Responda rápido: quem inventou o rádio? Se você respondeu Guglielmo Marconi, errou, mas compreensivelmente está sendo coerente com o que aprendeu nas escolas de ensino básico (e até superior) do Brasil. Afinal, faz mais de um século que nossas escolas e nossos mestres ensinam nossas crianças, em todos os rincões do território brasileiro, que foi o italiano Marconi quem inventou o rádio.
Essa é uma das maiores aberrações culturais e históricas de nosso País, que relegou ao esquecimento completo, em termos oficiais, um de seus mais ilustres filhos, Roberto Landell de Moura, gênio da Física e que foi o primeiro homem a conseguir a façanha de transmitir o som por meio de ondas eletromagnéticas. E o fez antes de Marconi, do croata naturalizado norteamericano Nikola Tesla e do canadense Reginald Aubrey Fessenden, todos, aliás, seus contemporâneos e aos quais também se atribui esse mérito.
Do mesmo modo que Santos Dumont é o pai da aviação, Landell de Moura é, de fato e de direito, o pai das telecomunicações. A diferença é que o primeiro foi reconhecido pela Pátria e o outro, relegado ao mais obscuro ostracismo.
Fibras ópticas
Gaúcho de nascimento, Padre Landell, como era conhecido, patenteou seu invento no Brasil em março de 1901, poucos meses após uma demonstração pública, realizada na cidade de São Paulo, entre a mais tradicional de suas avenidas, a Paulista, e o Morro de Santana, no dia 3 de junho de 1900. O fato foi publicado, como era comum naquele tempo, uma semana depois pelo Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, no dia 10 de junho de 1900. Ele, porém, já havia feito pelo menos outra transmissão documentada antes dessa, no mesmo local, em 16 de julho de 1899. O fato, um ‘furo’ de reportagem, foi divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo, que, no entanto, embora tenha revelado a data da realização da experiência não cobriu o evento, como também era comum na época. É desse dia, portanto, 16 de julho de 1899, nascida da genialidade e criatividade de nosso padrecientista, a primeira transmissão pública da voz humana por ondas eletromagnéticas de que se tem conhecimento no mundo.
Isso foi antes do feito atribuído a Marconi, que inventou o telégrafo sem fio em 1894, mas só conseguiu transmitir a voz humana em 1914. E antes também da experiência do canadense Fessenden, datada de 23 de dezembro também de 1900.
Até mesmo a mídia estrangeira o reconheceu, caso do diário americano New York Herald, que, em sua edição de 12 de outubro de 1902, publicou ampla reportagem sobre as experiências com transmissão de voz, citando Landell de Moura e suas várias demonstrações públicas da tecnologia em território brasileiro, entre 1900 e 1901.
Injustiçado no Brasil, mesmo após ter demonstrado seu invento e o patenteado, Landell de Moura partiu para os Estados Unidos. Ali, onde morou por três anos, obteve, em 1904, três outras patentes para seus aparelhos wave transmitter (transmissor de ondas), wireless telephone (telefone sem fio) e wireless telegraph (telégrafo sem fio).
Mas nem isso o ajudou quando do seu regresso ao País. Incompreendido, foi taxado de maluco e de ter pacto com o demônio. Historicamente, o Brasil entrou na era do rádio com importação de tecnologia. Na verdade, o padre-cientista não foi apenas o inventor do rádio, mas sim um pioneiro das telecomunicações. Ele também projetou a tevê, o teletipo e o controle remoto por rádio e anteviu que as ondas curtas poderiam aumentar a distância das transmissões. Tudo isso antes de outros cientistas. A tevê, por exemplo, ele projetou em 1904, época em que não existia nem o rádio. A invenção oficial da tevê pelo escocês John Baird é de 1926. Além disso, ele se utilizou também da luz para transmitir mensagens, o que é o princípio das fibras ópticas.
Momento virtuoso
No desenvolvimento das comunicações, passou-se da era com fio para a sem fio. Samuel Morse inventou o telégrafo com fio (1837) e Graham Bell o telefone com fio (1876). Depois, chegou a vez das comunicações sem fio: Marconi inventou o telégrafo sem fio (1894), mas não foi o primeiro a transmitir a voz humana sem fio (radiotelefonia). Mesmo tendo Landell e Fessenden transmitido a voz humana sem fio antes de Marconi, este levou a fama de ‘inventor do rádio’. Por quê isso? Não há explicações plausíveis.
