um filme idêntico ao original, eu não aceitaria. Não há nada mais intimidante para um ator do que encarar uma tarefa dessas – é como uma partida em que ele entra já perdendo por um largo placar.
Veja – O que é um bom filme para o senhor?
Hanks – Quando vou ao cinema, espero ser arrebatado por uma história que acrescente algo à minha vida. O cinema pode ser puro entretenimento, mas não precisa ser burro. O que faz a diferença do bom cinema é que ele se assenta, acima de tudo, sobre idéias. Eu sou um espectador em busca de filmes inovadores e imprevisíveis. Não gasto meu tempo para ficar no escurinho comendo pipoca: quero ver algo que nunca imaginei na tela, ter uma experiência que valha cada centavo do ingresso.
Veja – Que cineastas da atualidade conseguem proporcionar esse tipo de prazer?
Hanks – Os irmãos Coen, com quem trabalhei em Matadores de Velhinha, são um ótimo exemplo. Eles estão entre os poucos diretores com quem um ator como eu toparia trabalhar sem nem mesmo saber do que trata o filme – não precisei ler nem metade do roteiro para decidir que estava dentro do projeto. Eles são cineastas interessantes e descompromissados, que filmam antes de mais nada para satisfazer a si próprios, aos seus próprios critérios artísticos. Mas o trabalho que causou mais impacto em mim recentemente foi o brasileiro Cidade de Deus. Vi o filme com atraso, há poucas semanas, e estou até agora atônito.
Veja – Que qualidades o senhor apontaria em Cidade de Deus?
Hanks – O que me perguntei, em primeiro lugar, é como foi possível fazer um filme como aquele. Para mim, Cidade de Deus se enquadra no melhor gênero de cinema – aquele que o leva a questionar: ‘Meu Deus, o que fiquei fazendo nesses anos todos? Preciso trabalhar com mais afinco para chegar lá!’. Qualquer ator que se preze gostaria de trabalhar com um cineasta como Fernando Meirelles, capaz de expor a realidade de forma tão perturbadora.’
RÁDIO
‘Rádios de São Paulo perdem espaço para as do Sul’, copyright Folha de S. Paulo, 7/04/04
‘As emissoras do Estado de São Paulo, que concentram mais da metade de todo o faturamento do rádio no Brasil, vêm perdendo espaço para as da região Sul nos últimos três anos.
De dezembro de 2001 a dezembro de 2003, as estações paulistas (capital, região metropolitana e interior) registraram uma queda de quase quatro pontos percentuais (3,98) no ‘bolo’ da arrecadação nacional. Já as sulistas obtiveram um acréscimo próximo a cinco pontos (4,94).
Em um mercado competitivo e de verbas escassas, as variações são significativas e apontam enfraquecimento do ‘monopólio’ do dial paulistano. Também demonstram crescimento da RBS (Rede Brasil Sul de Comunicação). O grupo possui 22 estações de rádio e 17 de TV, afiliadas à Globo. É dona da Farroupilha, Gaúcha (AMs), Atlântida e Itapema (FMs), líderes de audiência.
Outra responsável pelo bom desempenho do Sul é a Rede Pampa, proprietária de dez emissoras de rádio e quatro de televisão.
Essa migração de investimentos foi apontada por dados do projeto Inter-Meios (que monitora a mídia), divulgados nesta semana.
No ano passado, a arrecadação do rádio foi de R$ 501,4 milhões. As AMs e FMs paulistas, em dezembro, participação de 56,22%. Em 2002 (a base é sempre dezembro), haviam ‘mordido’ 57,82% e, em 2001, 60,2%. Já as sulistas subiram de 9,01% (2001) para 11,82% (2002) e 13,95% (2003).
As outras localidades, inclusive o Rio de Janeiro (segundo lugar em faturamento), apresentaram poucas variações nesse período. As rádios do Norte nem aparecem nos gráficos -ou seja, possuem um faturamento irrisório para o mercado.
A TV, que detém mais de 60% da verba publicitária do país, apresenta uma divisão regional mais ‘democrática’ do que o rádio. As emissoras de TV paulistas abarcaram, em dezembro de 2003, 40,68% do faturamento nacional, contra os 56,22% das de rádio.
No Nordeste, a televisão é bem mais importante para o mercado nacional de TV do que as rádios para o radiofônico. As TVs nordestinas conseguiram 11,57% da verba nacional do setor em 2003. As AMs e FMs, por sua vez, ficaram com apenas 1,69% da arrecadação do rádio no país.
O Inter-Meios jogou um balde de água fria nas rádios brasileiras. Revelou que a fatia de AMs e FMs no ‘bolo’ publicitário nacional continuou pequena em 2003: 4,6%. Resultado praticamente igual aos 4,5% de 2002, considerado um dos piores anos do meio.’
RÁDIO MCDONALD’S
‘Só para clientes’, copyright Meio e Mensagem, 5/04/04
‘A implantação da Rádio McDonald’s, projeto ainda guardado a sete chaves pela empresa no Brasil, será iniciada nos primeiros dias do próximo mês. Em fase de testes há quase dois anos nos chamados super-restaurantes da rede – lojas que oferecem as principais novidades e inovações em design -, sendo um em Brasília, três em São Paulo e um no Rio de Janeiro, a iniciativa será implantada com força total em todas as lojas brasileiras até o final de 2004.
O projeto está nas mãos da Rádio Business, produtora de Curitiba que assumiu a responsabilidade pela instalação da rádio nos mais de 500 pontos do McDonald’s no País. A empresa, com experiência no segmento, executou, entre outras coisas, trabalhos semelhantes para as redes Pão de Açúcar e Makro. O projeto não inclui DJ, mas sim um computador responsável pela seleção musical e publicidade pré-programadas. O estilo das músicas deve variar entre ritmos alegres e atuais, que se encaixem com o gosto do público e não interfiram no ambiente do restaurante.
Além de contar com música própria para a faixa etária de consumidores das lojas, entre 15 e 34 anos, e adaptada para horários específicos do dia, a rádio trará também boletins informativos sobre promoções e novidades da rede. O grande destaque do projeto é a veiculação de publicidade na rádio, como nova forma de aumentar a arrecadação. Alguns anunciantes já adquiriram cotas, em especial os fornecedores da empresa, como a Coca-Cola e a Ambev. A rede de lanchonetes preparou uma proposta de patrocínio que está sendo fornecida às agências, na busca por novos anunciantes não fornecedores. Segundo informações obtidas por M&M, cerca de 10 milhões de pessoas por mês circulam nas lojas do McDonald’s, sendo 23% da classe A, 43% da classe B e 34% das classes C e D. No próximo mês, 144 restaurantes de São Paulo receberão a montagem da rádio e, em seguida, outras regiões do Brasil. O McDonald’s, procurado pela reportagem de Meio & Mensagem, não comentou as informações.’