Depois de participar do Congresso Mundial de Mobilidade (Mobile World Congress 2011) em Barcelona, semana passada, tenho dois sentimentos contraditórios. De um lado, entusiasmo diante do futuro da comunicação móvel. De outro, alguma preocupação diante do que podem fazer as operadoras.
Comecemos pela preocupação. Para muitos especialistas, o grande salto da comunicação sem fio nos próximos cinco anos será, sem dúvida, a explosão mundial do uso do tablet e de outros dispositivos pessoais. Essa previsão nada tem de ficção, mas decorre de simples extrapolação tecnológica. O que me pergunto é se as empresas operadoras brasileiras têm consciência do desafio que terão pela frente e já se preparam para enfrentar o aumento brutal da demanda de banda larga nos próximos cinco anos?
Do lado da indústria, há otimismo diante de alguns avanços tecnológicos notáveis anunciados neste evento de Barcelona. Entre eles, estão as velocidades crescentes de acesso da tecnologia de quarta geração (4G) do celular, denominada Evolução de Longo Prazo (Long Term Evolution ou LTE).
Há uma verdadeira corrida rumo à quarta geração (4G), em especial entre empresas como a Nokia Siemens Networks (joint venture germano-finlandesa), a Ericsson sueca e a operadora japonesa NTT DoCoMo, cujas tecnologias de acesso sem fio estão quebrando a barreira dos 500 Megabits por segundo (Mbps) de download e se aproximando de velocidades impensáveis no passado, da ordem 1 Gigabit por segundo (Gbps).
Miniaturização
Além desse avanço, diversas empresas disputam a corrida na miniaturização dos equipamentos das centrais radiobase (ERBs) e alcançam resultados surpreendentes.
Nessa direção, o avanço de maior impacto foi o da franco-americana Alcatel-Lucent, que anunciou o desenvolvimento de dois minúsculos componentes capazes de substituir totalmente as torres e antenas das atuais estações radiobase (ERBs).
Desenvolvido pelos Laboratórios Bell, em conjunto com grandes operadoras mundiais, e designado comercialmente de LightRadio, o novo sistema, compõe-se de dois pequenos módulos menores do que um maço de cigarros, com a ambiciosa proposta de substituir toda a infraestrutura de torres e antenas das ERBs.
Um dos módulos, chamado simplesmente de ‘cubo’, pesa apenas 300 gramas. Essas duas peças, no entanto, são capazes de transmitir em qualquer frequência situada nas faixas de 400 MHz a 4 GHz e operar em padrões de 2G, 3G e 4G simultaneamente.
Para Wim Sweldens, presidente da Divisão de Comunicação Sem Fio (Wireless) da Alcatel-Lucent, o impacto da nova tecnologia nas comunicações móveis poderá ser enorme: ‘Com a implantação do LightRadio, teremos muito maior disponibilidade de banda larga nas cidades e seus arredores, melhor cobertura, melhor qualidade e redução de custos. E tudo isso deverá ocorrer numa época em que, para centenas de milhões de usuários em todo o mundo, os tablets deverão dominar a comunicação móvel pessoal e tornar-se verdadeiras janelas abertas para a imensa nuvem da web’.
Um sistema de dimensões tão pequenas como o LightRadio poderá reduzir radicalmente as emissões de carbono das ERBs, que, em seu conjunto, correspondem hoje às de uma frota de 15 milhões de automóveis.
Além dessa vantagem, o ‘cubo’ da Alcatel-Lucent deverá contribuir decisivamente para a redução dos investimentos e dos custos operacionais, bem como para ampliar significativamente a área de cobertura das novas ERBs.
Copa e Olimpíada
Vejamos o caso brasileiro. Dois eventos relevantes precisam ser considerados. O primeiro deles será a Copa do Mundo de 2014, quando no mínimo 3 milhões de brasileiros e visitantes estrangeiros vão querer assistir a alguns jogos em seus tablets. Dois anos depois virão os Jogos Olímpicos de 2016, para criar demanda ainda maior, agora para 15 ou 20 milhões de usuários de tablets potencialmente interessados em ver as imagens ao vivo das provas olímpicas.
Nos próximos cinco anos, a demanda de banda larga no País deverá ser no mínimo 10 vezes superior à atual. A maioria dos brasileiros estará vivendo em seu dia a dia as vantagens da computação móvel, do comércio móvel (m-comm), da videoconferência, da TV móvel e de um incontável número de aplicações da internet de banda larga móvel.
O tablet poderá produzir uma nova revolução na comunicação pessoal. Em sua tela, leremos jornais, revistas e livros. Veremos programas de TV aberta ou por assinatura, filmes, shows e transmissões esportivas ao vivo ou gravadas. Poderemos fazer muito mais coisas do que já fazemos com os smartphones. Descobriremos novas opções de conteúdo, com a IPTV e a TV conectada.
Ele será nossa nova opção de cartão de crédito, de prontuário médico, de carteira eletrônica, de mobile-banking, de biblioteca virtual, de servidor portátil de todos os conteúdos que nos possam interessar, a qualquer momento, em qualquer lugar.
Não se surpreendam se, em 2016, mais de 50 ou 60 milhões de brasileiros estiverem usando tablets, que já serão dispositivos híbridos, com as funções de e-readers e smartphones. E graças às novas tecnologias de displays, como a da tinta eletrônica (e-ink ou e-paper), suas telas permitirão perfeita visibilidade até à luz do sol.
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Jornalista