O mundo não é mais o mesmo. Clichê? Não. É a mais pura verdade. Há algumas décadas, a frase era a cantiga dos idosos que se assustavam com o comportamento da juventude e da sociedade que em nada lembrava seu tempo de infância. Hoje, eu mesma digo isso. Não é mais preciso esperar vinte, nem dez anos, para ter a sensação de que tudo está diferente. O mundo analógico se esvai e a ordem digital arrebata tudo o que encontra pela frente, com uma voracidade que atordoa os mais ‘antenados’ com as novas tecnologias.
A internet chegou ao Brasil, pra valer, há apenas quinze anos. Os adolescentes de hoje nunca usaram ou sequer viram uma máquina de datilografia, muito menos aquele ‘tijolão’ analógico que chamávamos de celular, acreditando que experimentávamos o máximo da tecnologia. De fato, era. Naquele momento.
No mundo digital, é assim que as coisas acontecem: de um dia para o outro. O casamento da internet com a www – a rede mundial de computadores que permitiu a criação de sites e o comércio na rede – está revolucionando a forma de se comunicar numa velocidade estonteante. Para dar mais credibilidade ao que vou dizer, recorro ao renomado sociólogo Manuel Castells que, dentre outros feitos, promoveu quinze mil entrevistas, em seis anos, para analisar o impacto da internet na organização social. Castells chama a atenção para o fato de que, pela primeira vez na história, temos reunidos texto, som e imagem em um único sistema aberto e com preço acessível. O sociólogo ainda profetiza: ‘O surgimento de um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial está mudando e mudará para sempre nossa cultura.’
Não é à toa que essa teia cibernética envolveu o planeta. A possibilidade de interação mútua fascina as pessoas. Até então, a participação do leitor, do ouvinte e do telespectador na produção dos conteúdos era muito restrita. Basicamente consumíamos produtos. Graças à Web, o usuário navega por onde bem quer. Pelos links, traça seu próprio caminho, vai e volta, constrói e desconstrói conteúdos. Sem custo algum o internauta se comunica instantaneamente, publica foto, vídeo e texto sobre todo tipo de assunto. Informa-se sobre todo tipo de assunto.
As velhas tecnologias
O mundo mudou porque a forma de se comunicar mudou e o velho modelo não tem mais graça. A corrida da mídia tradicional – jornal impresso, rádio e TV – é contra o tempo, que avança na velocidade do bit. Como manter cativa uma audiência que descobriu o prazer da interação e da construção de conteúdo?
No Brasil, a TV e o rádio vivem a metamorfose da digitalização. As imagens digitais avançam pelo país paulatinamente, enquanto o rádio ainda não sabe se o sistema digital irradiante será americano ou europeu. Questões técnicas, mas principalmente financeiras e políticas, retardam o processo. TVs full HD são o carro chefe das vendas de Natal, mas apenas privilegiados conseguem assistir programas em alta definição. Já o aparelho de rádio digital, ninguém sabe ainda quanto vai custar.
Enquanto isso, os veículos da ‘velha guarda’ propõem novas formas de relacionamento. Com quarenta anos de idade, o Jornal Nacional teve que se render a imagens de cidadãos-jornalistas, antes chamados de cinegrafistas amadores, para noticiar o deslizamento de terra no Morro do Bumba, no Rio de Janeiro, em 2009. Parte das cenas nas primeiras horas de cobertura foi feita em aparelhos celulares e enviada pela internet.
Mas é na rede mundial de computadores que reside o desafio da inovação para o rádio, para a TV e para os veículos impressos. O veículo de comunicação que não tem uma página na Web, atualizada e interativa, está perdendo o ‘bonde da história’. Só para falar de informação, no globo.com encontramos todas as matérias dos telejornais da Rede Globo de Televisão e aquelas que não ‘couberam’ na edição – muitas em áudio e vídeo que ‘carregam’ rapidamente com uma definição excelente.
Também há rádios na rede com programação em tempo real, músicas para dowload, promoções, chats. Incrível pensar que há jovens que só ouvem rádio pela internet, e adultos também. Estaria o rádio perdendo a magia? Difícil saber no que o veículo de comunicação mais popular do país está se transformando.
Mercado consumidor não é saudosista
Quando o rádio for digital, não será só rádio. O ganho na qualidade de som é amplamente divulgado. A AM terá áudio estéreo, comparado a uma FM dos dias de hoje. A FM terá qualidade de CD. É um grande avanço, sem dúvida. Mas outros aspetos são tão importantes quanto esse e devem mudar a maneira como o ouvinte se relaciona com o veículo. A possibilidade de transmissão de dados, como informações meteorológicas e de tráfego, apresentadas em texto e gráficos no display de cristal líquido do rádio digital é um exemplo. Deverá ser possível, também, participar de sorteio de ingressos para eventos artísticos e retirar o cupom que dá direito ao prêmio no próprio aparelho, que irá imprimi-lo. O ouvinte poderá, ainda, adicionar nome a suas músicas preferidas e montar seu acervo pessoal aproveitando a programação da emissora. Sem falar nas possibilidades de convergência com outras plataformas, que serão ampliadas.
Aliás, a palavra convergência está em alta e sinaliza um futuro ainda mais interessante. Por que se preocupar com a sobrevivência do rádio frente à nova concorrência se, bem breve, além de continuar na Web e no celular, ele estará no aparelho de TV e a televisão também vai ter Internet e editor de texto. Lembram-se dos cobiçados aparelhos de som 3 em 1? Pois vem aí a geração 4 em 1, só para começar: rádio, TV, internet e computador juntos em uma grande tela, na sua sala, com resolução digital.
Não há tempo para saudosismo no planeta de Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple), Sergey Brin (Google) e Mark Zuckerberg (Facebook). O mercado consumidor, aliás, não é nem um pouco saudosista. Pelo contrário, quer o novo, melhor, mais barato e, de preferência, que comece com www.
Nosso papel é tentar acompanhar o ritmo e fazer o melhor uso possível das novas tecnologias. Saber quantos de nós terão acesso a todos esses benefícios e quantos saberão usá-los como ferramenta de conhecimento já é outra história.
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Jornalista, Caratinga, MG