A Microsoft passa por um momento interessante. Quando surgiu, há 40 anos, tinha como missão “colocar um computador em cada mesa de trabalho e em cada casa”. Em termos gerais, teve sucesso. Tanto que mudou sua missão para “permitir que pessoas e empresas ao redor do mundo possam realizar todo seu potencial”.
Peter Drucker, conhecido como o pai da administração moderna, afirmou certa vez que a cultura da empresa devora a estratégia no café da manhã. Com isso, ele quis dizer que não adianta ter uma visão clara de futuro e um bom plano sobre como chegar lá. É preciso que a estratégia seja adequada à maneira como as pessoas trabalham e, principalmente, a como elas pensam.
O setor de tecnologia tem algumas histórias notáveis de transformação. A IBM conseguiu isso quando, nos anos 1990, sob o comando de Lou Gerstner, passou de fabricante a empresa de serviços. Ou ainda a Apple, que, depois da volta de Steve Jobs à sua presidência em 1997, se transformou numa gigante dos eletrônicos de consumo, com o lançamento do iPod, do iPhone e do iPad.
Nova estratégia
A missão mais difusa adotada pela Microsoft reflete o esforço que a empresa tem feito para encontrar um novo caminho. Mas, diferentemente ao que aconteceu com a IBM e a Apple, a necessidade de mudança da empresa criada por Bill Gates não vem de uma grande crise, mas de uma transformação ampla do cenário de tecnologia. O PC deixou de ocupar a posição central do mercado – dando lugar a celulares, tablets e novos dispositivos conectados à nuvem – e isso teve impacto na Microsoft.
Apesar da onipresença do Windows e do Office, as receitas da Microsoft com licenciamento de software têm caído. Por outro lado, as vendas de soluções em nuvem – em que os clientes compram software como serviço via internet – apresentaram crescimento de três dígitos por seis trimestres.
Nos primórdios da empresa, Bill Gates comprou de um terceiro o sistema operacional que vendeu para o PC da IBM, porque não tinha o produto pronto para fornecer. Tem gente que diz que ele não inventou nada, mas ele criou um mercado, ao transformar software num produto de consumo.
Mas os tempos são outros, e exigem nova estratégia e nova cultura. Semana passada, Mark Russinovich, um dos principais engenheiros da Microsoft, fez uma afirmação que seria inimaginável há poucos anos: ele considera “definitivamente possível” a empresa transformar o Windows num software de código aberto. Se isso acontecesse, qualquer programador teria acesso às linhas de código do sistema operacional, para modificá-lo como quisesse, e não haveria mais cobrança de licenças.
Um Windows gratuito poderia se tornar uma plataforma para a Microsoft vender serviços.
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Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo