Colaboração, startups, redes sociais, nova lógica de distribuição e produção de conteúdo. Tudo isso está relacionado com o que o Tow Center for Digital Journalism, da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, classifica como jornalismo pós-industrial. É uma nova era da comunicação. A organização jornalística, nesse contexto, é totalmente diferente da imprensa tradicional. Por isso, é importante problematizar quais os modelos de negócios mais adequados para essa nova realidade.
O jornalismo pós-industrial é marcado por uma forte descentralização da produção de notícias. Hoje, a elaboração de uma pauta, a apuração e o processo efetivo de produção da informação pode ser feito sem a necessidade de uma redação física estruturada. Isso é um problema para as empresas tradicionais, que precisam, agora, se reinventar e encontrar uma forma de ser rentável.
No conjunto de teorias existentes, que tem como finalidade uma reflexão sobre o jornalismo, a abordagem organizacional é a mais adequada para analisar esta questão. Essa teoria analisa a imprensa como um mercado e as notícias como um produto. Como consequência, temos uma interferência no processo de produção de notícia por fatores econômicos (entenda-se anunciantes do veículo de comunicação). É importante entender que, segundo essa teoria, quanto mais organizado o processo jornalístico, mais lucrativo ele será. Como define Felipe Pena, “o jornalismo é um negócio. E, como tal, busca o lucro. Por isso, a organização está voltada fundamentalmente para o balanço contábil” (PENA, 2005: 135).
A internet trouxe uma nova forma de difusão e transmissão da informação. As empresas de mídia não detêm mais o monopólio da distribuição do conteúdo. Pelo contrário, agora são coadjuvantes nesse processo.
A vantagem dos veículos digitais
O site de mídia BuzzFeed é um exemplo claro de que o jornalismo digital é impulsionado pelo compartilhamento espontâneo dos usuários, gerando uma viralização do conteúdo e, consequentemente, trazendo audiência para o site. O BuzzFeed usa principalmente o Facebook para difundir o conteúdo publicado no site. Atitude, no mínimo, inteligente.
Segundo relatório da Nielsen/NetView (TULIO COSTA, 2014: 84), que fez um levantamento de setembro de 2012 a setembro de 2013, com exceção dos sites de games, o Facebook é o campeão do tempo que as pessoas gastam na internet. Os norte-americanos ficam 6 horas e 42 minutos na rede social. No Brasil, o tempo médio mensal é ainda maior: 10 horas e 32 minutos.
A vantagem que os veículos exclusivamente digitais levam em relação aos jornais tradicionais também é grande. O Huffington Post tem 23 minutos de tempo médio por pessoa, segundo dados de setembro de 2013, enquanto o New York Times tem 18 minutos e o Washington Post, oito minutos.
Variedade de conteúdo
Outro aspecto está diretamente relacionado com a nova lógica de distribuição da informação e a produção do conteúdo. A pluralidade de versões de uma história, temas e diferentes linhas editoriais está escancarada no meio digital. Temos diversos veículos alternativos como Ponte.org e Agência Pública, que praticam um jornalismo de investigação, com pautas direcionadas a temas sociais. Além disso, o Hypeness, que divulga conteúdos inovadores em áreas como arte, design, negócios, cultura e tecnologia, com pautas diversificadas e curiosas, e o site Catraca Livre, que tem o intuito de divulgar iniciativas, dicas e ações que incentivam e contribuem para a vida dos cidadãos.
O jornalismo participativo também é uma grande marca do meio digital. Voltemos ao exemplo do BuzzFeed. O usuário que consome o conteúdo do site pode participar diretamente, escrevendo textos que, se alinhados com o conteúdo editorial do veículo, podem ser publicados em uma sessão destinada para este fim. O Catraca Livre também possui a sessão Rede Catraca, onde os internautas podem produzir conteúdo para a publicação.
O empreendedorismo nunca esteve tão em alta no jornalismo. As startups, empresas formadas por um grupo de pessoas que trabalha em prol de uma ideia inovadora e que busca um modelo de negócios capaz de gerar lucro e financiar os projetos, estão cada vez mais presentes na profissão.
Segundo matéria do Portal Imprensa [disponível aqui] de 6 de maio de 2014, dos 2.580 projetos cadastrados na Associação Brasileira de Startups (ABStartups), 5% são da área de mídia e comunicação. O mercado ainda está engatinhando no país, mas tudo indica que esse é um dos caminhos mais prováveis. Várias novas empresas com ideias inovadoras e em busca de um modelo rentável de negócio estão prontas para fazer acontecer no mundo digital.
O que foi descrito até agora não é o que vai acontecer. É o que está acontecendo nesse instante. Segundo um estudo do Tow Center, da Universidade de Columbia, publicado em 2012, o jornalismo não perdeu a sua função: ele sempre foi e continua sendo essencial. Portanto, para melhor aproveitar esse novo ecossistema que emergiu com a internet, é necessário mudar radicalmente a estrutura organizacional dos veículos. Há inúmeras oportunidades de fazer um bom trabalho de novas maneiras, seja pela incubação de experiências em startups ou dentro de sistemas empresariais tradicionais.
Referências
ANDERSON, C. W.; BELL, Emily; SHIRJY, Clay. Jornalismo Pós-Industrial: adaptação aos novos tempos. Escola de Jornalismo da Universidade Columbia: Tow Center for Digital Journalism. Revista Jornalismo ESPM. Abril, maio, junho de 2013: p. 30-89.
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Editora Contexto, 2005.
TÚLIO COSTA, Caio. Um Modelo de Negócio para o Jornalismo Digital: como os jornais devem abraçar a tecnologia, as redes sociais e os serviços de valor adicionado. Site Caio Tulio. Disponível em: http://caiotulio.com.br/2014/04/um-modelo-de-negocio-para-o-jornalismo-digital/
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Gustavo Torniero é estudante de Jornalismo