Crise profunda, demorada, devastadora não costuma render manchete. Só fatos merecem o berro e o sacolejo.
O mundo está mergulhado numa das suas piores crises desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os resultados são imprevisíveis – na melhor das hipóteses, dramáticos. É possível que despenquemos no abismo sem conseguir avaliar exatamente o que acontece, porque a imprensa desde que se convenceu de que deve ser mais idiota do que os mais idiotas dos leitores perdeu sua capacidade de oferecer referências.
Só emite bips. Digitais ou impressos, mas bips.
No El País de segunda-feira (28/11), o ex-diretor do Le Monde Jean-Marie Colombani publicou um brevíssimo texto, com duas laudas no máximo, intitulado “A catástrofe anunciada”. Cenário aterrador onde se verifica que as principais lideranças europeias reconhecem a iminência da catástrofe. Paralisadas, nada conseguem fazer para detê-la.
Guinada à vista
Como já se constatou nas bolhas e crises anteriores, os donos das empresas de comunicação, seus executivos e os mais brilhantes analistas que colocam a seu serviço, não conseguem entender o que eles próprios observam, nem disso sacar qualquer conclusão. Porque seus acervos não contém registros para esse tipo de ocorrência.
Carecemos dessa vivência capital chamada “renascer das cinzas” que os europeus experimentam a cada 50/60 anos.
Pior do que o autoengano globalizado é a determinação caipira em disfarçá-lo e/ou negá-lo. A mídia está sendo vítima da mídia. E da miopia que desenvolveu nos últimos 20 anos, desde que se proclamou onisciente e infalível. Nos quadradinhos onde se comprime esse elemento aleatório chamado “opinião” já não cabem aqueles seres-radares capazes de pressentir cataclismos.
O mundo vai dar uma guinada e os últimos a senti-la serão aqueles que deveriam tocar o alarme.