Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mesmo com oferta digital, circulação de jornais cresce no país

Enquanto engatinham em suas estratégias no segmento digital, os jornais brasileiros enfrentam um cenário diferente da queda de circulação apresentada por publicações dos Estados Unidos e da Europa: por aqui, a tendência é de crescimento. Só nos primeiros seis meses do ano, o volume de jornais cresceu mais de 4%, impulsionado pelos títulos gratuitos, que tiveram uma expansão de 12%, segundo o Instituto de Verificador da Circulação (IVC). Em algumas regiões do país a circulação de periódicos cresceu quase três vezes nos últimos quatro anos. “O papel ainda tem muitos anos pela frente”, disse Luiz Alberto Albuquerque, diretor-executivo do Correio da Bahia que participou ontem (22/11) do Seminário Internacional de Jornais, organizado pela International Newsmedia Marketing Association (Inma).

Com tiragem diária de 61 mil exemplares, o Correio da Bahia tem registrado crescimento do número de leitores desde 2007, segundo Albuquerque. O executivo explica que a expansão também aconteceu com os concorrentes: em quatro anos, a circulação de jornais na região metropolitana de Salvador passou de 49 mil para 133 mil. Com isso, o investimento no meio digital não é considerado prioritário.

O Valor, que desde 2010 vem investindo a transição para o mundo digital, também registrou crescimento. Nos últimos 12 meses, a tiragem aumentou 10%, afirmou Selma Souto, diretora de publicidade do jornal. “Precisamos estar no mundo digital porque nosso leitor pede isso. Mas acreditamos que o jornal impresso ainda vai existir por muito tempo”, disse a executiva durante o evento.

“O jornal impresso está morto”

Segundo pesquisa do Datafolha, 73 milhões de brasileiros afirmam ler jornais. Desses, 21 milhões dizem ver algum periódico todos os dias. Na avaliação de Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, as vendas de jornais representam 90% da receita dos grupos brasileiros, em média. Na Infoglobo, essa participação é de 96%, segundo Paulo Motta, editor-executivo da companhia. Para Ricardo Gandour, diretor de conteúdo de O Estado de S. Paulo, é preciso investir em inovações para o jornal em paralelo aos investimentos que são feitos na área digital. “Temos que aproveitar essa vantagem que o jornal impresso tem no Brasil e tirar o máximo de proveito disso”, disse o executivo.

A interpretação do mercado brasileiro é totalmente contrária ao que está acontecendo com o grupo espanhol El País. “O jornal impresso está morto. Ainda não sabemos quando isso vai acontecer de fato, mas a tendência é essa”, disse Víctor Arbáizar González, diretor de operações do jornal.

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Grupos investem em laboratórios de TI

O 5º andar do prédio do Tecnopuc, o parque tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), poderia facilmente ser confundido com um escritório do Google. O ambiente colorido e com mobiliário descontraído é típico do Vale do Silício. Mas, as instalações não são de uma empresa de tecnologia. O escritório pertence ao grupo de comunicação RBS. A unidade de desenvolvimento de produtos digitais é uma forma de a empresa de mídia tentar entender melhor o mundo da tecnologia e aprimorar a criação de notícias. Seu objetivo é suprir o grupo com funcionalidades para o site, aplicativos para dispositivos móveis, infográficos, entre outros sistemas.

A área reúne 85 profissionais com perfis pouco convencionais para uma empresa jornalística. São engenheiros, estatísticos, cineastas e matemáticos. O investimento para instalação no Tecnopuc foi de R$ 2 milhões. “Não podemos terceirizar a criação de tudo isso. Não vai sair direito se não fizermos internamente”, disse Marta Gleich, diretora de internet do jornal Zero Hora que participou do seminário da Inma.

“O volume caiu um pouco, mas voltou ao normal”

De acordo com Marta, além de ajudar o grupo a atuar no mundo virtual, a iniciativa também cria novas fontes de receita. Entre as possibilidades, a executiva citou a venda de softwares para outras empresas, a elaboração de pesquisas e a prestação de serviços para anunciantes.

A iniciativa é semelhante à do Ad Labs, do jornal The New York Times. A unidade, ligada à área de publicidade do jornal, emprega 30 profissionais, entre engenheiros, matemáticos e estatísticos. De acordo com Isabel Sicherle, diretora do jornal para América Latina, México e Caribe, a área pesquisa novas ferramentas e formas de anunciar nos jornais e revistas do grupo, e também tecnologias para uso interno. “A criação de notícias é uma mistura de jornalistas com o pessoal de tecnologia”, afirmou a executiva. De acordo com Isabel, o meio digital foi um dos principais impulsionadores da internacionalização da marca do jornal americano nos últimos anos. O site recebe 50 milhões de visitantes únicos por mês. O número, de acordo com a executiva, não foi afetado pela implantação de um sistema de cobrança para acesso às notícias. “O volume caiu um pouco, mas rapidamente voltou ao normal”, disse. Segundo Isabel, o site tem 325 mil assinantes, que pagam entre US$ 300 e US$ 500 por ano.

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[Gustavo Brigatto é jornalista]