A e-notícia desta semana foi o dedo fálico de uma jornalista russa logo após ela se referir ao presidente Barack Obama.
O vídeo foi replicado pela internet, mas logo retirado da rede. No Pravda online,a jornalista pediu desculpas, disse que não sabia que estava no ar e que o sinal não foi feito para Obama, mas para um de seus colegas de trabalho. A imprensa virtual brasileira demorou, mas também noticiou o fato.
No Brasil, o vídeo ainda pode ser visto.
Apesar de suas explicações, a jornalistaTatyana Limanova perdeu o emprego. Seu empregador, ao que parece, não pretende ter qualquer ligação com gesto feito por ela.
Outra questão relevante
Há três coisas interessantes neste episódio.
O primeiro, evidentemente, é o próprio gesto fálico feito pela jornalista. Quer tenha feito o sinal para o presidente dos EUA ou não, o fato é que a jornalista russa se excedeu. Sua alegação de que não sabia que estava sendo gravada é irrelevante. Na verdade, esta alegação chega a ser um atentado contra a inteligência dos demais cidadãos. Tatyana Limanova é uma jornalista experiente e, portanto, tinha todas as condições de saber que estando diante de uma câmera poderia estar sendo gravada.
Dos jornalistas, esperamos informações e opiniões. Eventualmente, podemos até esperar humor. Tatyana até poderia fazer aquele sinal num programa humorístico ou pseudojornalístico (como o CQC, por exemplo); nunca num telejornal que se pretende sério e informativo.
Aqui mesmo no OI já tratei do mesmo sinal em duas oportunidades. Mas ambos os autores da façanha eram jogadores de futebol (ver aqui e aqui) e deles não podemos esperar nem exigir o mesmo que de uma jornalista experiente.
Outra questão relevante neste episódio é a censura. O vídeo da jornalista está sendo removido da internet. Não deveria. O sinal que Tatyana Limanova fez no contexto em que fez é profissionalmente inadequado, mas o episódio virou notícia. Portanto, o vídeo não deveria ser censurado porque ele faz parte da notícia e como tal tem que ser visto pelos interessados. E eventualmente discutido pelos jornalistas. Como é que as pessoas poderão discutir o fato se o vídeo for removido da internet?
Pena singela
A terceira e última questão relevante é a consequência. Tatyana apresentou suas desculpas e explicou o que ocorreu. Talvez ela não tenha dado explicações muito satisfatórias, mas o fato é que a jornalista afirmou de maneira bastante convincente que não pretendia ofender o presidente dos EUA ou seus telespectadores. Isto deveria bastar, pelo menos para evitar sua demissão.
O empregador da jornalista exagerou? A resposta a esta pergunta não é simples.
No Brasil, por exemplo, o jornalista pode ser celetista, autônomo ou eventual. Se for contratado sob regime da CLT ele pode ser advertido, suspenso ou até demitido por justa causa pelo empregador dependendo da infração que cometer. O jornalista autônomo só pode sofrer as penalidades prescritas expressamente no seu contrato. Aquele que trabalha em caráter eventual, em razão da natureza precária da sua relação de trabalho, pode simples ser descartado pelo empregador.
Não conheço nenhum caso semelhante no Brasil. Mas penso que aqui a punição não seria tão severa, pois o empregador também pode ser condenado a indenizar por danos morais o empregado caso abuse de seu poder de comando e disciplina. Não conheço a legislação russa e, portanto, não estou em condições de dizer se o empregador de Tatyana Limanova agiu corretamente ou não. Porém, em se tratando da Rússia (onde jornalistas que publicam matérias que desagradam o novo czar têm sido executados), devemos considerar a demissão de Limanova uma pena bastante singela. Afinal, sabemos exatamente o que poderia ocorrer a ela caso ela fizesse o mesmo gesto depois de se referir a Vladimir Putin.
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[Fábio de Oliveira Ribeiro é advogado, Osasco, SP]