Tendo esse cenário como pano de fundo, este Jornalistas&Cia, embora ciente de suas limitações, mas também de sua missão, decidiu engajar-se de corpo e alma ao MLM – Movimento Landell de Moura pelo reconhecimento público e oficial, no Brasil, de Roberto Landell de Moura como inventor do rádio. O objetivo é atingir, nesses próximos 12 meses que antecedem o sesquicentenário de seu nascimento (a ser comemorado em 21/1/2011), 1 milhão de assinaturas e, desse modo, induzir as autoridades e a sociedade brasileiras a corrigir um erro histórico inconcebível.
Conclamamos, assim, todos os veículos de comunicação do País, todas as instituições públicas e privadas, sobretudo do âmbito da comunicação, e todas as pessoas que amam o Brasil e sua história a se engajarem nesse movimento, que, mais do que cívico, é por justiça para com um de seus filhos mais ilustres.
Uma nação que luta para elevar sua autoestima e que vive um momento especialmente virtuoso nos campos econômico, social e internacional não pode se negar a abraçar uma causa que há de trazer para a história e para os bancos escolares a grandeza e a genialidade de Roberto Landell de Moura. [São Paulo, 20 de janeiro de 2010]
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Começam as celebrações pelo sesquicentenário de nascimento de Roberto Landell de Moura
Na quinta-feira, 21 de janeiro de 2010, completaram-se 149 do nascimento, em Porto Alegre, de Roberto Landell de Moura. Em razão disso, J&Cia deu início às celebrações pelo sesquicentenário de seu nascimento criando uma seção permanente, que estará no informativo ao longo das próximas 52 edições, sob a batuta do jornalista e escritor Hamilton Almeida, um dos mais dedicados e apaixonados pesquisadores da vida e da obra de Padre Landell.
O objetivo desse projeto é levar aos jornalistas e demais profissionais de comunicação do Brasil informações relevantes e farta documentação sobre a saga do padre-cientista e, desse modo, estimular ações conjuntas que contribuam para o resgate de sua memória em nosso País.
Nesse espaço, Hamilton vai contar feitos do cientista, mostrar um pouco da história das telecomunicações e de seus personagens, aspectos inéditos das peregrinações que fez por várias partes do Brasil e também do exterior atrás de documentos e informações, o movimento que ajudou a criar e a encabeçar o MLM (Movimento Landell de Moura) para exigir o reconhecimento oficial do cientista e de seus inventos, acontecimentos curiosos nessa trajetória de um século de ostracismo de Landell de Moura, documentos que comprovam suas história e trajetória, entre outros aspectos.
Hamilton Almeida formou-se em Jornalismo em 1977 pela Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo, onde, em 1976, numa aula da cadeira de Rádio, tomou pela primeira vez contato com a história de Roberto Landell de Moura. Ironia do destino, o professor que fez essa revelação, rindo muito da ignorância de seus alunos, foi o chileno Júlio Zapata. Entre fascinado pela descoberta e motivado pela quase descompostura que Zapata passou nos alunos, Hamilton, tão logo teve condições, pôs-se a campo, iniciando a pesquisa, e nunca mais parou. Desde então escreveu quatro livros sobre o personagem: O outro lado das telecomunicações – A saga do Padre Landell (Editora Sulina, 1983); Landell de Moura (Editora Tchê/RBS, 1984); Pater und Wissenschaftler (Debras Verlag, Alemanha, 2004); e Padre Landell de Moura: um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo… (Editora Record, 2006).
O abaixo-assinado
Interessados em aderir ao MLM e ao abaixo-assinado que o integra podem fazê-lo acessando esta página.
O documento pleiteia que as autoridades do governo brasileiro reconheçam Roberto Landell de Moura como Pai das Telecomunicações e que as suas invenções sejam incluídas no currículo escolar obrigatório.
Para mais informações e esclarecimentos, o contato de Hamilton é hamilton_xxi@yahoo.com. No MLM ele tem a companhia de Alda Niemeyer (aldas@terra.com.br), Daniel Figueredo (pu6zaa@qtcbrasileiro.qsl.br) e Luiz Netto (bvalumbrosius@yahoo.com.br).