Sou assinante da revista Veja e gostaria de comentar a matéria ‘O Windows descobre a beleza’, da edição 1.947. Já é a quinta carta que envio à redação para comentar os textos de tecnologia publicados nesta revista e, até o presente momento, não obtive retorno. Por isso, gostaria de uma resposta a minhas indagações.
O jornalista escreveu que, com exclusividade, fez uma avaliação de uma versão do Windows Vista. Segundo a sua avaliação, o sistema oferece maior segurança, através de uma série de filtros e mecanismos de alerta, se comparados ao Windows XP. Será? Gostaria de saber qual foi a metodologia empregada pelo jornalista para chegar a essa conclusão. Apesar de ter o domínio nas máquinas de desktop, a Microsoft até hoje não conseguiu resolver o problema de travamento, ataques de vírus e instabilidade do seu sistema operacional. A cada nova versão, a empresa diz que lançará um sistema mais seguro que o anterior. Qual é a garantia de que desta vez a promessa será cumprida?
Em outro trecho, o jornalista faz a seguinte afirmação: ‘O novo sistema operacional traz novidades também na navegação pela internet. Abre-se apenas uma tela, que pode abrigar vários sites, sinalizados por abas como num arquivo de pastas de escritório’. Dizer que o conceito de abas num navegador é uma novidade que o Windows Vista traz é trilhar o caminho da desinformação ou da propaganda enganosa. Por qual caminho o senhor Rafael Correa, autor desta matéria, seguiu?
A noção de abas já funciona há muitos anos em navegadores como Mozilla e Firefox. A Microsoft apenas aproveitou uma criação de terceiros para tentar melhorar a usabilidade do seu programa. O que é válido, pois este é um princípio do software livre. Porém, não se pode afirmar que este sistema seja o responsável por trazer esse recurso, que não é mais novidade para muitos usuários. Será que o jornalista não sabia disso e/ou não se informou antes de fazer a matéria? Será?
Uma pauta
Eu sei que a Microsoft paga por duas páginas inteiras de propaganda na revista Veja. Isto é válido, pois é um acordo comercial realizado entre a revista e a empresa. Além disso, fica claro para o leitor que aquele conteúdo é uma propaganda. Cabe a ele querer ou não pagar pelo produto. Porém, quando um jornalista diz que fez uma avaliação sobre um determinado produto se espera que ele não seja tendencioso e que reúna conhecimentos técnicos suficientes para avaliar. Será que este profissional pensou nisto, antes de fazer a matéria? Será?
Aproveito a oportunidade para esclarecer que o termo hacker foi empregado de forma errada na matéria, como é comum na mídia. Hacker é alguém que tem muito conhecimento sobre algo. Isto não significa que esta pessoa usará esse conhecimento para cometer crimes. Para designar tal conduta há termos como crackers, piratas, vândalos ou mesmo criminosos. Mas isso, com certeza, o jornalista Rafael Correa sabia e apenas se enganou ao escrever a matéria. Será?
Também aproveito para indicar uma pauta. A revista pouco publicou sobre software livre, um movimento que cresce a cada dia, com alcance em governos, empresas e pessoas no mundo todo. Acontecerá, nos dias 19 a 22 de abril, em Porto Alegre, o 7º Fórum Internacional de Software Livre, o mais importante evento do tema no país, com inúmeras atividades, discussões e participação de importantes pessoas da área de tecnologia e acadêmica. Por isso, sugiro o envio de um jornalista para fazer a cobertura do evento. Será uma excelente oportunidade para a revista trazer esse conteúdo a seus leitores.
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Mestre em Ciência da Computação pela Unicamp, especialista em Geoprocessamento pela Universidade Federal do Amazonas, sócio-fundador da Comunidade Sol Software Livre, Manaus