Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O grande paradoxo das redes sociais virtuais

Existe uma contradição inerente ao uso de mídias digitais. Essa afirmação comprova-se, principalmente, quando a ligamos aos smartphones. Ninguém usaria o celular por tanto tempo se não acreditasse de verdade nos benefícios dele. Poupar tempo, ser mais produtivo e ter acesso à informação em qualquer lugar – anyplace, anytime – são alguns dos aspectos positivos citados, geralmente.

Ao mesmo tempo, é cada vez mais comum ouvir relatos, quando estes são sinceros, de donos de smartphones que se sentem frustrados com o tempo empreendido nas redes sociais ou em outros aplicativos inúteis. Na tentativa de controlar sua rotina (e imagem), o indivíduo, em sua contemporaneidade, é cada vez mais vulnerável.

As novas amizades

Desde 2007, com o lançamento do primeiro aparelho celular com um sistema operacional próprio totalmente touch-screen (o primeiro iPhone da Apple), os hábitos mudaram. E mudam-se os hábitos, sabe-se, mudam-se as pessoas.

Jacob Weisberg, em artigo na New York Review of Books, fez a crítica de alguns livros que tratam da grande temática digital media pensando em um viés sociológico. Um dos livros, de Sherry Turkle, trata de aspectos especialmente intrigantes. A psicóloga e socióloga do MIT (Massachusetts Institute of Technology) analisou a possibilidade de um novo tipo de comunicação estar surgindo com as novas tecnologias.

As amizades nesse cenário, por exemplo, mudaram. Hoje “a arte da amizade”, diz Turkle, virou a arte de saber dividir a atenção de alguém constantemente – com o smartphone, por exemplo. Quem nunca passou por uma situação parecida, de encontrar-se falando consigo mesmo, que atire a primeira pedra – ou dê unfollow.

A falsa aproximação

É a possibilidade de repensar um ato que faz com que, normalmente, um indivíduo não repita um erro. Para alcançar esse tipo de reflexão, porém, é preciso estar sozinho. Não é uma regra, mas é sozinho que o sujeito consegue ponderar sua existência individual e, respectivamente, perceber a independência daqueles que o cercam. As relações através das redes sociais impossibilitam, de certa forma, que tudo isso aconteça.

O termo fight over text – que significa mais ou menos “briga por mensagem de texto” – é extremamente ilustrativo para pensar esse aspecto. Um exemplo usado por Turkle: Adam teve uma discussão séria com sua namorada. Ou melhor, teve uma fight over text. Em uma situação onde ele seria tomado por um surto de pânico, Adam resolve mandar – e esse é o exemplo que a autora dá – uma foto de seu próprio pé (risos?) para a namorada. Isso alivia a situação e tudo acaba bem.

Essa possibilidade de esconder vulnerabilidades explica, de certa forma, o crescimento de aplicativos como o Snapchat (e suas mensagens “fantasmas”) e o Instagram. Nessas redes sociais, o Adam de Turkle é sempre o Adam que quer ser. Não é por um acaso que o Facetime, aplicativo da Apple onde os envolvidos conversam por vídeo, não deu tão certo quanto o esperado.

Fomo e a realidade dos social media

As mídias digitais e as redes sociais estão movimentando uma quantidade cada vez maior de pesquisas em torno de suas problemáticas. Termos como Fomo (Fear Of Missing Out – algo equivalente a “medo de perder algo”) estão tentando explicar o que está por trás do desenvolvimento de aplicativos e dispositivos.

Em Stanford, por exemplo, foi criado o Persuasive Technology Lab (Laboratório de Tecnologia da Persuasão). São estudados nesse centro, por exemplo, os mecanismos que causam essa espécie de dependência por parte do usuário das redes sociais. Os resultados desses estudos acabam gerando mais aplicativos de persistent routine (rotina persistente, quase um pleonasmo ) ou behavioral loop ( comprtamento repetitivo) , que integram-se à nossa rotina e, na maioria dos casos, não são produtivos – e sim, distrativos.

O Instagram talvez venha a ser o melhor exemplo, definido como um produto habit-forming (ou criador de hábito). É comum conhecer pessoas que, ao acordar, assumem abrir o aplicativo antes mesmo de sair da cama. Isso torna-se, em curto e médio prazo, o equivalente a despertar toda manhã e puxar a alavanca de uma máquina de apostas em um cassino.

Essa incapacidade de controlar os próprios hábitos implica geralmente na falta de capacidade de controlar as próprias emoções. E são esses indivíduos que tentam, com o uso das redes sociais, apropriar-se de uma imagem idealizada e controlar (ou contrariar) os atos do próximo.

Existem maneiras de tentar mudar isso. Deixar o smartphone longe da mesa enquanto faz uma refeição ou sair de casa sem o celular no bolso, por exemplo. Mas a melhor e mais valiosa dica é de Sherry Turkle: leia (ou releia) Walden, de Henry David Thoreau.

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Vinicius Pereira Colares é jornalista