É inegável que a televisão e o jornal impresso ditaram certos costumes e hábitos, criaram modelos de sociedades e imputaram diretrizes classificatórias no que tange às categorizações de conteúdos. A agenda setting conduziu opiniões e ofuscou novas reflexões, estabelecendo regras e diferenciando o que seria informação séria, como política e economia, daquelas de cunho mais de entretenimento, como eventos e celebridades, sendo classificadas como informações “irrelevantes”.
É igualmente inegável que um país se constrói tendo como base uma educação sólida. Só é possível discutir o futuro de uma nação se por detrás de cada cidadão se estrutura um pensamento crítico acerca dos temas mais delicados para uma sociedade. Apenas focar e investir todo o tempo em assuntos que não mudarão os rumos do país não contribui para a criação de um país mais sério e justo.
Porém, na era da curadoria e da criação em massa de conteúdo, o que significa informação jornalística de qualidade? Há quem diga que, com o poder da internet, todo usuário deveria investir na busca por conhecimento. Qual conhecimento? Reality show ou taxas monetárias? A agenda setting perdeu seu valor com a rede digital, mas possibilitou que milhares de pessoas se afastassem ainda mais de um conteúdo apurado, trabalhado e reflexivo.
O jornalismo é o pilar básico para uma sociedade democrática, para um Estado de direito. Não pautar a sociedade não significa se ausentar de suas responsabilidades. Um conteúdo será interessante conforme o público que o consome, conforme a plateia que o acompanha. Entretanto um conteúdo qualificado, independentemente do assunto, ainda não é tão simples de se encontrar.
Qualidade e credibilidade
Usuários que postam freneticamente informações na rede não são, necessariamente, formadores de opinião crítica. Podem estar, muitas vezes, apenas inflando a bolha de conteúdos duvidosos. Deve-se estar muito atento ao afirmar o que é ou não é uma informação de interesse, já que isso varia conforme o público. Porém, mais importante ainda é saber diferenciar o que é uma informação qualificada (aquela apurada, trabalhada e produzida com embasamento) do conteúdo meramente jogado na internet e muitas vezes tratado como informação de qualidade.
A internet trouxe para o jornalismo uma contribuição ímpar: sair da zona de conforto. A linha entre o que era o jornalismo e o que será em um futuro próximo é tão tênue que praticamente não existe. Informação é informação, e não é qualquer conteúdo que poder ser tratado como jornalístico. O que é ou não relevante é o público quem decide. E somente esse público pode primar por qualidade e credibilidade.
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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, pós-graduado em assessoria de imprensa, gestão da comunicação e marketing e pós-graduando em política e sociedade no Brasil contemporâneo]