O fenômeno da mobilidade que levou o usuário a preferir o celular em vez do computador na hora de acessar a internet também deslocou para os dispositivos móveis uma antiga disputa tecnológica: a dos programas de navegação na web. Praticamente todas as grandes empresas de tecnologia voltadas para o consumidor têm, hoje, seus próprios programas de acesso móvel. A Apple é dona do Safari, a Opera tem um programa de mesmo nome, a Microsoft oferece o Internet Explorer e o Google é dono do Chrome. A mais recente investida veio da Fundação Mozilla, que lançou uma versão do Firefox para aparelhos com Android, o sistema operacional do Google.
Essa briga promete ficar ainda mais quente nos próximos meses, quando a Microsoft lançar o Spartan, seu novo programa de navegação. A expectativa é que mesmo depois de lançado o programa conviva com seu antecessor, o Internet Explorer, já que leva algum tempo para que os sites se adaptem aos novos requisitos técnicos dos browsers. O lançamento pode ganhar uma importância estratégica ainda maior se a Microsoft decidir fazer com que o Spartan seja compatível com Android ou iOS, o sistema operacional da Apple usado em iPads e iPhones. Hoje, o Internet Explorer só pode ser usado em celulares com Windows Phone.
Essa abertura seria impensável para a Microsoft de pouco tempo atrás. Durante décadas, a companhia restringiu o uso de seus programas como o Office e o próprio Explorer a equipamentos que funcionam com o sistema operacional Windows. A medida sempre foi vista como uma tentativa de criar um cercado tecnológico em torno de seus clientes. É algo parecido com o que faz a Apple.
Mais recentemente, porém, a Microsoft passou a criar versões de seus produtos mais populares para outros sistemas, como o pacote Office para iPad e iPhone e para aparelhos Android. O Outlook, de e-mail, saiu primeiro para esses dois sistemas e só vai chegar ao universo Windows com a nova versão do programa, que será lançado até setembro.
Olho nos aplicativos
A variedade de browsers disponíveis pode criar uma certa confusão inicial para o consumidor, que nem sempre sabe o que escolher. Há diferenças técnicas entre os produtos, como a velocidade com que as páginas são abertas. Também há sites que são incompatíveis com determinados browsers. Cada usuário precisa avaliar com cuidado qual o mais programa mais adequado para seu uso. Em muitos casos, a decisão se baseia na aparência dos browsers, que não é um detalhe em se tratando de um navegador. Para evitar problemas, a recomendação é fazer o uso combinado de mais de um browser.
Ao fim das contas, apesar da quantidade de concorrentes, essa oferta ampla traz vantagens. De maneira geral, os sites foram feitos para o computador. Quando acessados pela tela reduzida de um smartphone, frequentemente é difícil ver os detalhes, como fotos e vídeos, ou acessar os botões dos menus. Mas esse cenário está mudando.
O Google adotou uma política de privilegiar em suas buscas, inclusive as que são feitas pelo computador, os sites que já estão preparados para ser vistos por meio de dispositivos móveis. A medida reflete a preferência do público em usar o smartphone para navegar na internet. A questão central é a comodidade. Dá para assistir ao capítulo da novela no percurso para casa ou acompanhar a partida de futebol mesmo fora do país. As empresas de mídia e entretenimento estão se esforçando para fazer com que seu conteúdo, desenhado para telas maiores, seja visto com conforto nos celulares e tablets.
O barulho em torno dos navegadores, porém, não deve provocar uma nova guerra dos browsers, como a travada nos anos 90 entre a Microsoft e a hoje extinta Netscape. Os programas de navegação perderam a hegemonia de mercado, o que reduz sua influência na internet. Na prática, todos os browsers ganharam um adversário em comum os aplicativos.
Uma pesquisa recente da empresa de análises Flurry, realizada nos Estados Unidos, mostra que 86% do tempo gasto na internet por meio de smartphones está concentrado nos aplicativos, os softwares baixados da web com fins bem específicos. São esses programas, e não os sites da internet, que detêm a preferência dos usuários móveis.
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Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa, do Valor Econômico