Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Facebook e a nudez

O Facebook é tão obcecado em zelar pelos bons costumes que bane da rede social praticamente todas as imagens de nudez. A atitude leva a uma série de paradoxos, como a exclusão de pinturas consagradas expostas nos mais respeitáveis museus do mundo, aonde nem recatadas mamães têm receio de conduzir seus inocentes rebentos, e o fato de levar uma empresa que se vale da ampla liberdade possibilitada pela internet a censurar os usuários de seus serviços.

É bem grotesco, mas não são exatamente as contradições do Facebook que eu gostaria de discutir hoje, mas sim por que temos vergonha da nudez. Há um documentário bem bacana da BBC, intitulado “What´s the Problem with Nudity” (qual o problema com a nudez), que traz elementos para pensar a questão.

O filme, que tem como pano de fundo um grupo de britânicos que não se conhecem reunidos numa casa fazendo experimentos com a nudez, traz as últimas novidades da ciência para explicar a perda de pelos nos humanos (melhoras no sistema de refrigeração que nos permitiram cultivar cérebros maiores), as datações mais prováveis para o início do hábito de usar roupas (650 milhões de anos atrás, a crer na árvore genealógica dos piolhos) e ainda uma hipótese para o fato de sentirmos vergonha quando estamos pelados. A ideia é que, sem expor suas partes íntimas, homens e mulheres diminuiriam as ocasiões em que poderiam provocar a libido de terceiros, favorecendo assim as relações monogâmicas já firmadas, o que aumentaria as chances de sobrevivência da prole e evitaria disputas desestabilizadoras entre machos.

O documentário também sugere que, apesar de haver algo de biológico na vergonha da nudez, é a cultura quem dá as cartas, ao definir com certa liberdade os limites do que é ou não socialmente aceitável. Nesse contexto, a política do Facebook soa ainda mais reacionária.

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Hélio Schwartsman, da Folha de S.Paulo